Diretor do SNS afasta relação entre fecho de urgências e morte de dois bebés
Álvaro Almeida foi ouvido em comissão parlamentar de Saúde requerida pelo Chega.
O diretor executivo do SNS, Álvaro Almeida, assegurou esta quarta-feira não haver qualquer relação entre o encerramento de urgências obstétricas e o "desfecho fatídico" de duas grávidas que perderam os bebés.
Álvaro Almeida respondia a questões levantadas pelo deputado do Chega Rui Cristina na comissão parlamentar de Saúde sobre os casos ocorridos em junho e julho de uma grávida de 38 anos que foi encaminhada do Barreiro para o Hospital de Cascais, onde o feto já chegou sem vida, e de uma mulher de 37 anos que perdeu o bebé depois de ter sido assistida em cinco hospitais.
No início da audição, requerida pelo Chega, Rui Cristina considerou que as ruturas nas urgências obstétricas são "deveras preocupantes" e que a morte dos dois bebés "expõem falhas múltiplas e recorrentes", resultado de "anos de desinvestimento no SNS", questionando o diretor executivo sobre que "medidas concretas" tomou para entender o que levou a estas falhas.
"Quantos mais casos trágicos têm de acontecer para reconhecer que esta rede de referenciação hospitalar é completamente inadequada", questionou ainda o deputado.
Em resposta, o diretor executivo do SNS afirmou que "não há nenhuma relação entre o encerramento de urgências" e a morte dos dois bebés, mas reconheceu que "todos estes acontecimentos são infelizes e lamentáveis".
No requerimento, o Chega relata o caso de uma grávida de 31 semanas, do Barreiro, com antecedentes de descolamento da placenta, que perdeu o bebé após "um calvário de quatro horas à procura de atendimento médico" numa altura em que "todas as urgências obstétricas da Margem Sul estavam encerradas", tendo os bombeiros sido obrigados a percorrer mais de uma hora até ao Hospital de Cascais.
"Este caso soma-se ao de uma outra mulher de 37 anos que perdeu igualmente o seu bebé após ter sido atendida em cinco hospitais diferentes, incluindo as três urgências da margem Sul", refere o Chega, sublinhando que "estas duas vidas poderiam ter sido salvas se o SNS não estivesse neste estado lastimável".
Álvaro Almeida refutou estas críticas, afirmando que apresentam um "conjunto de incorreções factuais".
No caso da grávida de 31 semanas, o diretor executivo explicou que o Hospital de Setúbal estava a funcionar e que a grávida não foi transferida para lá porque "precisava de apoio perinatal diferenciado", que não existe em Setúbal e no Barreiro.
Explicou que o hospital mais próximo da área de residência da grávida que garantia estes cuidados era o Garcia de Orta, em Almada, que estava fechado.
"Não estando Almada disponível, foi para Cascais", disse, defendendo que o "tempo que demora, sobretudo durante a madrugada, transportar do Barreiro para Almada ou do Barreiro para Cascais" será de cerca de dez ou 15 minutos adicionais.
Álvaro Almeida vincou que durante o transporte, a grávida foi "devidamente acompanhada" por uma equipa da Viatura de Emergência Médica e Reanimação do INEM, considerando que não foi por causa do transporte que ocorreu a morte do bebé.
"É altamente improvável que fossem os 10 ou 15 minutos de transporte adicional, acompanhado por médico, a causa deste desfecho", sustentou.
Relativamente ao segundo caso, Álvaro Almeida afirmou que a grávida foi atendida "em todos os hospitais a que foi, como deveria ser".
"Mais uma vez aqui também não há nenhuma relação entre o encerramento de urgências e o desfecho fatídico", defendeu.
"No primeiro caso, não sabemos se naqueles 10 minutos fizeram a diferença ou não. É altamente improvável, mas não sabemos. No segundo, temos a certeza que não foi por causa de encerramento de urgências", rematou.
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