Dor e revolta em tragédia na Figueira
Povo revoltado com inércia no resgate a sete pescadores.
"Deixaram-nos a morrer, deixaram-nos morrer! Os homens a gritar por socorro, na balsa salva-vidas, e ninguém os conseguiu salvar", desabafavam na noite de terça-feira à noite dezenas de pescadores junto ao molhe sul da Figueira da Foz – quando os meios da Marinha tentavam resgatar os sete pescadores que chegavam da faina no arrastão ‘Olívia Ribau’. As buscas para encontrar os quatro desaparecidos no naufrágio recomeçaram na alvorada desta quarta-feira, disse à Lusa o comandante Nuno Leitão.
O barco naufragou quando entrava no porto, eram 19h15. Resultado: dois pescadores ficaram agarrados ao casco do barco afundado e foram salvos por uma mota de água. Dos outros cinco, um morreu e quatro continuavam desaparecidos esta terça-feira à noite. Três são da Figueira da Foz, um de Mira e outro de Caxinas. Os sobreviventes são dois irmãos, Adriano e Paulo, com 37 e 29 anos, de Leirosa, na Figueira.
Viveram-se momentos de grande revolta no local, com amigos e familiares dos pescadores a criticarem a forma como foi feito o socorro. "É uma vergonha. Eu ouvi-os a gritar por socorro e ninguém foi capaz de os ajudar. Estavam todos aqui [no molhe] de mãos nos bolsos", disse um familiar do mestre da embarcação.
Barco antes do naufrágio
O naufrágio foi testemunhado por outros pescadores, surfistas e pessoas que passeavam no molhe. "A embarcação estava a entrar no porto e esperava por ondulação favorável. Eu comecei a ver o barco a inclinar-se até o mastro bater na água. Aí começou a ser engolido até desaparecer", conta Rogério Silva, que pescava em terra.
Esta testemunha adianta que "o mar estava bravo e as ondas eram grandes, mas ainda havia luz. Não se percebe porque é que eles não foram socorridos".
Os familiares mal souberam do naufrágio invadiram o local onde decorreram as buscas. Temia-se o pior, porque o estado do mar "estava muito perigoso". Viveram-se momentos de pânico porque "vai ser difícil que regressem com vida", disse uma peixeira que negociava peixe que a tripulação pescava.
Após o acidente, a Polícia Marítima enviou para o local uma lancha e uma mota de água. O tripulante da moto – um agente de folga – teve dificuldades em socorrer os dois sobreviventes face à agitação marítima. O helicóptero acionado pela Marinha chegou pelas 21h00. Momentos depois, era encontrado o corpo de um dos cinco pescadores.
À hora de fecho desta edição continuavam os trabalhos de busca pelos outros quatro.
Dois irmãos conseguiram salvar-se
Os dois pescadores que se agarraram ao casco e conseguiram salvar são irmãos. Adriano e Paulo Conceição, de 37 e 39 anos, residentes na praia da Leirosa, Figueira da Foz, conseguiram aguentar a força do mar até serem resgatados pela mota de água. Joaquim, residente em Cova, foi resgatado sem vida. O mestre Rui, Adriano (irmão de Joaquim), Arménio e um outro homem das Caxinas estavam desaparecidos.
Dezenas em desespero por boas notícias
Dezenas de pessoas concentraram-se esta terça-feira à noite na zona onde decorreram os trabalhos de socorro. Umas criticaram a alegada falha de socorro, outras rezavam. "Que Deus ajude estas pessoas", disse Maria Santos.
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