page view

Ex-braço-direito de Ricardo Salgado diz que ex-banqueiro quis segurar Álvaro Sobrinho no BESA até ao fim

Amílcar Morais Pires diz que banqueiro só saiu da instituição por pressão dos acionistas angolanos.

09 de maio de 2025 às 14:10

O ex-braço-direito de Ricardo Salgado disse esta sexta-feira que o ex-banqueiro quis segurar Álvaro Sobrinho no Banco Espírito Santo Angola (BESA) até ao fim e que este só saiu da instituição por pressão dos acionistas angolanos.

"Desde sempre que achei que devíamos ser mais radicais na decisão [de afastar Álvaro Sobrinho do BESA] e o Dr. Ricardo [Salgado] não quis esse caminho. O Dr. Ricardo manteve-se sempre ao lado do Dr. Álvaro Sobrinho", afirmou Amílcar Morais Pires, no segundo dia do julgamento do caso BESA, em Lisboa, em que responde por abuso de confiança e burla.

O banqueiro angolano acabaria por abandonar definitivamente o BESA em 28 de junho de 2013, mais de um ano depois de Amílcar Morais Pires ter assumido o pelouro do subsidiário do BES.

O afastamento, acrescentou, aconteceu depois de os acionistas angolanos do BESA, minoritários, terem decidido acabar com a "guerrilha institucional" que existia entre Álvaro Sobrinho e aquele que, numa solução intermédia encontrada por Ricardo Salgado, tinha sido nomeado seu sucessor na Comissão Executiva do BESA, Rui Guerra.

A medida, tomada num contexto em que o banqueiro angolano se recusaria a reportar a Amílcar Morais Pires, implicou que Álvaro Sobrinho passasse a ser presidente do Conselho de Administração do banco.

"Durante o primeiro trimestre de 2013, o Dr. Rui Guerra já estava em Angola e reportou-me [...] que o Dr. Álvaro Sobrinho continuava a fazer despachos enquanto presidente do Conselho de Administração que interferiam na esfera da Comissão Executiva", contou hoje o economista, de 63 anos.

Esta manhã, Amílcar Morais Pires insistiu ainda que, em junho de 2012, partilhou com os administradores e acionistas a informação então prestada pelo Fundo Monetário Internacional (FMI) de que a subsidiária angolana do BES tinha desequilíbrios e constituía um risco para o banco português, apesar de tal não constar das atas das reuniões.

O arguido justificou a ausência com o facto de o memorando na base da informação ter sido "considerado confidencial", sublinhando que "nem todos os assuntos" tratados pelos órgãos do BES constam das atas.

O alerta visou ainda responder ao entendimento expresso pelo coletivo de juízes de que, numa ata daquela data, Amílcar Morais Pires aparentava estar a tranquilizar os presentes sobre a situação do BESA e não a alertá-los para os problemas do banco angolano.

Em causa neste processo está, nomeadamente, o alegado desvio, entre 2007 e 2012, de fundos de um financiamento do BES ao BESA em linhas de crédito do Mercado Monetário Interbancário (MMI) e em descoberto bancário.

Além de Amílcar Morais Pires, estão a ser julgados Ricardo Salgado, de 80 anos e doente de Alzheimer, Álvaro Sobrinho, de 62, o empresário luso-angolano Helder Bataglia, de 78, e o ex-administrador do BES Rui Silveira.

Em geral, os arguidos respondem por abuso de confiança, branqueamento e burla e negam a prática dos crimes.

O julgamento prossegue hoje à tarde e no próximo dia 19 de maio com a continuação do interrogatório de Amílcar Morais Pires.

O BES faliu no verão de 2014 e o BESA foi liquidado em outubro seguinte.

Tem sugestões ou notícias para partilhar com o CM?

Envie para geral@cmjornal.pt

o que achou desta notícia?

concordam consigo

Logo CM

Newsletter - Exclusivos

As suas notícias acompanhadas ao detalhe.

Mais Lidas

Ouça a Correio da Manhã Rádio nas frequências - Lisboa 90.4 // Porto 94.8