Orlando Figueira ataca banqueiro Carlos Silva: "mente com todos os dentes"

Tribunal promove acareação entre Carlos Silva, Orlando Figueira e Paulo Blanco no caso da Operação Fizz.

09 de maio de 2018 às 12:08
Carlos Silva Foto: Miguel Baltazar
Banqueiro Carlos Silva Foto: David Martins
Orlando Figueira assinou um contrato com a empresa Primagest Foto: Pedro Catarino
Orlando Figueira, ex-procurador do DCIAP, está acusado dos crimes Foto: Pedro Catarino

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As declarações do banqueiro angolano Carlos Silva no âmbito do julgamento da Operação Fizz, entraram em contradição com o que haviam dito os arguidos Orlando Figueira e Paulo Blanco sobre as relações e o  contrato do ex-procurador com o banco Atlântico levaram o Tribunal a determinar uma acareação entre os três.

O tribunal decidiu que efetivamente o testemunho do banqueiro está em manifesta oposição com os arguidos.

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No início da acareação, Orlando Figueira (OF) contou como conheceu Carlos Silva, num encontro que aconteceu em Luanda. "Estava no meu quarto no Hotel Trópico. Paulo Blanco foi chamar me e fomos tomar café. Carlos Silva sabe que é verdade.

Neste ponto, Carlos Silva (CS): "É mentira. É falso. Sem conhecer o curriculum não podia ser".

OF - Foi sozinho. vestia uma indumentária informal. Estivemos os quatro, com a mulher do Blanco. O que diz Carlos Silva é falso. O Carlos Silva começa a falar de Angola, da semana da legalidade, do processo BANIF...

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OF - Carlos Silva conhecia as minhas conferências em Angola. Conhecia o meu curriculum. É ali que ele me faz o primeiro convite

CS - É absurdo contratar alguém porque li notícias sobre conferências em Angola. 

OF -  Eu não disse que foi de propósito para me convidar. Foi ter com o Blanco e depois faz o convite. Eu disse, quem sabe um dia quando me reformar

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CS - Reitero o que disse, é mentira

OF -Este sujeito , este indivíduo, propôs-me no Ritz o lugar de diretor jurídico por 15 mil dólares líquidos.

OF - [sobre o que Carlos Silva terá combinado com o advogado Paulo Banco sobre o contrato] Tenho processos ainda em mão, mas o Carlos Silva diz que ficas encarregue de elaborar o esboço de contrato promessa.

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OF - Em setembro, quando tratava das tornas do meu divórcio, precisava de um empréstimo e fomos ao banco privado [do Atlântico]. Estava o dr. Carlos Silva. Perguntou quanto precisava. Disse 130 mil. Ele disse logo que sim, Até porque a maior garantia é que eu ia trabalhar com ele

CS - [o banqueiro ri-se] É uma história. No banco ninguém pergunta 'quanto é que precisas?'.

OF - Quando eu me divorciei, em novembro, disse ao Blanco que podíamos avançar para o contrato. A minuta do contrato promessa não dizia que os impostos ficavam a cargo da entidade patronal. Pedi para alterar. E disse-lhe para lhe [a Carlos Silva] mandar um mail a alertar. Mas o dr. Carlos Silva mentiu com todos os dentes que tem ao dizer que não viu".

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OF- Eu era um magistrado imaculado. Num organismo de elite. Não ia abandonar uma carreira sem nada. É brincar com a vida de uma pessoa... dizer que não recebeu os contratos.

OF - Aparece depois um contrato com a Finicapital que seria quem me ia contratar... e Carlos Silva diz que não conhece. Depois é alterado e aparece a Primgest. Para mim, o meu empregador era Carlos Silva, mas aceitei o contrato.

OF - Recebo a primeia tranche, 210 mil dólares. Foi o que exigi no Ritz, um ano adiantado. Passaram meses e ninguém fala comigo. Até que sou chamado para o BCP. Pensei que Carlos Silva tivesse falado com o banco para eu ir trabalhar para lá.

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Orlando Figueira conta como o advogado Proença de Carvalho entrou no processo da sua contratação.

Orlando Figueira sublinhou que quando lhe propuseram o contrato final disseram que a condição era abrir uma conta em Andorra e foi o que fez, fragilizado. "Iglesias Soares, administrador do BCP, disse-me para eu ter calma. É quando me manda ir falar com o Proença de Carvalho", sublinhou. 

Segundo Orlando Figueira, "o senhor é um mentiroso quando diz que o Proença não é o seu advogado", referindo que fez uma encomenda a um cidadão angolano, chamou a sua irmã ao Ibis e disse-lhe para ele empurrar para o morto, uma vez que os mortos não falam. "Abordaram a minha irmã e isto já foi no julgamento", explicou. 

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Carlos Silva está impassível, não responde. CS reitera o que já disse. OF diz que ninguém acredita que o escritório de Paulo da Cunha lhe cobrasse apenas dez mil euros, tendo sido só o que lhe pagou. 

Paulo Blanco, advogado e arguido, diz que houve encontro no hotel trópico com Orlando Figueira.

PB reforça que confirmou depois a inquirição pedida por Rosário Teixeira e confirma ainda o que foi dito por Orlando Figueira. "No hotel Ritz ouvi a conversa do almoço entre o Orlando Figueira e o Carlos Silva. Pôs a vida em cima da mesa... O Orlando Figueira estava a divorciar-se. Expôs a sua vida pessoal e estava disponível para ir para Angola", confessou. 

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"O Carlos Silva disse que precisava de gente qualificada. Foi por isso que mandei um email, porque foram ali discutidos os termos do contrato. E mandei um email ao Carlos Silva com a minuta", explicou PB, referindo que depois, sim, existe o pedido do empréstimo por causa do divórcio de Orlando Figueira. "Falei com o Dr. Carlos Silva. Levei-o até ao gabinete do Carlos Silva para tratar do empréstimo", explicou PB.

"Passando novamente para o contrato, mandei a minuta, com partes em branco, porque não se sabia quem ia contratar, se era o banco de direito angolano ou português. Depois disso, recebo indicações de que não pode ser o Banco Privado Atlântico e dizem-me que vai para a Finicapital", concluiu.

A Operação Fizz assenta na acusação de que Manuel Vicente pagou 760 mil euros a Orlando Figueira, para que este arquivasse dois inquéritos, um deles o caso da empresa Portmill, relacionado com a aquisição de um imóvel de luxo no Estoril em 2008.

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