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Guerra de gangs à facada lança pânico no comboio

Dois jovens atacados à facada, mais de 50 a fugir a pé à polícia pela linha do comboio e dezenas de passageiros em pânico, quando se limitavam a regressar a casa depois de um dia de trabalho. É este o balanço de anteontem à noite, na estação de Queluz-Belas, em mais um confronto de gangs rivais da Linha de Sintra.

29 de agosto de 2009 às 00:30

Ninguém foi detido – e o medo de nova escalada de violência, por retaliação do perigoso grupo de Monte Abraão, com dois elementos esfaqueados às mãos dos rivais do Cacém, cresce entre os funcionários da CP, passageiros e autoridades.

Anteontem, a PSP recebeu uma chamada de um passageiro, pelas 21h35, a alertar para a entrada de um grupo de 20 jovens de origem africana na estação de Queluz-Belas – que tomaram de assalto a composição proveniente do Rossio, em Lisboa. "O comboio foi literalmente invadido", segundo fonte policial, e "os passageiros ficaram em pânico, julgando ser um arrastão." Mas o pior estava para vir.

O grupo invasor, todos de Monte Abraão, procurava membros de um gang rival, do Cacém, que seguiam naquele comboio. A luta entre as duas facções, num total de quase 50 pessoas, foi imediata. Dois jovens de 16 e 17 anos, do grupo de Monte Abraão, foram esfaqueados e tiveram de ser transportados ao Hospital Amadora-Sintra, onde foram assistidos por ferimentos graves.

Os outros, surpreendidos com a rápida intervenção das equipas da PSP – que retiveram o comboio na estação de Queluz-Belas – "fugiram para todo o lado". Elementos de Monte Abraão escaparam pela linha do comboio até à estação seguinte, onde tinham mais polícias à espera. Apesar de agressões à facada e da invasão do comboio, não há detidos. A PSP apenas identificou doze pessoas, todas menores.

"ISTO É NORMAL" DIZEM UTENTES

Passageiros, revisores, seguranças e comerciantes das estações da Linha de Sintra , contactados no local pelo CM, resumem o ataque armado entre gangs rivais de forma simples: "Isto já é normal."

"Ainda na terça-feira [dia 25 de Agosto] um jovem foi esfaqueado na estação das Mercês. E só porque um grupo mandou um piropo em criolo à namorada e ele decidiu reagir. Os outros quatro responderam e foi por pouco que não morreu", recorda uma revisora na estação de Queluz-Monte Abraão.

Em Queluz-Belas são os comerciantes quem mais alerta para a falta de segurança. "Só anda na rua à noite quem não tem outra opção. A insegurança aqui é tanta que, a partir das 21h00, já não se vê ninguém nas imediações da estação. Só grupos de jovens desocupados", adianta uma farmacêutica.

"TÊM LIBERDADE PARA FAZER PIOR"

António Dias, proprietário do café Satélite – único estabelecimento comercial nas imediações da estação de Queluz-Belas, que às 21h30 ainda está aberto –, garante que a situação de anteontem já não surpreende: "Só não fazem pior porque não querem. Estes miúdos têm liberdade para fazer o que querem. São menores e sabem que a polícia não pode estar em todo o lado com os elementos que tem." O comerciante diz ainda que a estação de Queluz-Belas "tem pouca luz, saídas perigosas e nunca se vê polícia. Depois dá nisto. Assaltos a qualquer hora e um sentimento de insegurança permanente".

PERSEGUIÇÃO A PÉ NOS CARRIS

Quando se aperceberam da chegada de uma Equipa de Intervenção Rápida da PSP à estação de Queluz--Belas, os cerca de cinquenta jovens em confronto dispersaram em todas as direcções. No entanto, a maior parte dos elementos do grupo proveniente de Monte Abraão saltou do comboio para os carris, numa tentativa de escapar aos agentes. Mas fugiram em direcção à estação de Queluz-Monte Abraão (a menos de um quilómetro), onde já eram esperados por outros elementos da PSP.

Mais uma vez, o grupo tentou escapar, trepando postes e saltando vedações, mas sete destes elementos acabaram por ser interceptados já fora da estação e foram identificados pela PSP. Ao que o CM apurou, são todos menores – logo, não podem ser detidos – e alguns estão referenciados por vários delitos.

PORMENORES

EM SILÊNCIO

Os dois jovens esfaqueados "recusaram-se a prestar qualquer depoimento à PSP", esclarece fonte do Comando Metropolitano de Lisboa. Apesar da falta de colaboração, por se tratar de um crime público, a PSP vai investigar.

ARMA BRANCA

A PSP reteve o comboio em causa durante doze minutos na estação de Queluz--Belas. Durante a revista à composição foi encontrada uma faca de cozinha numa das carruagens. A arma foi recolhida para análise de impressões digitais no laboratório.

RECUSA

Segundo o CM apurou junto de funcionários da estação de Queluz-Belas, devido ao pânico provocado, muitos passageiros recusaram-se a continuar viagem de comboio. Foram transportados por familiares, entretanto contactados.

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