Dono de lar onde idoso matou outro utente em Ourique renuncia a vereador na Câmara de Castro Verde
Um idoso matou outro utente e feriu mais dois no lar de Garvão, que se encontrava "em situação ilegal".
O proprietário do lar em Garvão, no concelho de Ourique, onde ocorreram as agressões que provocaram a morte de um idoso, no sábado, renunciou ao cargo de vereador na Câmara de Castro Verde, anunciou, esta terça-feira, o próprio.
Numa publicação partilhada na sua página na rede social Facebook, Sérgio Delgado, eleito vereador da CDU (PCP/PEV) na Câmara de Castro Verde (de maioria PS) nas eleições autárquicas de 12 de outubro, disse ter tomado a decisão e renunciado já ao cargo neste município do distrito de Beja.
Aludindo ao que aconteceu no Lar de Garvão, do qual é proprietário e que foi fechado pela Segurança Social, no domingo, Sérgio Delgado argumentou que houve um "aproveitamento político desta situação", associado à sua "condição de vereador".
"Sempre soube separar de forma clara a minha atividade política da minha atividade profissional. Ainda assim, e face ao sucedido, já tomei a decisão e agi em conformidade", renunciando ao cargo de vereador, disse.
Na mensagem na rede social, o responsável explicou que, desde 2024, através de uma empresa, explorava o Lar de Garvão e que, no sábado, para dar resposta a um "pedido com caráter de urgência feito por familiares na véspera, foi excecionalmente admitido um utente temporário".
"No momento da admissão, não foi comunicado qualquer elemento clínico, para além dos motivos da deslocação à urgência, perfeitamente naturais atendendo à sua idade, que justificasse cuidados especiais relativamente a esta pessoa", alegou.
Contudo, o utente, de 92 anos, cerca das 22:30 de sábado, "num ato completamente imprevisível, após ter conseguido remover um apoio metálico da casa de banho, agrediu os seus companheiros de quarto e uma outra utente, provocando ferimentos que levaram ao falecimento de um deles", enquanto o outro permanece internado, relatou.
O utente "tentou ainda agredir um militar da GNR que acorreu ao local", acrescentou Sérgio Delgado, insistindo que "a pessoa responsável por este incidente não era conhecida do pessoal do lar, não havendo, por isso, qualquer informação prévia que justificasse a adoção de cautelas específicas".
Em relação à divulgação de que o lar "se encontraria em situação ilegal, devido a falta de licença, o responsável justificou que essas "situação de irregularidade decorre exclusivamente da não emissão da licença de funcionamento, resultante de uma falha procedimental associada a um excesso de zelo burocrático" das entidades competentes.
O lar "continuou a funcionar, sendo certo que de forma irregular", mas "prestando aos seus utentes um serviço de qualidade e digno, facto reconhecido, de forma pública e inequívoca, pelos próprios utentes e seus familiares", notou.
Na segunda-feira, em esclarecimentos enviados à agência Lusa, o Ministério do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social revelou que o lar em Garvão, "a funcionar ilegalmente", foi encerrado no domingo e que os 33 idosos aí residentes (23 mulheres e 10 homens) foram retirados e encaminhados pelo Centro Distrital de Beja da Segurança Social para "respostas sociais condignas" (dois ficaram com familiares).
Um homem de 96 anos morreu já no hospital de Beja, para onde foi transportado após ser agredido no lar, no sábado à noite, pelo utente de 92 anos, que feriu com um ferro outros dois residentes na instituição, um homem de 68 anos e uma mulher de 60, disse à Lusa fonte do Comando Territorial de Beja da GNR, no domingo.
Fonte da Polícia Judiciária, que prossegue as investigações, disse, na segunda-feira, que o presumível agressor está "internado compulsivamente em psiquiatria", por determinação do delegado de saúde.
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