Associações empresariais pedem menos impostos e mais investimento no Orçamento do Estado para 2026

Entre as propostas conta-se com a criação de um subsídio anual para estimular viagens internas, o desagravamento fiscal para as bebidas e o fim do congelamento das rendas.

07 de outubro de 2025 às 09:55
Assembleia da República Foto: CMTV
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As associações empresariais querem que o Orçamento do Estado para 2026 (OE2026) inclua medidas de desagravamento e simplificação fiscal, apelando ainda para mais investimento e apoio ao consumo nos setores que representam.

Entre as propostas apresentadas conta-se a criação de um subsídio anual para estimular viagens internas, o desagravamento fiscal para as bebidas, o investimento de fundos não executados do Plano de Recuperação e Resiliência (PRR) e o fim do congelamento das rendas.

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Estas são as propostas apresentadas até ao momento pelas associações empresariais para o OE2026, que deverá ser apresentado na sexta-feira:

Turismo

O Turismo quer, sobretudo, medidas que impulsionem o setor, apelando ainda para questões fiscais e relacionadas com formação.

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A Associação Portuguesa das Agências de Viagens e Turismo (APAVT) propõe que o OE2026 inclua a criação de um fundo de proteção para salvaguardar consumidores e agências em caso de falência de companhias aéreas.

Segundo o seu presidente, Pedro Costa Ferreira, este mecanismo pretende "garantir o reembolso de bilhetes não utilizados e assegurar o repatriamento de passageiros, reforçando a confiança no setor e promovendo maior segurança para todos os viajantes". Seria "financiado por contribuições obrigatórias das companhias aéreas que operam em Portugal" e gerido por "uma entidade pública".

O presidente da APAVT alertou ainda que "sem uma solução aeroportuária em Lisboa, Portugal arrisca perder competitividade face a destinos concorrentes no Mediterrâneo".

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Por fim, salientou, "o OE2026 deve apoiar a digitalização, a capacitação tecnológica e novos instrumentos financeiros, garantindo que as empresas portuguesas possam competir de forma justa num mercado global".

Já a ANAV - Associação Nacional de Agências de Viagens quer que o OE2026 crie um subsídio anual de 50 milhões de euros para estimular viagens internas, através das agências, adiantou a associação, num comunicado, em que faz dez propostas avaliadas em cerca de 146 milhões de euros.

A ANAV propõe ainda várias medidas fiscais: um "benefício fiscal de 120% em sede de IRC para investimento em software de gestão, plataformas digitais, inteligência artificial e cibersegurança", com um impacto estimado de 20 milhões de euros; uma taxa reduzida de 13% nas comissões de intermediação turística (atualmente é de 23%), com um impacto estimado de 15 milhões de euros; eliminação da dupla tributação nos transportes e atualização da tributação em outros aspetos da atividade das agências, com um impacto estimado de 10 milhões de euros por ano.

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Pede ainda uma linha anual de apoio de cinco milhões de euros para participação em feiras internacionais e promoção externa e a criação de um programa nacional de vouchers para jovens (18 a 23 anos), de 150 euros por cada um, para usar em agências registadas no registo nacional, medida com um impacto estimado de 30 milhões de euros.

A ANAV propõe também quatro milhões de euros por ano para formação certificada em turismo, legislação, sustentabilidade e tecnologias digitais e um fundo anual de três milhões de euros para apoiar certificação ambiental, compensação carbónica e campanhas de sensibilização.

Por fim, a associação pede uma linha de crédito de 50 milhões de euros, juros bonificados (spread máximo de 1,5%) e garantia mútua de 80%, bem como a isenção de TSU por dois anos para contratação de jovens licenciados ou requalificação de profissionais, esta última com um impacto de sete milhões de euros por ano.

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Bebidas, restauração e alojamento

O setor das bebidas defende medidas fiscais que reduzam a carga de impostos sobre estes produtos. A restauração e alojamento pede a dedução de 50% do IVA com despesas de alojamento e refeições.

A Associação de Vinhos e Espirituosas de Portugal (Acibev) quer que a isenção fiscal aplicada ao vinho se mantenha na proposta de OE2026 à semelhança do que tem sucedido em anos anteriores, com a diretora executiva, Ana Isabel Alves,a defender  que a comercialização de vinho, assim como a de espumantes, deve continuar isenta do Imposto sobre as Bebidas Alcoólicas e Não Alcoólicas (IABA).

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Atualmente, aplica-se à venda de vinho uma taxa de IVA de 13%, e à venda de espumantes uma taxa de IVA de 23%.

No caso das bebidas espirituosas, como as aguardentes, vinho do Porto, vinho Madeira e vinho moscatel, Ana Isabel Alves defende que as atuais taxas de imposto também não devem ser agravadas em 2026.

A diretora executiva da Acibev defendeu ainda a redução da carga fiscal sobre todas as empresas, incluindo as do setor das bebidas, ao nível do Imposto sobre o Rendimento das Empresas Coletivas (IRC) e das derramas municipais e estaduais.

