Tinha 80 anos e é o militar do Exército mais condecorado da guerra do Ultramar: cinco Cruzes de Guerra e uma Torre e Espada.
"A inspeção foi assim: ele deu-me um murro no estômago, eu encolhi-me e ele disse ‘é bom’. Fui incorporado a 3 de janeiro de 1960." Marcelino da Mata, o mais condecorado dos militares da guerra do Ultramar, recordava assim o dia em que entrou para o Exército Português, em Bolama, na Guiné, onde nasceu em maio de 1940. O tenente-coronel começou soldado condutor e fica na História como herói - participou em 2400 missões de combate, letal no corpo a corpo. Marcelino da Mata morreu ontem, pelas 12h00, aos 80 anos, no Hospital Amadora-Sintra, onde estava internado e infetado com a Covid-19.
"Um extraordinário combatente, que serviu Portugal com honra e glória. Dedicou toda a sua vida ativa ao Exército, onde serviu como praça, sargento e oficial", conta ao CM o CEMGFA, almirante Silva Ribeiro. Já o Exército recorda "um dos seus mais brilhantes".
O condutor foi para o mato em operações por falar vários dialetos: "Habituei-me a estar debaixo de fogo. Apareceu um alferes a pedir voluntários para formar um grupo de Comandos e ofereci-me. Em outubro de 63 fez o curso em Angola e regressou de imediato para a Guiné - "era à bruta com tiroteio que até fazia suar", disse da operação Tridente, onde se cruzou a primeira vez com Alpoim Calvão, outro histórico na Guiné - com quem fez a operação Mar Verde, na Conackry, em novembro de 1970, com a "sua" companhia de Comandos Africanos: "Eu só tinha o sabre e o cantil de água porque a minha arma tinha caído à água. Parti o vidro da casa do guarda e matei o sargento à faca. Fui o último a sair de Conackry, às 4 da tarde." Libertaram centenas de prisioneiros.
Fez a guerra da Guiné do princípio ao fim e, por isso, não pôde regressar mais ao país onde nasceu. Em 1975, no furor revolucionário, foi torturado três meses, no Ralis e Caxias, com choques elétricos "nos ouvidos, sexo e nariz". Fugiu para Madrid (Espanha), onde dormiu na rua e distribuiu coca-cola, voltando após o 25 de Novembro. Reformou-se em 1980 - passou a viver de biscates, tendo mesmo sido chefe de segurança da Universidade Moderna.
SAIBA MAIS
1966
Ano da 1ª Cruz de Guerra (2ª classe) pela operação Tridente de 1964: "Audácia, energia, serenidade debaixo de fogo, sangue frio e muito arrojo."
1ª Classe
Em 1967, 2ª Cruz de Guerra (1ª classe), na operação Cajado, comandou o seu grupo Roncos contra "intensíssimo" fogo inimigo por "2 horas e 20 minutos".
Torre e Espada
Em 1969, pelas "virtudes militares, espírito de sacrifício, decisão, alheamento consciente do perigo (...) alto valor moral da nação" recebe a Ordem Militar Torre e Espada.
Cruz de Guerra
Recebe a 3ª Cruz de Guerra (1ª classe) em 1971 pela Mar Verde; a 4ª (1ª classe) em 1973; e a 5ª (3ª classe) em 1973 pela operação Ametista Real.
Ferimentos não travam
Disparo de bazuca fê-lo partir um braço - "disparei com o outro e fiz 2 mortos; a seguir desmaiei". Também levou um tiro nas costas. E outros de ‘fogo amigo’ numa perna e no ombro.
Guerreiro e humano
Não era apenas uma máquina de guerra. Com 12 filhos, viram-no uma vez chegar do mato com um bebé ao colo: "Alguém tinha de tomar conta do menino!", disse.
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