Arguido pede desculpa à PJ por usar nome da instituição em assaltos na zona Norte

Grupo, constituído por seis arguidos, está acusado de assaltar vários empresários assumindo ser inspetores da PJ, com coletes, crachás e cartões falsos.

15 de setembro de 2025 às 20:13
PJ Foto: Sérgio Lemos
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Um dos arguidos do grupo de seis elementos que se fazia passar por inspetores da Polícia Judiciária (PJ) para assaltar empresários da região Norte pediu esta segunda-feira desculpa às vítimas e a esta força de investigação criminal.

"Quero pedir desculpa a todas as vítimas que prejudiquei. Quero também pedir desculpa à instituição Polícia Judiciária, por ter usado o seu bom nome e o seu bom trabalho para cometer factos ilícitos", afirmou o arguido, na primeira sessão do julgamento, que decorre no Tribunal Criminal de Guimarães, distrito de Braga.

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O grupo, constituído por seis arguidos, três em prisão preventiva, está acusado de assaltar vários empresários na região Norte, assumindo ser inspetores da PJ, com coletes, crachás e cartões falsos desta força de investigação policial, e munidos de falsos mandados de buscas.

As vítimas, acreditando tratar-se de operações policiais legais, deixavam os arguidos entrarem nas residências para as supostas buscas, durante as quais se apoderaram de dinheiro e bens, nomeadamente joias e relógios, avaliados em mais de 430 mil euros.

O coletivo de juízes separou do processo um dos arguidos, que se encontra em França a aguardar decisão sobre a extradição para Portugal, ficando o julgamento com cinco arguidos.

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Perante o tribunal, o arguido confessou que todos os arguidos consumiam estupefacientes e alguns também tinham dependência de jogo, sublinhando que nos assaltos nunca usaram armas nem qualquer tipo de violência física.

Num dos assaltos, em 25 de junho de 2024, o arguido disse que foi o primo de um empresário têxtil de Fafe, distrito de Braga, que teve a ideia de assaltar a casa deste, que, há poucos dias, tinha supostamente arrecadado 300 mil euros sem fatura, e que, por isso, "estava carregado" de dinheiro".

O arguido referiu que o primo da vítima entregou-lhes um falso mandado de busca, numa folha A4, uns cartões "muito rudimentares" a dizer PJ, com o nome em baixo, e a morada.

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"Fomos para Fafe. Íamos agir como PJ, mas sem armas. Tudo rudimentar, arcaico. Por volta das 07:30, tocámos à campainha e uma senhora abriu a porta. Estava completamente sob o efeito de drogas para ter coragem para fazer aquilo. Disse: somos da polícia e temos um mandado de busca para efetuar buscas por denúncia anónima por fraude fiscal", relatou o arguido ao tribunal.

Na casa, os arguidos apoderaram-se de telemóveis, de artigos em ouro e joias, enquanto na fábrica, para onde se deslocaram a seguir, foi-lhes entregue perto de oito mil euros.

Os arguidos pediram também para realizar buscas ao automóvel de gama alta, tendo a vítima questionando como é que sabiam que ele tinha um Jaguar.

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"Sabe que nós fazemos a nossa investigação", respondeu um dos arguidos.

Outro dos episódios ocorreu também em julho de 2024, em Santa Maria da Feira, distrito de Aveiro, quando os arguidos foram "em busca de 1,3 milhões de euros", informação que lhes havia sido passada por um antigo funcionário de um empresário ligado ao setor da construção.

Neste assalto, já usaram "cartões mais condizentes" com a PJ, usaram coletes azuis como os da PJ, "que também tem coletes pretos", e o mandado de busca por fraude fiscal.

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"Andámos perdidos cerca de uma hora. Paramos num café, perguntamos e fomos ter ao sítio certo. Quem abriu a porta foi a funcionária e disse que o patrão estava de férias há duas semanas no Brasil. Não encontrámos nada. Trouxe um isqueiro 'Dupont', mas enganou-me. Era 'made in China'", afirmou o arguido que, mais à frente no depoimento, admitiu que trouxeram cerca de oito mil euros que estavam no escritório.

A juíza presidente questionou como é que sabia que a PJ também tem coletes pretos. "Fiquei a saber quando foram a minha casa [aquando da detenção]", respondeu o arguido.

Foi também questionado pela juíza a razão pela qual nos mandados de busca estava apenas o crime de fraude fiscal. "Fomos à Internet e colocamos: crime para dinheiro ilegal, e apareceu fraude fiscal", justificou o arguido.

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