Cerca de 60% dos associados da cooperativa Lousãmel afetados pelos fogos

Levantamento preliminar na área de intervenção da Lousãmel estima que perto de mil colmeias já terão ardido com os incêndios.

21 de agosto de 2025 às 11:30
Apicultores Foto: Jorge Vieira
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Cerca de 60% dos associados da cooperativa Lousãmel, entre os quais vários produtores do mel da Serra da Lousã, foram afetados pelos incêndios, sobretudo pela falta de alimento para as abelhas.

O levantamento preliminar na área de intervenção da Lousãmel estima que perto de mil colmeias já terão ardido com os incêndios que afetam o Centro e Norte do país, mas a falta de alimento deverá afetar cerca de 60% dos associados desta Cooperativa que, apesar de se focar na Serra da Lousã, atua de norte a sul do país, disse à agência Lusa a diretora executiva da entidade, Ana Paula Sançana.

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"O problema alimentar é muito substancial, porque as abelhas ficaram sem nada para comer. Em termos de impacto da produção para este ano acabou por não ser tão negativo, porque a maior parte dos apicultores já tinha feito a extração do mel, mas infelizmente, os próximos anos, serão um filme em 'reprise' [repetição] de entrada em novo ciclo negativo", afirmou.

Para Ana Paula Sançana, o impacto na produção irá sentir-se nos próximos anos, dando nota de que, no caso do mel da Serra da Lousã (de origem protegida), será difícil assegurar as suas características, face à flora que ardeu.

"Estamos numa altura muito complicada para as abelhas, que após ser tirado o mel, estão em profundo stress. Temos a questão da vespa asiática, a varroose que é a doença que afeta as abelhas provocada por um ácaro no seu ponto alto, e, agora com este fator [dos incêndios], temos de ter muita atenção aos próximos meses", explicou.

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Para a diretora executiva da Lousãmel, é necessária uma intervenção musculada por parte do Governo de apoio aos apicultores, que são "um pilar daquilo que é a sustentabilidade e uma atividade que presta um serviço ecossistémico" e que têm sido afetados por incêndios que se repetem em ciclos cada vez mais curtos.

"Se não houver um apoio e um sinal muito claro do Governo, tenho a certeza de que vai haver pessoas que efetivamente vão desistir", notou.

A cooperativa tem registo de associados afetados não apenas na Lousã, mas também na Pampilhosa da Serra, Arganil, Oliveira do Hospital, Mêda ou Trancoso, acreditando-se que, com a extensão da área ardida, também poderá haver uma pressão e sobrepopulação de abelhas em zonas intactas no futuro.

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Para Ana Paula Sançana, o número de colmeias ardidas é menor face à aprendizagem que os apicultores retiraram dos incêndios de 2017, com muitos a passarem a manter as colmeias mais longe do chão.

Portugal continental tem sido afetado por múltiplos incêndios rurais de grande dimensão desde julho, sobretudo nas regiões Norte e Centro.

Os fogos provocaram três mortos, incluindo um bombeiro, e vários feridos, alguns com gravidade, e destruíram total ou parcialmente casas de primeira e segunda habitação, bem como explorações agrícolas e pecuárias e área florestal.

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Segundo dados oficiais provisórios, até 20 de agosto arderam mais de 222 mil hectares no país, ultrapassando a área ardida em todo o ano de 2024.

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