Pela primeira vez no Reino Unido um diabético do tipo 1 ficou curado depois de receber o transplante de células do pâncreas de dadores de órgãos. Esta técnica revolucionária é o mais importante passo para a cura dos insulinodependentes.
Richard Lane, de 61 anos, pôs fim a 30 anos de injecções diárias de insulina depois de receber as células pancreáticas de três dadores. “É um avanço científico no tratamento da diabetes do tipo 1 mas para que mais doentes beneficiem ainda vai necessário mais algum tempo de investigação”, afirmou ao CM José Manuel Boavida, endocrinologista e presidente da Associação Protectora dos Diabéticos de Portugal.
Em Londres, Lane foi o terceiro diabético tratado no Hospital King College com esta técnica desenvolvida na Universidade de Alberta, Canadá, pelo especialista James Shapiro. O sucesso do transplante neste paciente foi total, ao contrário de dois diabéticos anteriores, que reduziram – mas não eliminaram – a necessidade de se injectar com insulina.
Lane submeteu-se a três intervenções – duas em Outubro e uma outra em finais de Janeiro – para receber uma quantidade grande de células do pâncreas, cerca de um milhão, não sendo por isso suficiente um único dador.
Há quatro anos, a diabetes deste doente descontrolou-se de tal forma que teve de ser ligado a um aparelho que lhe injectava uma dose de insulina de seis em seis minutos, mas o dispositivo começou a falhar. No ano passado surgiu a possibilidade de se submeter a um transplante, que consistiu em extrair as células do pâncreas de um dador, purificá-las, prepará-las e injectá-las no seu fígado numa operação que não demorou mais de uma hora, com anestesia local.
UM SONHO REAL
“Nunca me senti tão bem desde há 30 anos e às vezes tenho de me beliscar para acreditar que não estou a sonhar”, declarou Lane.
Os investigadores canadianos demonstram assim que os diabéticos do tipo 1 podem viver sem a insulina depois de um tratamento completo.
Os resultados deste transplante de dadores mortos entusiasmaram de tal maneira a equipa clínica que a especialista responsável pela intervenção, Stephanie Amiel, do King College, considerou que “as implicações para o futuro são enormes”.
A Associação de Diabéticos inglesa está a financiar a investigação para conseguir a cura dos diabéticos.
Entretanto, investigadores no Japão anunciaram recentemente já ter realizado esta técnica de ensaio clínico com transplante de células de um dador vivo.
ESTE É O DESEJO QUE TODOS NÓS ANSIAMOS
João Nabais, 36 anos, docente universitário e diabético há 24 anos.
Correio da Manhã – O que significa para si a notícia da cura de um diabético do tipo 1, como o João?
João Nabais – É o desejo, o sonho que todos os insulinodependentes ansiamos.
– De que forma este tratamento viria alterar a sua vida?
– Viria alterar a minha rotina diária, necessária para controlar a diabetes apesar de ter uma vida tão normal como outra pessoa qualquer. A minha rotina passa pela administração da insulina, a medição da glicémia e uma dieta alimentar cuidada, o exercício físico.
– É com entusiasmo que recebe então esta notícia?
– Com entusiasmo contido.
– Porque os diabéticos transplantados precisam tomar os imunossupressores para que não haja rejeição. Além disso, é preciso ter a noção que uma cura total não vai estar disponível a breve prazo para os doentes.
– Enquanto não chega cá esta cura...
– Controlamos a diabetes o melhor possível no dia-a-dia.
FALAM OS ESPECIALISTAS NACIONAIS
“Portugal ainda não iniciou este tratamento por falta de verbas, mas apresentou um projecto. A introdução de células beta no fígado resolve a falta de produção de insulina no paciente, mas precisa tomar imunossupressores." Luís Cardete Correia, Dir. Ser. Endoc. H. Curry Cabral
“O transplante de células pancreáticas é a porta de entrada para a cura dos diabéticos, mas ainda se está na fase de investigação, não se pode falar em cura total. Faltam uns anos de investigação científica para aprofundar a técnica.” José Manuel Boavida, Pres. Ass. Prot. Diabét. Portugal
“O futuro do tratamento completo do insulinodependente passa pelo transplante das células estaminais, mais do que o transplante das células do pâncreas. Estes processos são muito onerosos e o País não tem dinheiro.” Manuela Carvalheiro, Pres. Soc. Port. Diabetologia
“O transplante das células pancreáticas ainda é uma técnica experimental, pode levar uns anos até ser generalizada. Este tratamento não pode ser aplicado a todos os diabéticos do tipo 1, apenas aos que têm doença descompensada.” Mendes Vasconcelos, Pres. Col. Endoc. Ordem Médicos
O QUE É A DIABETES?
