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Idosos morrem abraçados em casa

Corpos de António Lopes e Augusta Ferreira, 88 e 87 anos, encontrados na habitação onde caíram paredes e tecto.

21 de junho de 2017 às 04:10

António Lopes e Augusta Ferreira eram um casal idoso muito estimado no lugar de Moita, uma das muitas aldeias fustigadas pelo fogo de sábado em Pedrógão Grande. O casal, de 88 e 87 anos, não escapou às chamas e morreu dentro de casa, totalmente devastada pelo incêndio. Caíram as paredes e o tecto; António e Augusta estavam abraçados quando os corpos foram encontrados.

Um dos filhos, o mais novo, ainda tentou salvar os pais, mas já não conseguiu passar. A confirmação da tragédia de sábado chegou no dia seguinte. António e Augusta "eram pessoas muito queridas. Todos os dias os víamos", lamenta António Silva Nunes, de 70 anos, que ontem olhava para o horizonte pintado de negro. "Eu e a minha mulher conseguimos sobreviver por milagre. Eu andava na rua e quando vi que o fogo estava a chegar comecei a correr."

"Tirei a camisa porque já ardia nas costas e as botas estavam a derreter. Ninguém imagina o inferno que isto foi. À volta da minha casa ardia tudo", conta, ao CM, o homem que perdeu dois amigos próximos no fogo mas conseguiu salvar-se.

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Agora acolheu uma sobrinha em casa – depois de Anabela Alves ter perdido tudo à passagem das chamas. A vida tem sido dura para esta mulher com pouco mais de 40 anos. Em quatro anos perdeu os pais, o marido e agora escapou à morte mas apenas com a roupa que tinha no corpo. No sábado à tarde não pegou nem em roupa nem em dinheiro para fugir. Pegou na sua cadela ‘Boneca’ e saiu para a rua. "Foi uma loucura, estava com a minha cadelinha ao colo e era só fogo à nossa volta. Quando vi que não conseguia andar parei e esperei pela morte", recordou ontem ao CM, sem controlar a emoção.

Mas a morte não chegou graças à intervenção de um primo. "Vi o jipe dele e ele salvou-me. Trouxe-me para casa do meu tio e aqui estou, com eles. "Perdi tudo o que tinha mas ao menos estou viva. Foi o destino. Não tenho nada agora. Apenas a roupa que tenho no corpo".

Anabela está a ser ajudada pela Câmara de Pedrógão e vai ter de viver, nos próximos dias, com a solidariedade dos outros.

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