Marcelo vê Trump "muito radical" no discurso mas "mais suave" na prática em relação à ONU
Chefe de Estado assinalou que Trump manifestou apoio a esta organização e não anunciou mais cortes financeiros, depois das críticas que tinha feito.
O chefe de Estado, Marcelo Rebelo de Sousa, considerou esta terça-feira que o Presidente norte-americano, Donald Trump, fez na ONU o seu habitual "discurso muito radical", mas na prática é "mais suave" também em relação a esta organização.
O Presidente da República falava aos jornalistas nos jardins da sede da Organização das Nações Unidas (ONU), em Nova Iorque, depois de ter discursado na 80.ª sessão da Assembleia Geral da ONU, no primeiro dia de debate geral anual entre líderes mundiais.
Marcelo Rebelo de Sousa assinalou que Donald Trump, no encontro que teve esta terça-feira com o secretário-geral da ONU, António Guterres, manifestou apoio a esta organização e não anunciou mais cortes financeiros, apesar das críticas que tinha feito de manhã na Assembleia Geral.
Para o chefe de Estado, isso "significa que uma coisa é o discurso" do Presidente norte-americano, "mas isso foi sempre assim, no primeiro mandato e segundo mandato, tem um discurso para o eleitorado, eleitorado interno e externo, que é um discurso muito radical", e "outra coisa é a prática".
Por outras palavras, "uma coisa é o valor facial do que ele diz, outra coisa é a prática do que ele faz", reforçou.
Interrogado sobre o seu reencontro com Donald Trump, esta terça-feira, ao fim do dia, na habitual receção oferecida pelo Presidente dos Estados Unidos da América aos chefes de delegações que participam na Assembleia Geral da ONU, respondeu: "Eu vou ver como é ele reage, pode ser que ele me pergunte a minha opinião".
"E, sendo assim, eu direi que ele continua igual a si próprio, que é de facto, do ponto de vista proclamatório, é muito televisivo, isso é muito a sua experiência de showbiz. Depois, do ponto de vista prático, a realidade é mais complicada e implica, mesmo em relação às Nações Unidas, ser mais suave", acrescentou.
Segundo Marcelo Rebelo de Sousa, isso acontece porque Donald Trump "sabe que resolver os conflitos não é tão simples como parece numa declaração proclamatória" e "tem a noção exata de que não tem peso suficiente para sozinho resolver os grandes conflitos".
"Eu acho que o Presidente americano foi muito contundente na posição vocal, porque faz muito efeito, porque mobiliza eleitorados da mesma linha, por exemplo nos países europeus, além de nos Estados Unidos da América. É uma onda", comentou.
O chefe de Estado reforçou a sua crítica a Trump quanto à resolução de conflitos, dizendo que "não resolveu a Ucrânia nem resolveu o Médio Oriente, que são os mais importantes" e que "estão a serem encaminhados, de uma forma ou de outra, por iniciativa de vários países".
Na sua opinião, "o reconhecimento do Estado da Palestina, por si próprio, mas por aquilo que significou", está a marcar esta sessão da Assembleia Geral da ONU, que esteve "massivamente num determinado lado" nesta questão, e "o Presidente Trump percebeu isso".
Marcelo Rebelo de Sousa considerou que "está a nascer um G3" em que "os Estados Unidos preferem tratar com a Rússia e com a China, embora com aparentes divergências", enquanto "a China e a Rússia acordam entre si e depois têm que dialogar com os Estados Unidos".
Mas, na sua análise, "não fogem a uma realidade, que é o peso da Assembleia Geral", e este órgão, que reúne todos os 193 Estados-membros da organização, pode sair reforçado em termos de importância "se o Conselho de Segurança continuar bloqueado por causa dos vetos".
O Presidente da República apontou que "há outros países com peso, a Índia, o Brasil, o Japão, os grandes países árabes, a Arábia Saudita, ou muçulmanos, a Indonésia, que não são totalmente alinhados".
"Portanto, está a assistir-se a uma mudança no mundo, mas também uma mudança no funcionamento das Nações Unidas, que vai ter que ver com o futuro secretário-geral", anteviu.
Sobre a sucessão de Guterres, a partir de 2027, disse que o processo agora "é mais complexo" e "a presidente alemã da Assembleia Geral vai ter um papel mais ativo".
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