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Artigo exclusivo

Inspetores do SEF matam cidadão ucraniano com bastão

O CM revela o momento em que os três inspetores do SEF entraram na sala para torturarem Ihor.

16 de dezembro de 2020 às 01:30

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Bruno Sousa levava as 
algemas que foram usadas
Bruno Sousa levava as 
algemas que foram usadas Direitos Reservados
Luís 
Silva entra sozinho com o bastão
Luís 
Silva entra sozinho com o bastão Direitos Reservados
Panos brancos serviram de algemas
Panos brancos serviram de algemas Direitos Reservados
Funcionário conta aos colegas o que viu
Funcionário conta aos colegas o que viu Direitos Reservados
Na imagem é simulado o algemar de Ihor
Na imagem é simulado o algemar de Ihor Direitos Reservados
Depois mostra como ucraniano foi agredido no braço
Depois mostra como ucraniano foi agredido no braço Direitos Reservados
Luís Silva, ao entrar na sala, com o bastão usado para matar 

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Os gritos eram audíveis. As câmaras de videovigilância mostram os funcionários a espreitar, para tentar perceber o que estava a acontecer. Nessa altura, já Ihor estava visivelmente debilitado e numa imagem vê-se mesmo uma mulher, que pertencia à segurança, a tapar o nariz com uma peça de roupa. O cheiro era nauseabundo, Ihor estava prostrado e tinha feito as necessidades fisiológicas no colchão onde o seu corpo tinha sido deixado.

A agonia vivida pelo cidadão ucraniano e o facto de ninguém ter tentado travar a agressão revela muito sobre a ausência de compaixão de todos os que se encontravam naquele espaço. Ihor tinha desmaiado um dia antes, quando entrou no nosso país, na sequência de um ataque epilético - e foi levado ao Hospital de Santa Maria - mas desde aí foi deixado numa sala do SEF, para morrer.

O relatório médico, elaborado a 14 de março, dá conta de que a causa da morte foi asfixia mecânica, mas na altura as autoridades ainda admitiam que pudesse ter sido provocada por uma intervenção mais musculada dos inspetores do Serviço de Estrangeiros e Fronteiras. Só mais tarde chega a Polícia Judiciária o relatório completo que já fala em hematomas múltiplos, costelas partidas e marcas de botas (como as que eram usadas pelos inspetores do SEF, naquela manhã).

Na sala onde Ihor foi espancado não havia câmaras de vigilância. Mesmo assim, e avaliar pelo relato dos funcionários que foram ouvidos na Polícia Judiciária todos perceberam o risco iminente. O que, aliás, é claro no grupo de WhatsApp criado pelos mesmos funcionários, onde alguns chegam a culpar a vítima e a dizer que foi um “sacana”, por recusar sair do País.

Funcionário espreita e conta como foi agressão

Um funcionário que espreitou para a sala onde estava Ihor e os três inspetores do SEF foi depois ter com os colegas e as imagens dão a ideia de que estava a explicar o que aconteceu naquela sala. Numa das imagens é visível o funcionário mostrar como Ihor estava a ser algemado nas costas e noutra parece que mostra que o ucraniano estava a ser agredido no braço.

Os relatos dados depois à Polícia Judiciária dão conta de que Ihor estava já com as mãos roxas e com sinais de estrangulamento da circulação sanguínea, devido às algemas. Há também relatos de seguranças que falam em marcas visíveis de agressões na zona da cara.

Quando Ihor foi assistido pela equipa médica já nada havia a fazer. Na altura já estava em paragem cardíaca e não foi possível a reversão do seu estado clínico. por volta das 18 horas foi declarado o óbito, após várias manobras de reanimação.

Algemas de pano levadas para sala

Numa imagem, gravada por uma câmara no aeroporto, vê-se Luís Silva, um dos inspetores acusados, com um pano na mão. Este momento foi minutos antes de entrar na sala onde estava o cidadão ucraniano.

Desmaia após sofrer ataque epilético

As imagens onde se vê Ihor desmaiar após sofrer um ataque epilético mostram que o cidadão ucraniano não sofreu qualquer convulsão, ao contrário do que foi participado pelos inspetores do SEF.

Relatório de apenas duas páginas

A participação feita pelo SEF ao DIAP é um relato quase cronológico. Revela todos os passos dados por Ihor, mas nunca refere qualquer agressão. Em apenas duas páginas garante-se que, quando tentavam que o cidadão embarcasse para a Turquia, perceberam que este estava morto. A participação refere ainda uma automutilação.

Frases

- "Isto aqui é para ninguém ver", Seguranças atribuem afirmação ao inspetor Duarte Laja

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