A diabetes é uma doença crónica caracterizada pelo aumento dos níveis de açúcar (glucose) no sangue. A acumulação de glucose que existe nos diabéticos deve-se à falta ou insuficiente acção da insulina, levando ao mau aproveitamento dos açúcares, gorduras e proteínas, que são a base energética do corpo humano.
DIABETES TIPO 1
No tipo 1 da diabetes (conhecido por insulinodependente) a destruição da célula beta do pâncreas é devido a doença auto-imune. Estes diabéticos necessitam de terapêutica com insulina para toda a vida porque o pâncreas deixa de a poder fabricar. Não está relacionada com hábitos de vida.
DIABETES TIPO 2
A diabetes tipo 2 (conhecida por não-insulinodependente), normalmente, está associada a um passado genético idêntico e a pessoas com excesso de peso e vida sedentária e atinge cerca de 90 por cento dos casos. Provocado por resistência à acção da insulina, associado a deficiência da secreção.
CONTROLO DA DOENÇA
Os diabéticos do tipo 1 têm que controlar, várias vezes ao dia, os níveis de glicémia (quantidade de açúcar no sangue) e aplicar insulina. Nas várias formas em que a doença se manifesta, aconselha-se uma dieta alimentar rigorosa e a prática regular de exercício físico.
SINTOMAS
Os principais sintomas são: sede excessiva e intensa; sensação permanente de boca seca; fome constante e difícil de saciar; aumento do volume de urina; fadiga; comichão no corpo (sobretudo nos órgãos genitais); visão turva e perda de peso. Nas crianças, ainda, dores de cabeça e náuseas.
IMUNOSSUPRESSORES
Os imunossupressores, que existem há cerca de uma década, são medicamentos indispensáveis aos doentes que se submetem a um transplante porque impedem que o organismo rejeite o órgão do dador. Estes medicamentos já não causam tantos efeitos secundários como inicialmente.
Tem sugestões ou notícias para partilhar com o CM?
Envie para geral@cmjornal.pt
o que achou desta notícia?
concordam consigo
A redação do CM irá fazer uma avaliação e remover o comentário caso não respeite as Regras desta Comunidade.
O seu comentário contem palavras ou expressões que não cumprem as regras definidas para este espaço. Por favor reescreva o seu comentário.
O CM relembra a proibição de comentários de cariz obsceno, ofensivo, difamatório gerador de responsabilidade civil ou de comentários com conteúdo comercial.
O Correio da Manhã incentiva todos os Leitores a interagirem através de comentários às notícias publicadas no seu site, de uma maneira respeitadora com o cumprimento dos princípios legais e constitucionais. Assim são totalmente ilegítimos comentários de cariz ofensivo e indevidos/inadequados. Promovemos o pluralismo, a ética, a independência, a liberdade, a democracia, a coragem, a inquietude e a proximidade.
Ao comentar, o Leitor está a declarar que é o único e exclusivo titular dos direitos associados a esse conteúdo, e como tal é o único e exclusivo responsável por esses mesmos conteúdos, e que autoriza expressamente o Correio da Manhã a difundir o referido conteúdo, para todos e em quaisquer suportes ou formatos actualmente existentes ou que venham a existir.
O propósito da Política de Comentários do Correio da Manhã é apoiar o leitor, oferecendo uma plataforma de debate, seguindo as seguintes regras:
Recomendações:
- Os comentários não são uma carta. Não devem ser utilizadas cortesias nem agradecimentos;
Sanções:
- Se algum leitor não respeitar as regras referidas anteriormente (pontos 1 a 11), está automaticamente sujeito às seguintes sanções:
- O Correio da Manhã tem o direito de bloquear ou remover a conta de qualquer utilizador, ou qualquer comentário, a seu exclusivo critério, sempre que este viole, de algum modo, as regras previstas na presente Política de Comentários do Correio da Manhã, a Lei, a Constituição da República Portuguesa, ou que destabilize a comunidade;
- A existência de uma assinatura não justifica nem serve de fundamento para a quebra de alguma regra prevista na presente Política de Comentários do Correio da Manhã, da Lei ou da Constituição da República Portuguesa, seguindo a sanção referida no ponto anterior;
- O Correio da Manhã reserva-se na disponibilidade de monitorizar ou pré-visualizar os comentários antes de serem publicados.
