Sócrates quis pôr diretor do 'JN' no 'Sol'

"Vara afirma que já tem diretor para o jornal (julgo que seria Afonso Camões) e chegam-nos a perguntar quanto queremos para sair", escreveu José António Saraiva, ex-diretor do ‘Sol’, no seu livro ‘Eu e os Políticos’, referindo-se a uma conversa que teve com Cavaco Silva sobre o facto de José Sócrates, na altura primeiro-ministro, querer fechar o semanário.

O autor relata que o ‘Sol’ tinha problemas económicos. Tentava arranjar financiadores, mas era boicotado. Segundo Saraiva, Sócrates tentava fechar o jornal, "através de Armando Vara, que estava na administração do BCP".

O banco era acionista do semanário e, além de ter cortado a publicidade e os patrocínios no ‘Sol’, em finais de 2008, colocou as ações à venda. Aqui, segundo o jornalista, também havia a mão de Pinto Balsemão, que terá pressionado Paulo Teixeira Pinto, que dirigia o BCP, a deixar de ser acionista. Aproveitava-se do facto de este precisar de apoio na sua guerra contra Jardim Gonçalves.

Ao mesmo tempo, o então primeiro-ministro fazia "pressão junto dos acionistas angolanos (através do ministro da Economia, Manuel Pinho) para desistirem de financiar o ‘Sol’".

Pelo meio, terá sido veiculado por Afonso Camões, atual diretor do ‘JN’ e que Saraiva descreve como "jornalista próximo de Sócrates", que havia uma proposta do Grupo Lena para comprar o jornal ‘Sol’. O autor conta ainda que um assessor do antigo governante, Luís Bernardo, também lhe disse que se deixassem de escrever sobre Sócrates e o Freeport também deixaria de ter problemas financeiros.

Entretanto, o BCP muda de estratégia e tenta manter a posição no ‘Sol’, não deixando vender as ações, mas a empresa angolana, a Newshold, ameaça fazer queixa à CMVM e o BCP é obrigado a ceder. O assunto da "guerra entre Sócrates e o ‘Sol’" foi abordado num encontro com Cavaco Silva, em Belém. Escreve Saraiva que o Presidente mostrou estar a par do assunto ao dizer: "O que me dizem é que o BCP queria comprar o seu jornal para no momento seguinte o fechar...".