Lisa Albarran apresentou ontem queixa na Polícia Judiciária contra o seu marido, o ex-jornalista Artur Albarran, agora ligado ao ramo imobiliário pela empresa americana Euroamer, de Franco Carlucci, por alegada violência doméstica. A agressão terá ocorrido na noite de sábado para domingo, segundo o relato da própria Lisa: “Deu-me um pontapé, sem razão nenhuma. Mas há muito que estou prisioneira na minha própria casa. Tirou-me o carro, os cartões de crédito, o dinheiro.
Ameaça que me destrói a vida, que fica com as filhas. Vivo como uma escrava”.
Confrontado com a queixa da mulher, Artur Albarran negou qualquer agressão e pediu compreensão para o caso já que, segundo alega, Lisa sofre de “uma grave doença mental” que ele próprio não gostaria de ver na praça pública. “Para defesa da minha família, sobretudo das minhas filhas e da própria Lisa”.
Albarran não quis alongar-se em comentários, indicando apenas que a doença de Lisa pode ser confirmada através da sentença do tribunal, transitada em julgado a 13 de Fevereiro, segundo a qual lhe foi atribuído o poder paternal das duas filhas (Linda, de dois anos, e Linny, de quatro) e Lisa inibida de se aproximar das crianças.
Lisa alega que nunca soube deste processo do marido, já que ele a enviou para Londres durante quatro meses (de Agosto a Dezembro) para fazer um alegado tratamento psicológico, a que ela acedeu, mas do qual diz guardar relatórios de que não só não está doente, como o seu marido a “medicava com drogas inadequadas” ao seu estado e que a mantinham em letargia. Quanto à sentença, a mulher de Albarran diz que foi informada da mesma a 30 de Janeiro e que só não recorreu dentro do prazo previsto (13 dias), por não ter dinheiro para o fazer. “O primeiro advogado onde fui pediu-me sete mil e 500 euros só para pegar no processo. Não tenho acesso às contas, nem aos cartões”. Faz ainda questão de referir que estranha como é que o marido nunca a informou e, mesmo levando em conta a sentença do tribunal, a deixou continuar a ver as crianças e a sair, sozinha – “sem ama, nem seguranças” – com elas.
“Convocaram-me sexta para ir lá segunda. Só me perguntaram como tinha sido a minha infância. Nada sobre drogas, álcool. Quando chegou a sentença, chorei, vomitei, rezei”, conta Lisa sobre esse processo. Ele diz que a manteve em casa para a proteger e às próprias filhas.
A história contada por Lisa começa sábado, depois de várias tentativas frustradas de contactar Catarina Fortunato de Almeida, a Provedora CM para a Violência Doméstica (ver outra peça). Há muito que Lisa procurava falar com Catarina, sobretudo depois de ter percebido o impacto da denúncia pública das agressões por ela sofridas e de se ter aconselhado na APAV (Associação Portuguesa de Apoio à Vítima). Até então, achava que ninguém acreditaria nela, tendo em conta o peso do nome do marido. Terá sido sempre demovida desse contacto com Catarina, mas – numa infeliz coincidência – , encontraram-se e falaram em pleno Dia Internacional da Mulher, quando o Governo anunciava um quadro de medidas mais duras para a violência doméstica. Menos de 24 horas depois, Lisa contactava Catarina por ter sido novamente agredida, e foi com ela que deu todos os passos até à queixa na PJ.
Lisa, de 27 anos, conta que foi agredida por Artur, de 50, durante a madrugada de domingo (menos de 24 horas, portanto, do encontro com Catarina), com um pontapé que lhe terá provocado um hematoma de cerca de 30 centímetros na perna direita, depois de mais uma discussão na casa de Nafarros, Sintra. Lisa saiu de casa de manhã, de táxi, e foi observada pelos médicos do Hospital de Santa Maria, em Lisboa, onde denunciou o marido no gabinete da PSP daquele hospital. Depois dos médicos lhe terem prescrito medicamentos para as dores, Lisa seguiu para o piquete da Polícia Judiciária, onde apresentou queixa formal contra Artur Albarran, por violência doméstica.
Já em Dezembro (dia 23) Lisa tinha apresentado queixa (com o número NUIPC0538/02.5 GDSNT) contra Artur Albarran, na GNR de Colares, Sintra, queixa que retirou dia 7 de Fevereiro. A GNR daquele posto foi várias vezes chamada à casa do casal, mas nunca registara qualquer ocorrência. Tudo porque Lisa garante que era “impedida” de falar com os agentes. Albarran alega que Lisa se “auto-mutila”, que todos os amigos têm conhecimento desses casos e que os próprios médicos que depuseram em tribunal afirmam peremptoriamente essa sua tendência, que a terá levado mesmo a tentar “suicídio”. Ela nega. Mas retirou a queixa a 7 de Fevereiro. “Podia ser que ele voltasse atrás”.