Se surgir alguma dúvida não hesite a contactar-nos internetgeral@medialivre.pt ou para 210 494 000
O Correio da Manhã oferece nos seus artigos um espaço de comentário, que considera essencial para reflexão, debate e livre veiculação de opiniões e ideias e apela aos Leitores que sigam as regras básicas de uma convivência sã e de respeito pelos outros, promovendo um ambiente de respeito e fair-play.
Só após a atenta leitura das regras abaixo e posterior aceitação expressa será possível efectuar comentários às notícias publicados no Correio da Manhã.
A possibilidade de efetuar comentários neste espaço está limitada a Leitores registados e Leitores assinantes do Correio da Manhã Premium (“Leitor”).
Ao comentar, o Leitor está a declarar que é o único e exclusivo titular dos direitos associados a esse conteúdo, e como tal é o único e exclusivo responsável por esses mesmos conteúdos, e que autoriza o Correio da Manhã a difundir o referido conteúdo, para todos e em quaisquer suportes disponíveis.
O Leitor permanecerá o proprietário dos conteúdos que submeta ao Correio da Manhã e ao enviar tais conteúdos concede ao Correio da Manhã uma licença, gratuita, irrevogável, transmissível, exclusiva e perpétua para a utilização dos referidos conteúdos, em qualquer suporte ou formato atualmente existente no mercado ou que venha a surgir.
O Leitor obriga-se a garantir que os conteúdos que submete nos espaços de comentários do Correio da Manhã não são obscenos, ofensivos ou geradores de responsabilidade civil ou criminal e não violam o direito de propriedade intelectual de terceiros. O Leitor compromete-se, nomeadamente, a não utilizar os espaços de comentários do Correio da Manhã para: (i) fins comerciais, nomeadamente, difundindo mensagens publicitárias nos comentários ou em outros espaços, fora daqueles especificamente destinados à publicidade contratada nos termos adequados; (ii) difundir conteúdos de ódio, racismo, xenofobia ou discriminação ou que, de um modo geral, incentivem a violência ou a prática de atos ilícitos; (iii) difundir conteúdos que, de forma direta ou indireta, explícita ou implícita, tenham como objetivo, finalidade, resultado, consequência ou intenção, humilhar, denegrir ou atingir o bom-nome e reputação de terceiros.
O Leitor reconhece expressamente que é exclusivamente responsável pelo pagamento de quaisquer coimas, custas, encargos, multas, penalizações, indemnizações ou outros montantes que advenham da publicação dos seus comentários nos espaços de comentários do Correio da Manhã.
O Leitor reconhece que o Correio da Manhã não está obrigado a monitorizar, editar ou pré-visualizar os conteúdos ou comentários que são partilhados pelos Leitores nos seus espaços de comentário. No entanto, a redação do Correio da Manhã, reserva-se o direito de fazer uma pré-avaliação e não publicar comentários que não respeitem as presentes Regras.
Todos os comentários ou conteúdos que venham a ser partilhados pelo Leitor nos espaços de comentários do Correio da Manhã constituem a opinião exclusiva e única do seu autor, que só a este vincula e não refletem a opinião ou posição do Correio da Manhã ou de terceiros. O facto de um conteúdo ter sido difundido por um Leitor nos espaços de comentários do Correio da Manhã não pressupõe, de forma direta ou indireta, explícita ou implícita, que o Correio da Manhã teve qualquer conhecimento prévio do mesmo e muito menos que concorde, valide ou suporte o seu conteúdo.
ComportamentoO Correio da Manhã pode, em caso de violação das presentes Regras, suspender por tempo determinado, indeterminado ou mesmo proibir permanentemente a possibilidade de comentar, independentemente de ser assinante do Correio da Manhã Premium ou da sua classificação.
O Correio da Manhã reserva-se ao direito de apagar de imediato e sem qualquer aviso ou notificação prévia os comentários dos Leitores que não cumpram estas regras.
O Correio da Manhã ocultará de forma automática todos os comentários uma semana após a publicação dos mesmos.
Para usar esta funcionalidade deverá efetuar login.
Caso não esteja registado no site do Correio da Manhã, efetue o seu registo gratuito.
Escrever um comentário no CM é um convite ao respeito mútuo e à civilidade. Nunca censuramos posições políticas, mas somos inflexiveis com quaisquer agressões. Conheça as
Inicie sessão ou registe-se para comentar.