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Artigo exclusivo

Truque nas nomeações para altos cargos no Estado favorece boys do PS

Cerca de 80% dos dirigentes escolhidos foram nomeados antes em regime de substituição.

01 de março de 2021 às 01:30
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O Estatuto do Pessoal Dirigente da administração do Estado prevê que o exercício de um cargo em “substituição cessa na data em que o titular retome funções ou passados 90 dias sobre a data da vacatura do lugar [termo da comissão de serviço], salvo se estiver em curso procedimento tendente à designação de novo titular.” A análise dos dados dos concursos públicos que constam no site da Comissão de Recrutamento e Seleção para a Administração Pública (CReSAP) revela inúmeros casos de nomeações em regime de substituição com uma duração temporal superior a um ano e até com quase dois anos.

Confrontada com esta situação e questionada se considera o sistema justo e leal para os restantes candidatos, a presidente da CReSAP, Maria Júlia Ladeira, foi categórica: “A CReSAP considera que os candidatos em regime de substituição têm vantagens competitivas relativamente aos outros. Afirmou-o na audição na Assembleia da República, logo na 1ª audição.”

Para a líder da Transparência e Integridade, as pessoas nomeadas em regime de substituição “têm vantagens competitivas artificiais e calculadas pelo poder político.” E acrescenta: “O efeito desta ação é sempre um favorecimento, um benefício injustificado e injusto.”

A CReSAP não sabe quantos dirigentes foram nomeados, desde 2016, em regime de substituição. Desde essa altura, este regime tem sido usado com frequência. O CM questionou o gabinete do primeiro-ministro, António Costa, sobre as nomeações em regime de substituição, mas, até ao fecho desta edição, não obteve resposta.

"É um ato ilegal e são vantagens competitivas que não deviam ter"

A presidente da Transparência e Integridade é muito crítica do exercício de cargos na Administração Pública em regime de substituição durante mais de 90 dias. "A partir do momento em que as pessoas ficam no cargo a partir de um, dois anos é um ato ilegal e são vantagens competitivas que não deviam ter", afirma Susana Coroado. E acrescenta: "Está errado, independentemente de ser [um ato] premeditado."

Na ótica da presidente da Transparência e Integridade, quando exercem o cargo em regime de substituição durante demasiado tempo, essas pessoas "estão a ganhar vantagens competitivas de forma ilegal."

Para Susana Coroado, o exercício de um cargo em regime de substituição, durante muito tempo, revela três sinais: "Falta de planeamento de toda a Administração Pública e de todos os governos, desleixo e taticismo." A presidente da Transparência e Integridade dá uma explicação mais precisa: "Sabendo que há essa vantagem competitiva [exercendo o cargo em regime de substituição], deixa-se estar a pessoa durante muito tempo para ganhar experiência e conhecimento no cargo."

O elevado número de dirigentes escolhidos para o cargo após terem sido nomeados em regime de substituição para o mesmo cargo indicia que existe "uma técnica", sublinha Susana Coroado. Que acrescenta: "É o que se chama patronagem em Ciência Política."

CReSAP responsabiliza os governantes

A líder da CReSAP responsabiliza os governantes pelos atrasos nos concursos públicos para os cargos de topo no Estado. “O pedido de lançamento de concursos públicos para os cargos de dirigentes superiores é da responsabilidade dos membros do Governo”, afirma Ladeira. Questionada se a nomeação em regime de substituição é exagerada, disse: “Não cabe à CReSAP o controlo da aplicação do quadro legal que regula esta matéria.”

Defesa omite dado sobre funções de novo diretor-geral

No comunicado sobre a nomeação em regime de substituição de Vasco Hilário para diretor-geral de Recursos de Defesa Nacional, o Ministério da Defesa omitiu que Hilário foi diretor-geral em regime de substituição da Direção-Geral da Administração e Emprego Público (DGAEP). Hilário é um exemplo de dirigentes que exerceram o cargo em regime de substituição durante muito tempo: na DGAEP fê-lo de dezembro de 2018 a 20 de janeiro de 2021.

Ministra manteve Romão dois anos

A ministra da Justiça, Francisca van Dunem, manteve Miguel Romão como diretor-geral de Política de Justiça em regime de substituição entre dezembro de 2018 e janeiro de 2021. Romão demitiu-se devido à polémica sobre a escolha do procurado europeu.

Escolhidos três candidatos finais

Nos concursos públicos para os cargos dirigentes de topo, a CReSAP seleciona os seis melhores candidatos, dos quais escolhe a lista final de três. Destes, o governante que tutela a área escolhe o nome final para o cargo.

saiba mais

2011

foi o ano da constituição da CReSAP. Tinha por objetivo evitar as nomeações políticas para cargos na Administração Pública e garantir a escolha dos mais competentes para as funções.

Orçamento anual

A presidente da CReSAP tem um salário igual ao do primeiro-ministro: 5436 euros por mês.

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