Médica detida por prescrever medicação a falsos diabéticos era investigada desde 2020
Mulher terá lesado o Estado em mais de três milhões de euros.
A endocrinologista detida esta quarta-feira, no Porto, por alegado envolvimento num esquema fraudulento de prescrição de medicação para diabetes a utentes que queriam perder peso, andava a ser investigada desde 2020, revelou esta quarta-feira um coordenador de investigação criminal da PJ/Porto.
"Esta investigação representa o esforço de mais de quatro anos de recolha e correlação de provas", disse Rui Zilhão, em conferência de imprensa.
A investigação, que mostra que a médica já fazia prescrições deste tipo de medicamentos desde 2014, começou depois de uma denúncia, contou.
A médica terá lesado o Estado em mais de três milhões de euros, por via do pagamento de taxas de comparticipação, obtidas de forma fraudulenta, vincou.
Além desta endocrinologista, que foi detida e que será presente na quinta-feira a primeiro interrogatório judicial, foram ainda constituídos arguidas mais três pessoas, nomeadamente outra médica, um advogado e uma empresa, referiu.
Em causa estão crimes de burla qualificada e de falsidade informática, sublinhou.
Segundo Rui Zilhão, a investigação já recolheu prova suficiente para indiciar que um grupo de pessoas, assim como uma empresa, gizou um estratagema para prescrever medicações, especialmente destinadas ao tratamento da doença de diabetes mellitus tipo 2, a pessoas que queriam perder peso.
Serão entre 1.000 a 2.000 os utentes a quem aquela médica prescrevia esta medicação, revelou.
Sendo que, acrescentou, um dos passos seguintes passa por apurar se aquelas pessoas padecem ou não de diabetes.
Rui Zilhão explicou que, pelo que conseguiram apurar, os utentes iam passando a palavra de que determinada clínica tinha excelentes resultados ao nível do emagrecimento.
"Depois, o mecanismo como era prescrita a medicação ainda está em apreciação", reforçou.
A prescrição de medicamentos a doentes que não padecem das doenças para as quais foram prescritos preocupa não só a sociedade portuguesa, mas também a PJ, sublinhou.
"Por isso, não podemos deixar de atuar quando tais situações ocorrem, particularmente, quando provocam escassez dos medicamentos no mercado", apontou.
Motivo pelo qual, a PJ criou uma equipa especializada neste tipo de fraude contra o Serviço Nacional de Saúde (SNS), destacou.
O coordenador de investigação criminal frisou que as buscas, que deverão estar concluídas no final do dia e que envolvem 40 inspetores da PJ e Autoridade Tributária, visam as casas dos arguidos, um escritório de advogados e uma clínica de saúde no Porto e a sede de duas empresas em Albufeira, no distrito de Faro, e no Funchal, na Madeira.
Estão ainda a ser feitas buscas em gabinetes de contabilidade em Santa Maria da Feira e Lousada, concelhos do distrito do Porto, concluiu.
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