Morreu Catalina Pestana, a voz amiga das vítimas da Casa Pia

Antiga Provedora marcou instituição durante o escândalo de pedofilia. Esteve sempre do lado das vítimas.

23 de dezembro de 2018 às 01:30
Catalina Pestana Foto: Sérgio Lemos
Catalina Pestana Foto: Sérgio Lemos
Ao papa João Paulo II pediu, no Vaticano, que rezasse pelas vítimas de pedofilia da casa pia Foto: Direitos Reservados
Cavaco Silva condecorou Catalina pestana no dia 10 de junho de 2007 Foto: Direitos Reservados
Na sentença, em setembro de 2010, abraçada a Pedro Namora Foto: Mariline Alves
Processo Casa pia chegou ao fim com penas de prisão para a maioria dos arguidos, entre os quais Carlos Cruz Foto: Carlos Laranjeira
Com Bagão Félix, ex-ministro da Segurança Social, em 2002 Foto: Tiago Sousa Dias
Souto moura garantiu a atenção da Procuradoria Foto: Sérgio Lemos

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Se eu fosse discreta não tinha havido processo. Vou carregar este fardo a vida toda com muita honra." A frase resume o impacto que Catalina Pestana teve na Casa Pia de Lisboa e na sociedade portuguesa.

Uma mulher que tanto era vista como ‘a dama de ferro’ como ‘a mãe dos gansos’, apelido dado aos menores acolhidos na instituição. Morreu este sábado, vítima de uma infeção generalizada, num hospital de Lisboa em que estava internada há duas semanas.

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Maria Catalina Batalha Pestana nasceu no Barreiro a 5 de maio de 1947 e foi entre o Tejo e o Sado que cresceu. A licenciatura em Filosofia motivou a travessia para Lisboa da margem Sul do Tejo. Tornou-se professora num colégio feminino aos 24 anos e organizadora de férias para filhos de presos políticos, o que a colocou sob vigilância da PIDE.

Em 1975 chegou à direção do Colégio de Santa Catarina, a única escola mista da Casa Pia. Dali saiu para dar aulas de Análise Sócio-Histórica da Educação na Faculdade de Motricidade Humana.

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Mas voltou em dezembro de 2002, uma semana depois de rebentar o escândalo de pedofilia, agora para o cargo de Provedora da Casa Pia.

As suspeitas existiam há décadas, mas foi com Catalina que as crianças passaram a ter alguém que as defendesse. "Hoje sou uma pessoa melhor porque mergulhei no sofrimento indizível de mais de uma centena de miúdos", disse numa entrevista ao CM em 2012, cinco anos depois de deixar o cargo.

Catalina Pestana quis proteger as crianças, mas assumia que o problema tinha 200 anos. "Conheço a Casa Pia muito bem e respeito-a, mas se fosse o ministro da tutela encerrava e construía de novo." A Casa Pia não fechou, mas mudou, para melhor, por causa de Catalina.

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Cerimónias Fúnebres este domingo em Oeiras

Intransigente na defesa das crianças

Conselho Diretivo da Casa Pia.

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Frases marcantes de Catalina Pestana:

"Quem está em julgamento é a guarda avançada, o grosso da coluna está cá fora"

"Pode haver pedofilia na Casa Pia, em qualquer outra instituição do mesmo cariz, na minha casa, na casa de cada um de nós"

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"Nada ultra-passará as feridas que foram reabertas vezes sem conta com o processo casa Pia"

"há uma Justiça para os pobres e outra para os ricos e podero-sos. Se eu tinha dúvidas, perdi-as comple-tamente"

"Os miúdos contaram-me coisas horríveis. De tal maneira que Quando alguns saíam do meu gabinete eu vomitava"

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