Cinco mil polícias recusam entrar em bairros problemáticos
Protesto nasceu em Odivelas e contesta a condenação de polícias por agressões na Cova da Moura.
Depois dos oitos agentes da PSP da Amadora terem sido condenados pelo Tribunal de Sintra, no passado dia 19, por sequestro e agressões a moradores da Cova da Moura e após o ex-vice presidente da ASPP, Manuel Morais, ter afirmado em público que há racismo na polícia, um movimento espontâneo surgiu na PSP.
Chama-se Movimento Zero, nasceu na esquadra de Odivelas e os cerca de cinco mil aderentes, todos polícias, garantem que só entram em bairros problemáticos se tiverem reforços.
Ao que o CM apurou, o rápido crescimento do Movimento Zero foi conseguido graças à troca de mensagens na aplicação de telemóvel Telegram.
Garantindo independência face aos sindicatos, os agentes começaram a pedir aos colegas que assumissem uma postura "educativa" nas fiscalizações rodoviárias e a estabelecimentos, furtando-se a autos.
O apelo principal, no entanto, passa por um cuidado maior com a segurança. Assim, aos agentes colocados em divisões responsáveis pelo patrulhamento de bairros problemáticos, está a ser pedido que não entrem nos mesmos sozinhos ou acompanhados apenas por um colega.
A ideia é intervir com o apoio de Equipas de Intervenção Rápida (EIR), unidades treinadas e equipadas para responderem a casos graves de desordem.
Carlos Torres, presidente do Sindicato Independente de Agentes da Polícia, diz "apoiar a iniciativa, apesar de ser extrassindical". "Não temos quem nos defenda", referiu.
Peixoto Rodrigues, presidente do Sindicato Unificado da PSP, considera que "a criação deste movimento "é expectável, face à revolta que a decisão do Tribunal de Sintra trouxe aos polícias".
Fonte oficial da PSP diz que esta força de segurança conhece o Movimento Zero "apenas pela comunicação social". "A PSP irá sempre defender os seus elementos, e as respetivas condições de trabalho", refere.
PORMENORES
Comandante ameaça
Segundo Carlos Torres, presidente do SIAP, um comandante da PSP do Porto ameaçou os subordinados de que forçaria saídas, caso se mantenha a queda de autos e de detenções.
PSP desmente decréscimo
Fonte oficial da direção da PSP ouvida pelo CM, desmente a existência desse decréscimo de detidos ou de autos.
Integridade em causa
Em carta ao Chefe de Estado, Governo e Assembleia, os organizadores do Movimento Zero dizem sentir "a integridade institucional da PSP ameaçada."
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