"Obviamente algo falhou". Mas não terão sido as câmaras nem a falta de guardas: Autoridades falam sobre a fuga de Vale de Judeus
Alerta para a evasão foi dado 40 minutos depois da saída. Recluso transferido de Monsanto "contra opinião técnica".
Numa conferência de imprensa que reuniu as principais figuras das autoridades portuguesas, os seus representantes tentaram explicar todos os detalhes sobre a fuga de cinco reclusos de Vale de Judeus, desde o momento da evasão - reparado 40 minutos depois pelas autoridades - até às operações de busca.
O Diretor-geral de Reinserção e Serviços Prisionais, Rui Abrunhosa Gonçalves, revelou que a saída dos reclusos ocorreu às 9h56, tendo sido comunicada aos órgãos de polícia criminal cerca de 40 minutos depois, "quando se apercebeu que tinha havido uma fuga" em Alcoentre, em Lisboa.
Quando regressavam às celas, os guardas aperceberam-se da ausência de cinco reclusos.
Apesar de, durante todo o sábado, a falta de efetivos nas prisões portuguesas ter sido duramente criticada por várias fontes ligadas aos serviços prisionais, Abrunhosa Gonçalves defendeu que trabalhavam, no momento da evasão, o número normal de guardas.
"O número de efetivos era de 33, aquilo que corresponde a dois turnos de 15 indivíduos, o que está no regulamento", explicou. Ainda que tenha defendido que a falta de profissionais não justifica a fuga, Abrunhosa Gonçalves entende como "óbvia" a falta de guardas nas prisões portuguesas: "Temos efetivamente uma falta de guardas".
Abrunhosa Gonçalves admitiu que "algo correu mal" e que tudo está a ser feito para "perceber o que falhou". "Se não houver ninguém a ver as câmaras é muito grave, é uma falha muito grande", assumiu.
Todavia, o Diretor-geral de Reinserção e Serviços Prisionais recusa apresentar a sua demissão. "Eu diria que é muito fácil quando acontece alguma coisa destas atirar a toalha ao chão", assegurou.
Abrunhosa recordou a tentativa de fuga de um dos reclusos, sem especificar qual, da prisão de Monsanto, para dizer: "Se ele estivesse em Monsanto não teria fugido".
Segundo o diretor, o recluso foi transferido da cadeia de alta segurança de Monsanto contra a opinião técnica da Direção-geral de Reinserção e Serviços Prisionais.
"Controlo de fronteiras não foi equacionado"
O Secretário-geral adjunto do Sistema de Segurança Interna, Manuel Vieira, comunicou que o controlo de fronteiras nunca foi equacionado e que, caso acontecesse, teria de ter aval dos órgãos governativos.
"Nunca foi equacionada a posição de controlo de fronteiras, porque exige medidas e comunicações muito específicas", disse.
Manuel Vieira explicou o funcionamento do Sistema de Segurança Interna, que, assim que foi dado o alerta para a fuga, avisou vários centros fronteiriços.
"Esta investigação não é simples, é complexa, a ideia de que pode haver resultados imediatos é falaciosa", defendeu.
Criminosos perigosos
O Diretor Nacional da Polícia Judiciária, Luís Neves, explicou que o fugitivo georgiano Shergili Farjiani é o único a quem não se reconhece "elevado grau de violência". Como o Correio da Manhã revelou, os restantes reclusos têm um largo passado ligado ao crime.
O diretor da PJ avança que ainda não foi identificado nenhum dos três elementos que apoiou a fuga.
O Tenente Coronel João Fonseca, Comandante Territorial da GNR em Lisboa, justifica que a "colaboração e a cooperação" serão chaves para o sucesso das buscas. A GNR mobilizou equipas de patrulhamento e investigação criminal
"Do lado da PSP [tentamos] garantir que tudo foi feito e que tudo está a ser feito. Fizemos várias comunicações ao longo da tarde para o alerta da perigosidade", disse o representante da PSP presente na conferência.
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