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Oposição em Lisboa acusa Carris e liderança da Câmara de falta de respostas sobre o acidente no Elevador da Gória

Elevador descarrilou no dia 03 de setembro, num acidente que provocou 16 mortos e duas dezenas de feridos.

16 de setembro de 2025 às 18:47

A oposição na Câmara de Lisboa criticou esta terça-feira a administração da Carris e a liderança do executivo (PSD/CDS-PP) por falta de respostas sobre o acidente do elevador da Glória, durante uma reunião dedicada ao tema.

A reunião privada extraordinária da Câmara Municipal de Lisboa, com a presença do presidente da Carris, decorreu esta terla-feira de manhã, com intuito de dar esclarecimentos adicionais sobre o acidente com o elevador da Glória.

O elevador da Glória, sob gestão da Carris, descarrilou no dia 03 de setembro, num acidente que provocou 16 mortos e duas dezenas de feridos, entre portugueses e estrangeiros de várias nacionalidades.

No final da reunião, em declarações à agência Lusa, os vereadores da oposição na Câmara de Lisboa, presidida por Carlos Moedas (PSD), criticaram a ausência de respostas a algumas das questões que foram colocadas durante a sessão, sendo os eleitos do PS aqueles que ficaram "mais esclarecidos".

"Obtivemos um conjunto de esclarecimentos adicionais que são importantes, que são relevantes de obter. Naturalmente que o processo tem de prosseguir, só ficaremos satisfeitos quando tudo for esclarecido e apurado", afirmou à Lusa o vereador socialista Pedro Anastácio.

Entre a informação relevante prestada, segundo indicou o autarca socialista, está o facto de o cabo do elevador da Glória ter sido substituído duas vezes durante este mandato (2022 e 2024) e que foi a própria Carris a "fornecer o material".

No entanto, no entendimento de Pedro Anastácio, existem ainda aspetos a esclarecer, nomeadamente a decisão de adjudicar um contrato de manutenção em 2022 a um preço inferior ao valor base.

"Foi apresentada uma justificação por parte da administração da Carris que não bate certo, que é a questão do preço apresentado ter sido inferior àquele que era o preço base do procedimento. Naturalmente, nós queremos obter mais esclarecimentos. Uma resposta cabal às perguntas que fizemos hoje e que não foram respondidas", apontou.

No mesmo sentido, também o vereador do PCP João Ferreira levantou dúvidas sobre o contrato de manutenção estabelecido em 2022, "a um preço anormalmente baixo".

"Esta foi a primeira questão que colocámos e que, do nosso ponto de vista, carece de uma explicação, que ainda não foi dada", criticou.

João Ferreira disse ainda que os comunistas solicitaram um inventário das denúncias e preocupações de segurança levantadas pelos trabalhadores, mas que ficaram sem respostas.

Já os Cidadãos Por Lisboa, através da vereadora Paula Marques, criticaram "o silêncio" de Carlos Moedas e do vice-presidente da Câmara de Lisboa, Filipe Anacoreta Correia (CDS-PP), acusando-os de tentarem passar as culpas para a empresa de manutenção.

"Sentimos aqui uma tentativa de passar culpas, ou de responsabilidades, vamos dizer assim, da parte da Carris para a empresa de manutenção e da parte do executivo, em particular do presidente e do vice-presidente. Sentimos que se estão a escudar na ideia de que há um processo em curso", apontou Paula Marques.

Já o vereador bloquista Ricardo Moreira criticou a administração da Carris e o presidente da Câmara de Lisboa de "insistirem num discurso em que parece que tudo correu bem".

"Mantém-se o discurso de que tudo foi feito como devia ter sido na manutenção e inspeção. Essa posição é inaceitável, a tragédia do elevador da Glória vitimou mortalmente 16 pessoas e não foi um fenómeno natural", afirmou o autarca.

Segundo o Ricardo Moreira, ficou também demonstrado que a atual liderança "não tem capacidade para projetar o futuro", uma vez que quando foram realizadas grandes manutenções nos elevadores históricos da cidade "não foram equacionados meios de redundância no sistema de travagem ou a monitorização telemática dos componentes críticos".

Por seu turno, o Livre, através de Rui Tavares, considerou que a reunião "deixou bastantes coisas por esclarecer", mas concluiu que existia uma "falta de atenção" e uma desconsideração com os elevadores históricos.

"Perguntado o senhor presidente da Carris se alguma vez no seu diálogo com a Câmara alguma vez tinha sido questionado sobre estes serviços, elevadores, funiculares e ascensores históricos, ele não deu nenhuma resposta de que alguma vez tenha havido alguma atenção particular", apontou.

Já do lado da liderança do executivo, numa resposta enviada à Lusa, o vice-presidente da Câmara de Lisboa classificou a sessão desta manhã como uma "excelente reunião", sublinhando que "todos os vereadores puderam colocar as perguntas que entenderam ao presidente da Carris".

"Naturalmente sendo um processo em investigação, muitas dessas respostas teremos de aguardar pelo normal desfecho do processo que todos queremos que apure toda a verdade e que seja no mais curto espaço de tempo possível", perspetivou.

Relativamente aos contratos de manutenção, Filipe Anacoreta Correia ressalvou que o presidente do conselho de administração da Carris explicou os investimentos e a despesa feita nesta área, sublinhando que "cresceu nos últimos anos".

Entretanto, num comunicado divulgado esta terça-feira, a Câmara de Lisboa informou que já disponibilizou documentação sobre o elevador da Glória no Portal da Transparência, com exceção daquela que está sujeita "a confidencialidade" ou abrangida "por segredo de justiça".

"A Câmara Municipal de Lisboa já tem disponível no Portal da Transparência um conjunto alargado de documentos sobre o ascensor da Glória, reforçando assim o acesso público à informação municipal e promovendo uma maior proximidade com os cidadãos", justifica a autarquia.

A informação pode ser consultada através da ligação https://transparencia.lisboa.pt/transparencia-por-setores/mobilidade.

Atualmente, o executivo da Câmara de Lisboa, que é composto por 17 membros, integra sete eleitos da coligação "Novos Tempos" (PSD/CDS-PP/MPT/PPM/Aliança) -- que são os únicos com pelouros atribuídos e que governam sem maioria absoluta --, três do PS, três do Cidadãos Por Lisboa (eleitos pela coligação PS/Livre), dois do PCP, um do Livre e um do BE.

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