O Bernardo “era uma criança cheia de vida e está incapacitada para sempre”, lamenta a mãe, Ana Maria. Foi atropelado brutalmente, aos 11 anos, e agora desespera numa cama do Centro de Medicina de Reabilitação de Alcoitão, em Cascais, onde permanece internado há perto de seis meses. Nem a violência do impacto no carro fez com que o condutor se desse como culpado, nem a companhia de seguros responde às cartas dos advogados.
O caso remonta ao dia 17 de Dezembro de 2003: O Bernardo Filipe saiu do autocarro e atravessou a Estrada Nacional 8-2, na povoação de Lourinhã das Pedras. Não havia nenhuma passadeira junto à paragem, não havia sinalização vertical. Era permitido ultrapassar. “Caminhando pela beirinha, que estava cheia de água, lá se dirigia ele a casa” cumprindo o recado que a mãe lhe havia pedido. De repente, um carro que alegadamente vinha em contra-mão e a grande velocidade, ressaltou numa tampa de esgoto e “caiu em cima dele”, conta a mãe e o advogado da vítima.
A criança rebolou sobre o capô, partiu o pára-brisas com o corpo e quando o carro parou, ficou inerte no chão. “Entrou logo em coma”. Valeu uma ambulância que passou, pouco depois, e prestou o socorro. Do Centro de Saúde da Lourinhã foi enviado para o Hospital de Torres Vedras, onde foi imobilizado e enviado para o Hospital de Santa Maria, em Lisboa. “Tinha o braço direito e a clavícula esquerda partidos, um traumatismo craniano, um AVC e uma hemorragia interna, na cabeça”, descreve um documento do advogado. O estado era crítico, não se sabia se Bernardo iria sobreviver.
O condutor, de 27 anos – cuja identidade não foi revelada devido ao segredo de Justiça –, negou qualquer responsabilidade. Mesmo com seguro contra todos os riscos, recusou-se a participar o sinistro por lhe agravar o prémio, disse Ana Maria. À polícia contou que “vinha sossegadamente pela estrada quando o Bernardo lhe surgiu à frente, pulando por detrás de um carro e que não tinha culpa do acidente”, cita o documento. “Quando lhe perguntaram se a pancada tinha sido violenta”, respondeu: ‘então não vê o que esse filho da mãe me fez ao carro?’”, consta no mesmo.
“Dois dias depois, ele arranjou o carro, sem dar hipótese à perícia”, contou o advogado. O mesmo, que já enviou uma carta à companhia de seguros (que não identificou) para que se possa entrar em acordo no que se refere às responsabilidades e aos custos de tratamento da criança. “Ainda não obtivemos resposta”.
O Bernardo saiu do coma depois de sete dias de muito sofrimento da família. “Não falava, não via, não mexia os braços nem as pernas”, contou a mãe. Foi transferido para o Centro de Alcoitão, onde ainda permanece internado: “Já anda de cadeira de rodas e vê, não mexe o braço esquerdo nem fala”. Mostra alguns sinais de recuperação, até porque a mãe o levou ao local do acidente e confrontado com a versão do condutor “insurgiu-se apelando à negação”.
VEM AÍ A FESTA DA SOLIDARIEDADE
“Ana Maria não tem posses e o miúdo precisa de apoio económico muito elevado”, disse ao CM o advogado da família. O Bernardo Filipe continua internado e a mãe não trabalha porque sofre de miastenia (uma doença que enfraquece os músculos), o que a levou à reforma por invalidez e lhe deixou uma pensão de 230 euros mensais.
O pai do Bernardo está em parte incerta e o padrasto internado por ter sofrido um acidente com um trator. Hoje vive numa casa sem condições arrendada em Alcoitão, com o filho mais velho, 15 anos, obrigado a abandonar os estudos para trabalhar.
Entretanto, o Grupo Desportivo da Mouraria (GDM), em Lisboa, vai promover, na sua sede, uma festa de solidariedade ao Bernardo, no domingo, às 16h00. Fados, sardinhas, febras e bebidas custarão cinco euros que, no final, revertem a favor da família, numa iniciativa de António Loreti.
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