INFERNO NA LINHA DE SINES

Uma imagem dantesca, em que sobressaía uma amálgama de ferros contorcidos, tomou ontem conta da Linha de Sines, no troço entre S. Bartolomeu da Serra e Abela, na sequência do choque frontal entre dois comboios de mercadorias que seguiriam a 90 quilómetros horários, de que resultaram dois mortos e dois feridos.

15 de maio de 2003 às 00:01
INFERNO NA LINHA DE SINES Foto: Madalena Lino
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O alerta chegou aos bombeiros às 03h50, como adiantou ao CM Alcino Marques, coordenador distrital de bombeiros e protecção civil. As causas do acidente estão por apurar mas é provável que o desrespeito por um sinal vermelho por parte do maquinista do comboio proveniente de Sines esteja na origem do sinistro. As razões para esse procedimento estão a ser investigadas.

As vítimas mortais foram o maquinista, de 53 anos, e o operador de apoio do comboio que circulava de Sines para a Central do Pego carregado de carvão. Os dois corpos ficaram bastante calcinados.

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O maquinista, de 39 anos, e o operador de apoio, de 22, do comboio proveniente de Souselas e com destino a Sines, que seguia vazio, conseguiram saltar da locomotiva e foram recolhidos pelos bombeiros numa passagem-de-nível, alguns metros à frente. Ambos com queimaduras, não correm no entanto perigo de vida, tendo sido transferidos para o Hospital Distrital de Setúbal.

A remoção dos corpos foi um trabalho moroso e difícil, sobretudo a do segundo a ser encontrado. Localizado cerca das 12h00, só por volta das 15h30 foi retirado dos destroços.

Nesse período, os bombeiros desenvolveram um trabalho que obrigou ao uso de um maçarico, ao recurso a pás e à utilização de um carro de desencarceramento.

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Esta locomotiva estava ‘dobrada’, tendo sido encontrado o corpo do maquinista na parte que dobrou e o segundo na traseira da mesma. “Isto leva-nos a crer que eles, ao se aperceberem que iam chocar, tentaram fugir”, referiu.

Numa linha em que a segurança é apontada como palavra de ordem, a estupefacção pelo sucedido era grande entre os elementos da CP e da Refer. O presidente da CP, Crisóstomo Teixeira, afirmou à Lusa que as probabilidades de acontecer um acidente do género são muito baixas, “porque as taxas de falha por avaria são inferiores a uma por milhão de casos”.

Braz Coelho, da Refer – a empresa concessionária da rede ferroviária, indicou ao nosso jornal que “a linha de Sines está equipada com um sistema avançado de segurança que se for respeitado evita este tipo de casos”.

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Ainda ontem, o Instituto Nacional de Transportes Ferroviários constituiu uma comissão de inquérito para averiguar as causas do acidente.

SEGURANÇA INSUFICIENTE

Um sistema de segurança avançado foi instalado nos últimos anos na Linha de Sines, na qual só circulam comboios de mercadorias. Dispõe de comando centralizado de tráfego por sinalização electrónica, controlo automático de velocidade, ‘Convel’, e sistema de comunicações entre o posto de comando e o maquinista. Ainda assim, verificou-se o acidente, que mobilizou 23 homens, com dez viaturas, das corporações de Bombeiros de Santiago do Cacém e de Santo André. Presente esteve também uma equipa de socorro da CP para remover o material e ainda um dispositivo da GNR. Um comboio de socorro proveniente do Barreiro ajudou a desimpedir a ferrovia e a zona.

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CASO GRAVE NO ALGARVE

Seis pessoas morreram e 14 ficaram feridas na colisão de dois comboios, em 8 de Novembro de 1997, em Pardais, entre Estômbar e Portimão, o caso mais grave do género nos últimos anos, no País. As composições chocaram ao princípio da noite e uma falha humana no movimento de um dos comboios foi apontada como a causa. Os comboios deviam cruzar-se em Portimão, mas um entrou na via única sem esperar.

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