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A Associação da Hotelaria, Restauração e Similares de Portugal (Ahresp) defende, por seu turno, que os refrigerantes e as bebidas alcoólicas devem beneficiar da taxa intermédia do IVA (Imposto sobre o Valor Acrescentado), tornando, assim, esta medida transversal a todas as bebidas.

Por outro lado, quer a dedução de 50% do IVA com despesas de alojamento e refeições, "incorridas por sujeitos passivos de IRC e por sujeitos passivos de IRS com contabilidade organizada, independentemente da sua finalidade".

A isto soma-se a dedução de 100% do IVA nas despesas de refeições e alojamento que dizem respeito à organização de eventos.

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A Ahresp pede ainda que não seja aplicada a contribuição sobre embalagens de utilização única nos regimes de 'drive thru', uma vez que o cliente compra o produto sem sair do carro, e no 'delivery', tendo em conta que o pedido é feito remotamente e entregue por estafetas.

Para a associação, a taxa de IRC deve ainda ser revista em baixa, de modo a garantir o aumento da competitividade das empresas portuguesas face ao estrangeiro, apontou.

O mesmo deve acontecer com os escalões de tributação em IRS, "de modo a corresponderem à recente revisão em baixa das tabelas de retenção a fonte".

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Entre as 30 medidas propostas pela associação estão igualmente benefícios fiscais para o investimento, a revisão em baixa das tributações autónomas e o aumento do limite máximo do volume de negócios anual para efeitos de isenção de IVA de 15.000 para 50.000 euros.

Para combater a crise habitacional, a Ahresp propõe a redução da tributação sobre rendimentos prediais, que atualmente está em 25%, a isenção de IRS e TSU (Taxa Social Única) no apoio às rendas para habitação de trabalhadores e ainda benefícios fiscais na construção de habitação para trabalhadores.

A associação da hotelaria e restauração quer também que seja implementado um sistema de conta-corrente entre os contribuintes singulares e empresas e a Segurança Social, de modo a permitir que os créditos sejam utilizados para liquidar dívidas a este instituto.

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Em matéria de capitalização de empresas, a Ahresp exige apoios aos empresários em nome individual para a constituição de uma sociedade comercial e instrumentos de apoio, lembrando que os disponibilizados pelo Banco de Fomento não beneficiaram as micro e pequenas empresas.

Distribuição

Para a distribuição, as prioridades do OE2026 passam pelo alívio e simplificação fiscal.

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A Associação Portuguesa de Empresas de Distribuição (APED) quer discutir, "com seriedade, os efeitos da Taxa de Segurança Alimentar Mais" (TSAM), cobradas às retalhistas e que "rendeu ao Estado milhões de euros".

Estes montantes, segundo a distribuição, devem ser destinados à capacitação destes agentes em matéria de segurança alimentar.

A APED espera ainda que o Governo avance com a simplificação fiscal e administrativa e que admita a inclusão de novas medidas, nomeadamente, para facilitar as obrigações fiscais.

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Por outro lado, pede que seja retomado o tema da regulação das comissões aplicadas na aceitação de cartões/vales de refeição, exigindo a definição do preço máximo total a ser cobrado, pela aceitação destes cartões e vales, aos comerciantes.

A distribuição quer ainda a adoção de uma taxa reduzida de IVA (Imposto sobre o Valor Acrescentado) de 6% aos serviços de reparação de equipamentos elétricos, eletrónicos e às peças utilizadas nas reparações.

Por último, pede que seja excluído "o valor das doações do lucro tributável para efeitos de IRC e de outros impostos", que seja clarificado o conceito de redistribuição a pessoas carenciadas para efeitos de aplicação do código do IVA e que sejam reavaliados os limites associados ao volume anual de vendas que condicionam a majoração, em sede de IRC, dos custos com donativos.

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Indústria metalúrgica e metalomecânica

A indústria metalúrgica e metalomecânica acredita que o OE2026 deve incluir medidas para aproveitar verbas não executadas do Plano de Recuperação e Resiliência (PRR).

À Lusa, o vice-presidente executivo da Associação dos Industriais Metalúrgicos, Metalomecânicos e Afins de Portugal, Rafael Campos Pereira, defendeu ainda a simplificação e agilização das normas e processos referentes ao licenciamento industrial e apontou o novo papel e instrumentos de ação anunciados do Banco de Fomento, afirmando ser "importante que cheguem de forma rápida e ágil às empresas".

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Por sua vez, a Associação Portuguesa do Alumínio (APAL) reivindica incentivos à indústria da reciclagem do alumínio e medidas que promovam esta prática.

A APAL pede ainda formação profissional para os trabalhadores desta indústria e um "plano energético integrado aplicável a todas as empresas associadas", disse à Lusa.

Automóvel

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Alterações fiscais e incentivos ao abate são algumas das principais medidas que várias associações do setor automóvel gostariam de ver incluídas no OE2026.

