A Nazaré foi destino de eleição no século passado. Agora, tem nas ondas gigantes motivo de atração. Mas o tempo não volta para trás.
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Com a avenida marginal cheia de visitantes, na tarde de domingo, até podia dar para acreditar. Uma carrinha de campanha para as autárquicas anuncia: "Vamos tornar outra vez a Nazaré no maior polo de atração turística do nosso país". A reação à promessa revelou, contudo, indiferença. As pessoas sentadas no muro da praia, a olhar o mar, nem viraram a cabeça para ver que partido era. Mesmo com ondas gigantes e as proezas de McNamara, ninguém pensa que o tempo volta para trás.
A Nazaré já foi nº 1 do turismo em Portugal. Nos anos 50/60 do século passado, doutores de Coimbra, proprietários beirões, ganadeiros do Ribatejo e latifundiários alentejanos usavam como selo de mundanidade umas férias de praia na vila do Sítio.
Ou em alternativa na Figueira da Foz. Nessa altura, Portugal contava os turistas por milhares enquanto a Itália, a França e até a Espanha já os contabilizavam aos milhões. Promovia-se o ‘Avril au Portugal’, mas conforme conta o ‘beatle’ Paul MacCartney, numa biografia, era difícil descobrir o caminho por estrada para o Algarve.
Os tempos mudaram depois. Às vezes de uma forma prosaica, como conta José Rodrigues, de 62 anos, eletricista, nascido e residente em Torres Novas: "Vim para aqui passar férias desde os 12 anos e continuei a fazê-lo depois de casado, inclusive com os meus sogros e os meus filhos. Só mudei de hábito quando me pediram 50 contos por 15 dias num apartamento."
José, a mulher Isabel e a sogra Alice continuam a apreciar um passeio ao domingo na Nazaré, mas quanto a férias não querem pensar mais em manhãs de nevoeiro, água fria e ondas que não permitem o banho.
"Foi engraçado no primeiro ano, 1986 ou 87, em que não viemos para a Nazaré", recorda José Rodrigues. "Fui ao banco levantar o dinheiro em notas para ir de viagem e o funcionário meu conhecido perguntou- -me: Quanto tempo vai de férias? Eu respondi-lhe: 50 contos. Nunca mais nos esquecemos disso e ainda hoje nos rimos." Os 50 contos deram para uma semana no Algarve, em Monte Gordo, e o casal Rodrigues fixou o azimute no rumo ao sul. Apontou também a outros destinos, como a Madeira ou Palma de Maiorca.
Enquanto a Terra dá voltas em torno do Sol, há quem resista nos passeios da avenida, diante de uma banquinha com vários aperitivos. Maria Regina Fragoso, de 87 anos, desabafa: "O pior é ficar em casa." Ela vende quase tudo a 1 euro, desde a dose de tremoços aos sacos de amendoins, amêndoas, figos secos ou o bolo espalmado de amendoim.
A exceção está nas passas (2 ou 3 euros por pucarinho). Quando, depois dos preços, perguntamos se não usa sete saias, Maria Regina responde: "Saias dessas já só há nos ranchos folclóricos".
Ginjinha servida em copo de vidro
"Em copo de vidro, a ginja com ou sem elas custa 2,50 euros, mas damos o vasilhame e as recargas são só 1 euro. Às vezes, voltam com o copo um ano depois", explica Daniel Silva, de 18 anos, muito atento aos pormenores do negócio e do segredo do êxito na atividade turística, com queixas sobre o estado das coisas: "É inacreditável que deixem o lixo transbordar dos caixotes nesta avenida da praia e não haja alguém para limpar."
Estudante do 12º ano, nascido em Leiria e criado na Nazaré, o jovem vendedor sente-se orgulhoso num quiosque de praia com design inspirado nos anos 20.
"Trabalho aqui há um ano e vendo mais ginjinhas à noite. De dia, o negócio é melhor para as bolas de Berlim", observa com pequena inveja da sua concorrente do quiosque ao lado que já serviu como cliente o cavaleiro das ondas gigantes, Garret McNamara.
"Famoso mesmo, nunca aqui tive ninguém", conclui, com desejo de ver a Nazaré mais atrativa para o turismo.
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