“A minha avó caminhou em direção às chamas”
Felismina desorientou-se e, quando a família se apercebeu, “já era tarde”.
Ramalho é hoje uma aldeia fantasma. Já tinha pouco mais de 20 habitantes e agora são ainda menos. O fogo "destruiu quase tudo". Quem sobreviveu à tragédia foi embora por vontade própria ou levado "pelos filhos que vivem na cidade", conta Justina Jesus, que foi impotente para travar a marcha da avó Felismina, uma idosa de 82 anos, na direção das chamas, no sábado à tarde, depois de escapar da casa a arder.
"Com o pânico ou por desorientação andou na direção do fogo e ele comeu-a. Nós não pudemos fazer nada. Apenas queríamos fugir e salvar a nossa casa. Quando nos apercebemos já era tarde de mais", recorda ao CM, em lágrimas, a mulher natural de Tomar que o casamento levou para o concelho de Pedrógão Grande.
À porta de casa, onde vive com o marido, os sogros e um filho, apenas se vê destruição em redor. Terra queimada, hortas destruídas, palheiros e galinheiros completamente reduzidos a cinzas. "Tudo aquilo que dava sustento e comida para a mesa da nossa família", diz.
Ontem, pouco depois da hora de almoço, receberam a visita de psicólogos do INEM. Uma ajuda "bem-vinda", mas que deveria ser "desnecessária se tivéssemos tido ajuda quando ficámos cercados pelo fogo".
A sogra de Justina reforça: "não se viu por aqui um bombeiro. Foi o meu marido e o meu filho que salvaram a casa com mangueiras e baldes de água". "Para vocês verem, o corpo da minha mãe ficou ali estendido no chão, no meio do mato queimado, dois dias. Fomos nós que o tapámos. Foi tratada pior que um cão, sujeita a ser comida por animais", acusa Maria Manuela Santos, de 56 anos.
E daqui para a frente? "Vamos ficar aqui. Não temos nada, nem sequer para onde ir. Mas precisamos de ajuda", concordam as duas mulheres. As chamas levaram todo o sustento da família.
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