José Niza morre aos 73 anos
O compositor e ex-deputado José Niza morreu na noite desta quinta-feira aos 73 anos, devido a uma paragem cardio-respiratória.
Médico, compositor e político, José Niza nasceu em Lisboa a 16 de Setembro de 1938, apesar dos seus pais morarem em Portalegre, onde haveria de viver antes de mudar para Santarém. Estudou Medicina em Coimbra, cidade onde fundou, em 1961, a Orquestra Ligeira do Orfeão Académico, com José Cid, Proença de Carvalho, Joaquim Caixeiro e Rui Ressurreição.
Foi deputado em várias legislaturas e colaborou em diversas iniciativas e diplomas legislativos como o Código dos Direitos de Autor e Direitos Conexos, Lei de Protecção da Música Portuguesa, Redução do Imposto sobre Importação de Instrumentos musicais, entre outras.
Ganhou quatro festivais RTP da Canção e foi responsável pela produção da editora Arnaldo Trindade, Lda. (Discos Orfeu).
Entre as mais famosas das canções que compôs conta-se ‘E depois do Adeus' interpretada por Paulo Carvalho.
O presidente da Câmara de Santarém já confessou a "sensação de perda muito grande" com a morte de Niza, com quem tinha uma amizade "de há muitos anos", iniciada em Lisboa e reencontrada em Santarém depois de assumir os destinos da autarquia, sublinhando que, apesar das diferenças políticas, nunca houve qualquer "rivalidade política" entre ambos.
"Era um homem que admirava muito, por quem tinha uma grande amizade, um homem fraterno e humilde. Tinha tanto de genial como de humilde. É uma sensação de perda muito grande".
“É uma figura incontornável da música portuguesa, à qual trouxe modernidade", disse à Lusa o músico Rui Pato, violinista e compositor que integrou o movimento renovador da balada de Coimbra na década de 1960 com José Afonso.
Rui Pato salientou "as qualidades humanas" de Niza, que definiu como "grande companheiro de fados e guitarradas" e "um resistente à ditadura", referindo-se ao regime político que imperou em Portugal de 1926 a 1974.
José Niza foi "um dinamizador e produtor fundamental da música portuguesa" disse Paulo de Carvalho, intérprete da música ‘E Depois do Adeus’, reagindo à morte do compositor. Frisando à Lusa que "deve-se usar o presente do indicativo para falar do José Niza pois a obra está aí e está viva", Paulo de Carvalho referiu o trabalho do poeta e compositor com a editora discográfica Arnaldo Trindade que, através da etiqueta Orfeu, gravou Correia de Oliveira e José Afonso.
JOSÉ RIBEIRO E CASTRO
O presidente da Comissão Parlamentar de Educação, Ciência e Cultura, José Ribeiro e Castro, sublinhou em comunicado a "notável criatividade musical" de José Niza.
"Além da sua notável criatividade musical, recordo a afabilidade e elegância do seu trato e a persistência paciente nas causas que abraçou e que dinamizou quer na política em geral, quer especificamente na cultura e comunicação social, em particular na defesa dos direitos de autores, artistas e intérpretes".
"A notícia da morte de José Niza entristece-me muito", declara o deputado do CDS/PP que recorda ter sido "seu colega nesta Assembleia na Primeira Legislatura e convivi com ele em múltiplas ocasiões, em acontecimentos culturais e em incontáveis actos políticos".
"Evocando José Niza como grande figura da música e da cultura portuguesa, mas também da comunicação social e da política, apresento as minhas condolências, como Presidente da Comissão de Educação, Ciência e Cultura da Assembleia da República, aos seus familiares e amigos e ao Partido Socialista", remata o parlamentar.
FRANCISCO JOSÉ VIEGAS
O secretário de Estado da Cultura, Francisco José Viegas, salientou hoje o "homem multifacetado, dotado de sensibilidade profunda".
"José Niza era um homem multifacetado, dotado de uma sensibilidade profunda, que soube colocar as suas capacidades intelectuais ao serviço do outro e da causa pública", escreve o secretário de Estado na nota enviada à agência Lusa.
"Como músico e compositor de intervenção, o seu percurso artístico interliga-se com um dos momentos mais importantes da história recente de Portugal e algumas das suas canções são marcos fundamentais para a nossa memória do século XX e de muitos dos combates contra a ditadura", remata Francisco José Viegas.
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