“A conta vai para o gabinete”: Viúva do irmão de Sócrates diz que férias eram pagas pelo antigo primeiro-ministro
Tânia Gouveia explicou na 23.ª sessão da Operação Marquês que José Sócrates "não viajava sozinho, era sempre em comitiva".
A viúva do irmão de José Sócrates, Tânia Gouveia, foi ouvida no Campus da Justiça, Lisboa, esta quinta-feira, no âmbito da 23.ª sessão da Operação Marquês.
Durante a investigação, a viúva de António Pinto de Sousa, falecido em 2011, contou aos investigadores que as férias de luxo no Algarve, no Brasil e em Itália eram sempre pagas pelo antigo-primeiro ministro e revelou também entregas de dinheiro na Suíça.
Férias pagas pelo Sócrates
"Fazíamos férias juntos [com Sócrates], sem nunca nos vermos. Raramente nos sentávamos juntos à mesa", começou por dizer Tânia Gouveia ao procurador do MP, Rómulo Mateus. A viúva recordou "várias" férias passadas com o antigo primeiro ministro. "O José Sócrates não viaja sozinho, era sempre em comitiva. A namorada e mais gente", admitiu em tribunal.
A viúva foi questionada acerca de Carlos Santos Silva e respondeu que o conhecia. "Fizemos férias juntos, sim. Mas não houve um relacionamento. Quando íamos para férias, ele estava presente", disse.
Sobre o pagamento das férias passadas "em comitiva", Tânia Gouveia referiu que o companheiro, António Pinto de Sousa, "não tinha dinheiro para isso. Era funcionário público". Nesse seguimento, era José Sócrates quem pagava as férias do grupo. "Tenho a certeza que era Sócrates que pagava tudo", afirmou.
Inclusive, a mulher recordou umas férias em 2011 onde José Sócrates não esteve presente. Tânia terá ligado para a receção do hotel para perguntar sobre o pagamento da conta. "Disseram: 'não se preocupe, a conta vai para o gabinete'", revelou a viúva do irmão de José Sócrates.
O procurador divulgou que os registos apontam para valores que ultrapassam os seis mil euros pagos pelo irmão de Sócrates. Ao que a viúva respondeu que "não é possível", uma vez que existia "secretismo à volta do dinheiro". Acrescentou ainda que não se podia falar de dinheiro. "Era impossível perguntar [sobre dinheiro]. E se perguntávamos, éramos mal tratados", disse.
Tânia Gouveia revelou que partilhava uma conta com António Pinto de Sousa e que este tinha uma conta conjunta com a mãe. Nesse seguimento, explicou que não tinha conhecimento de que o irmão de Sócrates tinha recebido sete mil euros antes de umas férias no PineCliffs.
"Não faço ideia do que se passava entre a Maria Adelaide, o António e o irmão [José Socrates]", disse.
Venda de casas da mãe de Sócrates
Questionada sobre a venda de habitações de Maria Adelaide, mãe de Sócrates, Tânia Gouveia voltou a afirmar que não tinha conhecimento. "Sei que estas casas eram no Cacém. Não fui consultada para nada. Parece incrível? Não é?", explicou.
Segundo a viúva, António Pinto de Sousa "foi fazer as escrituras com o Carlos Santos Silva" e a companheira só teve conhecimento "pelo procurador Rosário Teixeira no DCIAP". Sobre as vendas que ocorriam na família, revelou que "era tudo tratado com secretismo, autoridade, arrogância, prepotência".
Tânia Gouveia revelou, por fim, que a sogra não ajudava monetariamente os filhos. "Todas as nossas dificuldades eram pagas com o nosso dinheiro", concluiu.
José Sócrates, antigo primeiro-ministro, é um dos arguidos da Operação Marquês e está a ser julgado por três crimes de corrupção, seis de fraude fiscal e 13 de branqueamento de capitais.
Entre os arguidos deste processo está também o antigo presidente do BES Ricardo Salgado, que está acusado de 11 crimes de corrupção ativa e de branqueamento de capitais. Assim como Carlos Santos Silva, nomeado por José Sócrates, para movimentar o dinheiro para as contas do antigo primeiro-ministro.
O processo conta com mais de 650 testemunhas.
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