“Contas de merceeiro” permitem corrupção na Força Aérea
Capitão fala em produtos sem guias. 500 euros para intervenientes.
Os produtos alimentares pedidos e o que havia em stock nas messes da Força Aérea nem sempre batiam certo. Vários militares lucravam com o negócio de sobrefaturação, em que envelopes com 500 euros eram distribuídos aos intervenientes, a cada mês.
"Havia mercadorias que chegavam sem guias de remessa. Era uma simples folha com produtos e quantidades. Era tipo contas de merceeiro." A descrição é do capitão Orlando Pinheiro, que entre 2015 e 2016 – até ser detido a 3 de novembro – encabeçava a messe da base da Ota.
O capitão assegura ainda que não se lembra de ter havido qualquer inspeção no período em que lá esteve. E diz que foi avisado da investigação na sexta-feira anterior à detenção.
Ontem, no Tribunal de Sintra, contou que quando foi preso, juntamente com outros cinco militares, alguns receberam no presídio de Tomar a visita do major-general Milhais Carvalho, antes de este ser detido – também arguido e apontado como o mentor do esquema.
Mas houve outras visitas com comportamentos que chegaram a levantar suspeitas. "O capelão foi lá algumas vezes e a certa altura excedeu-se: estava a meter-se na defesa de cada um. Chegou a falar em sermos defendidos pelo mesmo escritório de advogados", disse.
Dinheiro distribuido por diversos oficiais
Os dois primeiros arguidos a falar em tribunal confessaram a participação no esquema de corrupção, desmantelado pela PJ na operação Zeus.
O major Martinho, o primeiro a depor, admite ter recebido 60 mil euros. Mas a maior parte da ‘fatia’ admitem ter sido entregue na Direção de Abastecimento de Transportes, à data dos factos liderada pelo (agora na reserva) major-general Milhais de Carvalho.
Outros arguidos prometem falar em tribunal e contar como funcionava este ‘polvo’ de fornecedores de bens alimentares nas messes.
No banco dos réus sentam-se 30 militares (16 oficiais e 14 sargentos) e 38 civis.
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