Desde Dezembro, aliás, que Lisa resolveu procurar ajuda psicológica na APAV, estando a ser acompanhada quase semanalmente por uma psicóloga daquela instituição. “Não aguentava mais a pressão. Vivia prisioneira. Uma das agressões, nunca me hei-de esquecer, estava com a minha filha mais velha ao colo. A menina também sempre se vai lembrar. Foi horrível”.
Mas a violência existiria desde há muito. “Sobretudo psicológica”, segundo palavras da própria Lisa. O casal conheceu-se há cerca de seis anos, quando Lisa trabalhava como “assistent manager” para uma empresa inglesa de vestuário masculino. Lisa, de origem indo-paquistanesa, nasceu em Hamburgo, na Alemanha, e possui nacionalidade alemã. Trabalhou como modelo e foi nessa qualidade que conheceu Artur Albarran. “Conhecemo-nos num bar, com uma amiga minha. Estive nesse bar seis ou sete vezes, não mais. Nunca lhe escondi nada”.
O ex-jornalista estava divorciado do terceiro casamento. Desses três matrimónios, resultaram três filhos.
Os dois casaram um ano depois, numa cerimónia socialmente bastante badalada e celebrada segundo a tradição “hindu”, no Hotel da Lapa. A partir daí, os dois surgiram muitas vezes nas revistas cor-de-rosa, dando a ideia de um casamento exemplar.
Dentro de casa, contudo, e segundo os relatos de Lisa ontem à Polícia Judiciária, não era isso que acontecia. Agressões físicas terão sido mais de dez nos últimos dois anos, a primeira das quais com Lisa “grávida de seis meses” da segunda filha.
O ambiente era, segundo Lisa, “do conhecimento de empregadas e dos cinco seguranças” que, segundo justificou à mulher, contratou depois dos atentados terroristas de 11 de Setembro ao World Trade Center em Nova Iorque, por ser “um alvo fácil, como presidente de uma das grandes empresas americanas”. Aos amigos, Albarran sempre alegou que os seguranças se deviam precisamente à doença mental da mulher.
Nos últimos meses, Lisa alega que o marido lhe retirou os cartões de crédito, impediu-a de ter acesso às contas bancárias conjuntas, só a deixa sair de casa acompanhada pelo motorista (deixou de ter liberdade para conduzir o carro que está em seu nome) e lhe limita as despesas. Ele confirma, e volta a falar na doença, sublinhando que ela não tem quaisquer condições psicológicas para agir livremente e acrescenta que já gastou muito dinheiro com ela, em diversos tratamentos.
A saída de Artur Albarran de casa estava prevista para hoje desde há muito, mas os acontecimentos da noite de sábado precipitaram a situação e o ex-jornalista deixou ontem mesmo o lar, na companhia das filhas, estando a viver num hotel. Ele garante que não entrou com o processo de divórcio e que até equacionava deixar as crianças, alguns dias, com a mãe, visto serem tão pequenas.
Lisa sente-se só pois não tem qualquer família em Portugal, os amigos são comuns e ainda não domina completamente a nossa língua. “Não sabia o que havia de fazer. Ele sempre me disse que tinha muito poder, que as pessoas iam acreditar nele”.
ARTUR ALBARRAN: PERFIL
Durante mais de vinte anos dedicou-se ao jornalismo, tendo passado pelos três canais da televisão portuguesa. Ex-militante de extrema-esquerda, ganhou notoriedade nos ecrãs da RTP. Foi um dos apresentadores do “Telejornal” e ajudou a fundar o programa “Grande Reportagem”, ao lado de José Barata Feyo.
Na TVI, em 1995, apresentou o “Novo Jornal”, tendo a seu lado as então estreantes Bárbara Guimarães e Sofia Carvalho. Mais tarde passou para a SIC, onde assumiu programas polémicos como “Imagens Reais”, “A Cadeira do Poder” e “Acorrentados”. Dedicado ao jornalismo de guerra, foi enviado especial aos conflitos do Golfo, Jugoslávia e Somália. Foi ainda director do jornal “O Século”.
Em finais dos anos 90, Albarran deixou o jornalismo para se dedicar aos negócios. Presidente da Euroamer, de Frank Carlucci, Albarran investiu na área do imobiliário.
Casado há cerca de cinco anos com a modelo Lisa Hardy, uma alemã de origem indiana, o casal tem duas filhas, de dois e quatro anos.
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