Empréstimos com juros de 10% rendem 700 mil euros a grupo criminoso do Porto
Mesmo após a liquidação dos montantes, as vítimas eram ameaçadas de morte para continuarem os pagamentos. Pelo menos uma família emigrou para escapar ao grupo criminoso.
Três homens foram detidos pela Polícia Judiciária (PJ), no Porto e em Matosinhos, por extorsão agravada, usura agravada e associação criminosa. São suspeitos de integrarem um grupo criminoso que emprestava dinheiro, com taxas de juro na ordem dos 10%, a pessoas em dificuldades. E, mesmo após os empréstimos liquidados, continuavam a exigir pagamentos às vítimas, mediante ameaças de agressão e até de morte. Terão sacado 700 mil euros desde 2020.
Cada um dos elementos do grupo tinha uma função específica. Alguns dos suspeitos identificavam as vítimas e propunham-lhes empréstimos de dinheiro. Como estavam a passar dificuldades financeiras e algumas não conseguiam recorrer à banca, acreditavam estar perante a solução para os problemas que enfrentavam. Ao aceitarem tal proposta, as vítimas recebiam o montante de que necessitavam e acordavam o pagamento de prestações mensais.
Apesar do escrupuloso cumprimento desses pagamentos com juros de dois dígitos até à liquidação dos empréstimos, as vítimas eram mais tarde surpreendidas com novas exigências dos suspeitos para que continuassem a pagar essas prestações. Ao discordarem, as vítimas e os familiares eram constrangidos com ameaças de morte e de agressões. Com medo, algumas aceitaram formalizar confissões de dívida em favor dos suspeitos e, até, a continuação dos pagamentos exigidos.
Entre as dezenas de vítimas, maioritariamente do Grande Porto, estão alguns empresários.
“Algumas das vítimas, temendo a concretização dessas ameaças, alteraram o modo de vida havendo inclusive referências no processo da deslocação para o estrangeiro de uma dessas famílias com receio das ameaças que lhes eram dirigidas”, explicou ontem em conferência de imprensa o coordenador Secção Regional de Contraterrorismo e Banditismo da Diretoria do Norte da PJ.
Com este esquema levado a cabo pelo menos desde 2020, altura em que as dificuldades económicas se agravaram para algumas das vítimas devido à pandemia, os suspeitos lucraram cerca de 700 mil euros, o que permitia que mantivessem um nível de vida elevado. Além de prova documental, a PJ apreendeu ainda dezenas de milhares de euros, artigos de luxo, como relógios e joias, e ainda carros de alta cilindrada.
Durante as buscas a PJ deteve ainda em flagrante outro homem por posse de arma proibida.
Número de vítimas por apurar
A investigação da PJ do Porto, que iniciou em 2024, já conseguiu identificar dezenas de vítimas, contudo o número total está longe de ser conhecido dado que muitas delas, por medo e até vergonha, não denunciaram os crimes às autoridades.
Suspeitos com antecedentes
Todos os detidos, com idades entre os 29 e os 59 anos, têm antecedentes por crimes contra a liberdade pessoal e posse de arma proibida. Um dos visados já tinha sido investigado no passado por situações idênticas.
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