Sócrates tenta travar reprodução de escutas
As conversas do antigo primeiro-ministro foram tema central da sessão de julgamento de quarta-feira.
“Qual é a relevância dessa escuta?”, questionou na quarta-feira, vezes sem conta, José Sócrates. Apanhado em centenas de conversas comprometedoras, que servem de prova no processo da ‘Operação Marquês’, José Sócrates tentou travar a reprodução das escutas telefónicas na sala de audiências. Diz que se sente humilhado e lembrou a audição de uma conversa com a ex-namorada, Fernanda Câncio. “O que fizeram ontem [terça-feira] já foi uma pouca-vergonha.” Também as conversas com o ex-número dois de Angola ou pessoas ligadas a Lula da Silva ou Maduro são, para ele, devassa da vida privada. “O que o senhor procurador quer é pornografia… Quer expor as pessoas. É para humilhar”, disse exaltado. A defesa do antigo primeiro-ministro foi ainda mais longe. Pedro Delille pediu à juíza que permita somente a leitura da transcrição das escutas. Entendimento diferente teve o procurador Rómulo Mateus, que insistiu na reprodução das conversas, salientando a importância de ouvir “voz e tom do arguido”. “Não é o mesmo que ler uma transcrição”, concluiu. Depois de conferenciar com as juízas-adjuntas, Susana Seca, presidente do coletivo, deu conta de que se deve dar “prioridade às declarações do arguido e só se deve reproduzir a escuta em caso de contradição”.
Depois do momento de tensão, que até levou a magistrada a suspender o julgamento para fazer uma pausa, o MP pediu a reprodução de uma escuta entre Sócrates e Manuel Vicente, então vice-presidente de Angola, e o tribunal autorizou.
E TAMBÉM
Sócrates critica
“É uma pergunta de criança!”, criticou Sócrates, perante uma pergunta do procurador Rómulo Mateus sobre o tema do TGV. Depois, o antigo primeiro-ministro convidou o procurador a “candidatar-se ao Parlamento”. “Aqui não se trata de política, mas sim de justiça”, acrescentou o antigo primeiro-ministro socialista.
João Perna com dúvidas
No primeiro dia de julgamento, João Perna, ex-motorista de Sócrates, disse à juíza que queria falar. Advogado diz agora que está a estudar essa questão.
Irritação perante pergunta
O CM confrontou na quarta-feira Sócrates sobre os pedidos de “fotocópias, livros e a aquela coisa de que gosto” ao amigo Carlos Santos Silva. Irritado com a pergunta, Sócrates negou que fosse dinheiro, mas recusou dizer o que então pedia.
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