Juízes recusam salários em função do trabalho

O ex-ministro da Economia, Eduardo Catroga, sugeriu ontem a implementação de um sistema de remuneração variável para os juízes, em função do cumprimento de objectivos estabelecidos, defendendo uma “revolução” no sistema de Justiça.

22 de junho de 2007 às 00:00
Juízes recusam salários em função do trabalho Foto: Sérgio Lemos
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A proposta, apresentada pelo antigo governante durante a conferência ‘O Sistema de Justiça e a Competitividade da Economia’, foi imediatamente rejeitada pelos magistrados, os quais lembram que a aplicação desse sistema aos juízes chegou a ser instituída em Espanha, tendo depois sido declarada inconstitucional, por violação do princípio da independência do poder judicial.

“Com certeza, atendendo à origem profissional do senhor professor, é compreensível que a sua perspectiva esteja desfocada pelos números e percentagens. Só assim é compreensível a sua declaração”, disse ao CM o presidente da Associação Sindical dos Juízes Portugueses, António Martins. E acrescentou: “É pena que enquanto o professor foi ministro, o seu salário também não tivesse sido fixado em função dos objectivos alcançados.”

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PREMIAR OS TRABALHADORES

Também o juiz Edgar Lopes, da Associação de Juízes pela Cidadania, rejeitou a sugestão, embora admita a possibilidade de se estudar uma forma de premiar os juízes que mais trabalham, paralelamente àquilo que já acontece com os que menos trabalham, que são reformados compulsivamente. “Tudo o que seja um incentivo ao mercantilismo dos juízes é um mau princípio, sem prejuízo de poder ser estudada uma forma de premiar quem trabalha muito e supera todos os obstáculos do sistema”, disse Edgar Lopes ao CM.

Tal como António Martins, o magistrado da Associação de Juízes pela Cidadania lembrou que o sistema de remuneração variável “resultou pessimamente em Espanha”.

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A proposta de Catroga para os salários dos juízes é semelhante à aplicada aos gestores públicos, com a entrada em vigor, há um mês, do Estatuto do Gestor Público, que prevê uma componente fixa e uma variável na remuneração.

PRIVATIZAÇÃO

O advogado Daniel Proença de Carvalho defende que para resolver o problema da Justiça em Portugal é preciso avançar para uma maior privatização do sector e apostar no desenvolvimento dos centros de arbitragem, uma vez que o Estado não consegue dar resposta à necessidades dos cidadãos e das empresas.

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MAPA JUDICIÁRIO

O ex-ministro da Justiça, José Pedro Aguiar Branco, considera que a reforma da Justiça deve assentar na alteração do mapa judiciário, redistribuindo tribunais e recursos humanos a estes afectos, e na formação dos magistrados: “É vital que se proceda à concretização de um novo mapa judiciário, evitando disparidades do número de casos entre os vários juízes.”

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