Entrega-se duas vezes na cadeia

Bernardo, 62 anos, esteve duas horas à porta do Estabelecimento Prisional de Paços de Ferreira. Na terça-feira, aguentou a chuva e o frio e, apesar de ter uma cópia do mandado de detenção, não o deixaram entrar. Acabou por ir embora. Só ontem de manhã, à segunda tentativa, conseguiu começar a cumprir a pena de cinco anos e meio de prisão a que foi condenado, pelo Tribunal de Santo Tirso, num caso de extorsão e roubo. "Segundo ele conta, mandaram-no embora e disseram para ir almoçar bem", relata Pedro Miguel Carvalho, advogado do condenado, que critica o caso.

"Este sistema arcaico não faz sentido nenhum. É irreal acontecer isto. Não haver uma base de dados que permita às forças de segurança perceber, em minutos, se a pessoa que têm à sua frente tem um mandado de detenção pendente", atira Pedro Miguel Carvalho. "Acabei por ser eu a notificar o tribunal de que sexta-feira [ontem] ele iria apresentar-se de novo na cadeia. E aí acabou por ser cumprido o mandado", contou ainda o causídico, indignado com o tratamento dado ao condenado.

"Seria no mínimo normal que quando alguém se entrega, seja levado para uma sala onde aguarda que os dados sejam confirmados. Obrigar a esperar cá fora, tanto tempo, dá azo a arrependimentos e neste caso não estamos a falar de um criminoso perigoso", rematou.

Fonte da Direção-Geral dos Serviços Prisionais disse à Lusa que a pessoa em causa "se ausentou" da portaria da cadeia enquanto era verificada a veracidade do mandado.