Débora Carvalho
JornalistaCatarina Cascarrinho
JornalistaO Tribunal de Santarém inicia esta terça-feira o julgamento do caso da morte da cantora Sara Carreira, estando acusados de homicídio por negligência três dos quatro arguidos, entre os quais o cantor Ivo Lucas e a fadista Cristina Branco.
Após a abertura da instrução, em março, o juiz de instrução criminal do Tribunal de Santarém decidiu levar a julgamento os quatro envolvidos no acidente que, ao fim da tarde de 5 de dezembro de 2020, na Autoestrada 1 (A1), junto a Santarém, vitimou Sara Carreira, que seguia na viatura conduzida por Ivo Lucas.
Os arguidos são Cristina Branco, Ivo Lucas, Tiago Pacheco e Paulo Neves.
Veja o vídeo da reconstituição do acidente que matou Sara Carreira. Dez carros evitaram colisão antes da tragédia.
A reconstituição do acidente que matou Sara Carreira. Dez carros evitaram colisão antes da tragédia na A1
Ivo Lucas chega ao tribunal
Ivo Lucas foi o primeiro a chegar ao tribunal. Acompanhado pelo pai e o advogado, o cantor entrou nas instalações em silêncio.
1 / 3
Tony Carreira já está em tribunal
Tony Carreira também já está em tribunal. O cantor pediu aos jornalistas para "escreverem aquilo que é verdade" e referiu que todo o processo é "muito duro".
1 / 2
Cristina Branco e Paulo Neves chegam a tribunal
Arguidos Cristina Branco e Paulo Neves chegam a tribunal. Falta o arguido Tiago Pacheco
1 / 2
mãe de sara
A mãe de Sara Carreira também já está no tribunal. Fernanda Antunes pediu para entrar por outra porta.
Tiago Pacheco também já está no tribunal
Com a chegada de Tiago Pacheco, já estão em tribunal todos os arguidos envolvidos no caso da morte de Sara Carreira.
Juíza lê a acusação. Mãe de Sara Carreira está de cabeça baixa
Tony Carreira e a ex-mulher, Fernanda Antunes, estão sentados atrás de Ivo Lucas. Os arguidos começam a ser identificados e a juíza começa a ler a acusação.
"Noite escura na A1, três colisões envolveram três carros", começa por dizer.
Mãe de Sara está de cabeça baixa enquanto ouve a juíza a descrever a trágica noite de 5 de dezembro.
A magistrada recorda que Paulo Neves seguia na A1 depois de ter ingerido bebidas alcoólicas. Refere que era uma noite de visibilidade reduzida devido às condições atmosféricas.
"No mesmo sentido da marcha circulava Cristina Branco com a filha. Ao quilómetro 60, a arguida circulava entre os 114 e os 120 km/h", diz a juíza.
"Não circulava com atenção, não reduziu a velocidade, nem se desviou do carro de Paulo Neves. Depois deixou o veículo imobilizado e foi para a berma. Embate ocorreu porque Paulo Neves circulava a uma velocidade inferior à permitida por lei", acrescenta.
A magistrada recorda que às 18h49, Ivo Lucas conduzia na faixa central entre os 129 e os 131 km/h. Diz que o arguido não reduziu a velocidade e não travou.
"O veículo capota e bate contra a barra de segurança e fica imobilizado. Lesões de embate foram a causa direta da morte de Sara, continua.
A magistrada refere ainda, segundo a acusação, que Ivo Lucas conduzia de forma desatenta e não se apercebeu do acidente.
Em relação ao arguido Tiago Pacheco, a juíza recorda que às 18h51 seguia na via central e mudou para a faixa da esquerda em excesso de velocidade.
"Estava perto do acidente e não reduziu a velocidade", acrescenta a magistrada sustentando que Tiago não se conseguiu desviar e acabou por embater no carro onde estava Ivo e Sara.
Todos os arguidos querem falar em tribunal
Todos os arguidos querem falar em tribunal
Paulo Neves descreve noite da tragédia em tribunal
Paulo Neves começa a falar em tribunal. Diz que circulava no próprio veículo e que seguia de Santarém para casa.
