Processo envolve dezenas de elementos daquela corporação, num total de 59 arguidos.
O comandante dos Bombeiros de Camarate, no concelho de Loures, negou esta terça-feira em tribunal ter sido beneficiado num esquema de falsificação de certificados de habilitações literárias, que envolve dezenas de elementos daquela corporação, num total de 59 arguidos.
O Tribunal Central de Lisboa começou esta manhã a julgar 59 pessoas, que estão acusadas dos crimes de associação criminosa e falsificação de documento.
De acordo com a acusação, a que a agência Lusa teve acesso, entre 2014 e 2016, três bombeiros da corporação de Camarate, no concelho de Loures (distrito de Lisboa) constituíram um grupo com vista à "elaboração e venda" de certificados de habilitações literárias do 12.º ano de escolaridade, para permitir a terceiros "a obtenção de qualificações como bombeiros, técnicos de emergência médica e socorrismo e vigilantes de segurança privada".
O comandante dos Bombeiros Voluntários de Camarate, Luís Martins, cerca de três dezenas de bombeiros desta corporação, dois militares, vigilantes e técnicos de emergência pré-hospitalar estão entre os arguidos e "clientes" que solicitaram estes certificados falsos.
Segundo a acusação, os arguidos Nuno Paredes e Zélia Oliveira elaboravam certificados de habilitações literárias, alegadamente emitidos por estabelecimentos de ensino, utilizando um impresso idêntico ao utilizado por tais estabelecimentos, apunham o selo branco fabricado por Pedro Silva, de molde a replicar o utilizado por tal instituição, e apunham sobre o mesmo a assinatura de uma pretensa chefe de serviços".
Os arguidos cobravam, em média, 100 euros por cada certificado de habilitações.
Para impressão dos "certificados de habilitações falsos", os três principais arguidos "utilizavam a impressora que ficava na sala de comando da corporação dos bombeiros de Camarate, utilizando igualmente o computador aí instalado para os elaborar", assinando o nome da chefe de Serviços do Externato São José - Agrupamento de Escolas de Sacavém, "pessoa que desconheciam quem fosse".
Em outras ocasiões, segundo o Ministério Público (MP), estes arguidos "recorriam aos seus colaboradores", também arguidos no processo, que eram bombeiros nas corporações de Camarate (Loures), de Carnaxide (Oeiras), no Zambujal (Loures) e em São Martinho do Porto (Alcobaça) que, "sabendo do plano" criminoso, "entregavam e vendiam a terceiros os certificados" falsos, "recebendo uma comissão" pela intermediação.
Outros quatro bombeiros tinham como função "angariar 'clientes/interessados' que sabiam carecer de habilitações literárias para aceder a determinada atividade profissional e mediante contrapartida monetária".
Durante a sessão, que decorreu todo o dia, vários dos arguidos que aceitaram prestar declarações confessaram os factos na íntegra, alegando problemas financeiros, mas outros, como foi o caso do comandante dos Bombeiros de Camarate (na altura dos factos 2.ºcomandante), suspeito de ser um dos clientes, negou ter conhecimento ou benefício deste esquema.
"Um dia chego à minha mesa e deparei-me com dois certificados. Eu repudio este tipo de comportamento. Rasguei os certificados e para mim o assunto ficou encerrado", começou por contar Luís Martins ao coletivo de juízes, acrescentando que se reuniu com as três pessoas "de maior confiança" (também arguidos no processo) e comunicou também o assunto informalmente "a quem de direito".
Questionado pela procuradora do MP sobre os motivos para não ter avançado com uma queixa formal, Luís Martins admitiu que na altura encarou o assunto com alguma "ligeireza".
O comandante dos Bombeiros de Camarate assegurou também desconhecer os responsáveis pela emissão dos certificados e que esta era uma prática levada a cabo por elementos da corporação.
"Nunca vi ninguém a fabricar fosse o que fosse. Quem me conhece sabe que eu não compactuo com este tipo de coisas e sou contra qualquer tipo de falsificação ou burla", afirmou.
Outro dos arguidos que prestou declarações foi Mário Pessoa, na altura dos factos bombeiro na corporação de Camarate, que, manifestando vergonha e arrependimento, confessou ter sido um dos intermediários no negócio de venda de certificados falsos.
"Foi por necessidade, estávamos com os ordenados em atraso e para ajudar a minha mãe. Estou bastante arrependido e mudei de vida", justificou o ex-bombeiro.
Do plano fazia ainda parte um formador, também arguido, em duas empresas que ministravam cursos de vigilante de segurança privada, o qual "auxiliava" os futuros seguranças a adquirir os certificados de habilitações do 12.º ano, que tinham de ser entregues à Divisão de Segurança Privada da PSP, com vista à emissão dos respetivos cartões profissionais de vigilante de segurança privada.
"Como para a frequência de tais cursos de vigilante de segurança privada era exigida a realização de exames médicos, o arguido Érico Ribeiro contava com o auxílio do arguido Manuel Gonçalves, médico de medicina do trabalho que emitia, a pedido daquele e em nome dos ditos indivíduos que se inscreviam em tais cursos, o respetivo atestado médico/fichas de aptidão, sem a presença dos formandos", refere a acusação.
Contudo, ouvido hoje pelo coletivo de juízes, o médico negou ter cometido estes crimes de forma consciente.
"Fazia consultas e emitia atestados. Admito que possa ter havido alguma falha", apontou, justificando que trabalhava muitas horas e percorria várias clínicas do país.
As suspeitas recaem sobre a atividade que Manuel Gonçalves exercia no centro de formação Espírito da Sabedoria, no concelho de Odivelas, na qual o clínico recebia 20 euros (por consulta), pagos pelo arguido Érico Ribeiro.
A próxima sessão deste julgamento está agendada para quinta-feira, estando prevista a audição de arguidos e testemunhas.
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