Num levantamento da Lusa, a Associação Automóvel de Portugal (ACAP) pediu uma revisão da reforma fiscal de 2007 e propõe a transferência progressiva do imposto sobre a aquisição (ISV) para o imposto de circulação (IUC), "até à extinção total do ISV" no final de 2030.

No cálculo destes impostos, a ACAP sugere ainda a alteração da base tributável, "reduzindo o peso da cilindrada e aumentando o peso" das emissões de dióxido de carbono (CO2). A associação pediu ainda uma redução de 10% nas taxas de tributação autónoma no próximo ano.

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A posição foi defendida, também, pela Associação Nacional das Empresas do Comércio e da Reparação Automóvel (ANECRA), que sugeriu "uma revisão global dos principais impostos" que incidem sobre o setor: IUC, ISV, IVA e imposto sobre os produtos petrolíferos (ISP).

A ANECRA alertou ainda para o peso que a proposta de pagamento do IUC para 2026 poderá ter para os revendedores automóveis, dizendo que a concentração em um ou dois meses específicos (fevereiro ou fevereiro e outubro) "obrigará os revendedores a um esforço financeiro adicional que terá efeitos diretos na liquidez das empresas".

A nível de fiscalidade, a Associação Nacional do Ramo Automóvel (ARAN) sugeriu a redução do ISV, o aumento da percentagem de dedução em sede de IRS do IVA suportado com despesas de manutenção e reparação de veículos e a exclusão, em sede de tributação autónoma, dos encargos suportados pelas empresas com manutenção e reparação de automóveis.

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Além de defender um registo profissional de revendedores de automóveis, a ARAN pediu incentivos para a renovação do parque automóvel, uma posição partilhada com ANECRA e ACAP.

Em comum, as três apontam ainda a necessidade de um incentivo ao abate para fazer face à idade média de 14 anos do parque automóvel português - "um dos mais envelhecidos da Europa".

A proposta da ACAP prevê um novo programa com critérios claros para incluir, numa primeira fase, ligeiros elétricos ou eletrificados com primeira matrícula em Portugal e adquiridos através de qualquer forma de financiamento e, numa segunda, veículos a combustão matriculados em Portugal há mais de 10 anos, podendo chegar aos 5.000 euros no caso de viaturas 100% elétricas.

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Por sua vez, a AFIA - Associação de Fabricantes para a Indústria Automóvel defendeu que o foco do OE2026 de ser na competitividade.

À Lusa, a associação assinalou que deve haver um estímulo ao investimento para a modernização e para corresponder às necessidades ambientais, mas também para que apoiem os processos de capitalização.

Habitação

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Os proprietários de casas pedem medidas fiscais e de apoio aos inquilinos carenciados, assim como o fim do congelamento das rendas e isenção de IRS no arrendamento.

A Associação Lisbonense de Proprietários (ALP), num documento enviado ao Governo e aos deputados da Assembleia da República, apresentou um pacote de 10 medidas para integrar no OE2026.

Entre as medidas propostas pela ALP, destaque para a extinção imediata do Adicional ao Imposto Municipal sobre Imóveis (AIMI), bem como o fim do congelamento das rendas.

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Apoios diretos aos inquilinos carenciados - mas "não via senhorios", de forma a "simplificar e garantir eficácia social" - é outra das propostas da ALP, assim como a isenção de IRS no arrendamento a estudantes, uma medida apresentada como "resposta urgente ao défice de 50.000 camas no ensino superior".

Ainda defendida pela associação é a necessidade de "mais justiça fiscal", nomeadamente através do alargamento do mínimo de existência e benefícios a senhorios com baixos rendimentos e incapacidade atestada, da possibilidade de dedução de despesas essenciais no IRS e da isenção de Imposto de Selo dos novos contratos de arrendamento e da primeira habitação.

Grandes Empresas

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As grandes empresas portuguesas pedem medidas de alteração ao nível do IRC e do IRS.

A Associação Business Roundtable Portugal (BRP), que conta com 43 associados, dirigiu uma carta aberta ao Governo e à Assembleia da República, com 142 signatários, a defender a eliminação dos primeiros cinco escalões do IRS e o fim da derrama no IRC sobre as grandes empresas.

Neste momento, os cinco primeiros patamares abrangem os rendimentos coletáveis até 28.400 euros anuais.

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Em relação ao IRC, os empresários defendem "acabar com o sistema progressivo" que condena o país "a ter menos 41% de grandes empresas do que a média da UE", defendendo a eliminação da derrama estadual.

Na justiça, a BRP defende que seja decidido para o contencioso administrativo e fiscal o que foi aplicado na "justiça cível e comercial na última década e que leva menos de um terço do tempo dos tribunais fiscais e administrativos".

Quanto ao setor energético, traça como objetivo Portugal "liderar em renováveis e tecnologias de baixo carbono" para permitir "a reindustrialização de Portugal e da Europa".

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