João Leão admite perdas para obrigacionistas na TAP
Em causa poderá estar um corte aos detentores de 750 milhões de euros em dívida da TAP.
O ministro das Finanças, João Leão, admitiu ontem perdas para os obrigacionistas da TAP no âmbito do plano de reestruturação da companhia aérea ,que está a ser analisado por Bruxelas. Em entrevista à Reuters, o governante afirmou que, “até agora, não está previsto” um ‘haircut’ aos detentores de 750 milhões de euros em obrigações, “mas é uma discussão que temos de ter com a Comissão Europeia”.
“As negociações formais com a Comissão Europeia começaram este mês e o Governo espera que no primeiro trimestre que o plano seja aprovado”, isto é até março, revelou Leão, sublinhando que “a principal preocupação do plano é tornar a empresa sustentável”.
O titular da pasta das Finanças anunciou ainda que o Executivo está a analisar um reforço, ainda que temporário, da posição acionista do Estado na TAP para cerca de 90%. “Estamos a propor que grande parte do empréstimo [de 1200 milhões de euros] seja convertido em capital para que os indicadores financeiros da empresa melhorem”, esclareceu Leão. Contudo, o ministro ressalvou que “é importante que a empresa viva sozinha para que o mais rápido possível, se possível a partir do próximo ano ou mais tarde, a empresa deixe de ter de ser financiada pelo Estado”. O objetivo é, no futuro, estabelecer parcerias com outras companhias e reduzir a posição pública na transportadora. Um dos parceiros mais desejados é a germânica Lufhtansa, que já tinha estudado a compra de uma participação na TAP, quando David Neeleman era acionista, um interesse que acabou por ser interrompido pela pandemia. Ambas as companhias fazem parte da Star Alliance, o que poderá impulsionar ainda mais uma eventual união.
Se a Comissão Europeia rejeitar o plano de reestruturação do Governo português, a TAP terá de reembolsar imediatamente o empréstimo de resgate de 1200 milhões de euros, o que poderia levar à sua insolvência.
O plano de reestruturação, a ser aprovado pela Comissão Europeia, prevê o despedimento de 2000 trabalhadores (500 pilotos, 750 tripulantes de cabine e 750 de pessoal de terra) e cortes salariais de 25% acima dos 900 euros.
Custos até 3,72 mil milhões
No pior dos cenários, a TAP poderá custar aos contribuintes até 3725 milhões de euros nos próximos quatro anos, contando já com os 1200 milhões que o Estado emprestou à empresa em 2020. Este ano, a TAP vai precisar de 970 milhões (cenário mais favorável), acima dos 500 milhões inscritos no OE.
A administração da TAP arrancou ontem nova ronda negocial com os sindicatos, segundo um comunicado enviado aos trabalhadores. O documento refere que está prestes a ser publicada em Diário da República a declaração da empresa em situação económica difícil, condição essencial para suspender os acordos de empresa e realizar os cortes previstos no plano de reestruturação.
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