"Tinha estado a trabalhar em Santarém, estive o dia todo a trabalhar. Ia na autoestrada devagar, era uma noite escura com nevoeiro", recorda.
O arguido fala em "mantos de nevoeiro" e diz que "antes de sair" lanchou e ingeriu bebidas alcoólicas.
"Tive com dois colegas bebemos vinho e comemos queijo", revela. Paulo Neves diz que não é habitual beber e conduzir mas que achava que "estava bem".
"Conscientemente eu pensava que estava bem", refere.
"Eu não acredito que fosse a essa velocidade, eu acho que estava a 70/80 km/h. A cilindrada que o carro tem não aguenta essa velocidade", diz Paulo Neves.
"Não havia muito trânsito, mas passaram alguns carros por mim. Faço este trajeto todos os dias há mais de 20 anos. Senti um embate, tentei imobilizar o máximo à direita", acrescenta ainda.
Paulo Neves diz que com o embate o banco partiu-se e recorda que ficou deitado, não conseguindo ver a estrada.
"Eu fiquei combalido no carro, não sai logo, vi passar carros e foi quando vi o outro embate, passaram uns 7/8 minutos", recorda acrescentando que não conseguiu sair para sinalizar o acidente, porque passou muito pouco tempo.
A juíza pergunta: "É costume fazer este trajeto nesta velocidade?"
Paulo Neves diz que todos os dias segue a uma velocidade normal. Conta que viu o segundo acidente e o carro a capotar.
"Nessa altura já havia pessoas paradas na berma", acrescenta.
"Vi o senhor Ivo a sair, tentei ligar para o 112, mas já tinham ligado", recorda ainda o arguido que afirma ter visto o último embate.
"Fiz teste ao álcool no local, mas quis ir ao hospital para fazer outro. Eu pedi para fazer análises ao sangue, porque eu achava que não eram aqueles valores que tinham dado. Tinha dado por volta do 1g/L no sangue", conta.
Mãe de Sara Carreira chora em tribunal
Fernanda Antunes não contém as lágrimas ao ouvir a explicação de Paulo Neves sobre a noite do acidente.
Paulo Neves responde às questões dos advogados
A defesa de Ivo Lucas questiona Paulo Neves. "A pancada que a Cristina deu foi forte, para eu ficar com o banco partido", diz o arguido.
Tony Carreira está de cabeça baixa e vai abanando a cabeça.
A advogada de Cristina Branco questiona: "O senhor quando foi pegar no carro não se apercebeu que estava completamente alcoolizado?"
"Eu estava plenamente consciente do que estava a fazer. Estava plenamente consciente da minha condução", responde Paulo Neves.
Advogada questiona: "Porque é que quis fazer uma análise de sangue?"
O arguido diz que fez o teste pela "consciência de que não estava com aquela taxa".
Advogada volta a perguntar: "Não tem consciência de que estava completamente alterado?"
Paulo Neves responde: "Eu estava completamente consciente, eu queria ligar para o 112".
Cristina Branco fala em tribunal: "Tenho um lapso temporal"
A arguida Cristina Branco começa por dizer que, na noite do acidente, vinha de Almeirim, da casa dos pais. Conta que chegou a Almeirim na hora do almoço e que almoçou com os pais.
"O embate dá-se muito perto do pórtico de Santarém, o que eu me recordo, lembro-me de entrar na portagem e só me lembro depois do embate", descreve a fadista.
"Tenho um lapso temporal", reitera.
"A minha memória imediatamente a seguir de sair da portagem é de pôr a mão no peito da minha filha e de travar e avisar: vamos bater", conta Cristina.
"Eu acho que os farrapos de memória que vão aparecendo têm mais a ver com o que eu li nos autos", acrescenta, referindo ainda que não se recorda de ver um carro à sua frente e que construiu a memória com base naquilo que foi lendo.
"Há um movimento que na verdade é simultâneo, eu ponho a mão no peito, travo e tentei desviar-me para o lado esquerdo. Depois do embate o airbag deflagra e eu acho que viro o carro, eu sinto que estou a bater numa parede"", continua a fadista.
Cristina Branco diz que quando atravessou a estrada perguntou ao Paulo Neves se ele estava parado. "Havia muita confusão muito pó, eu sinto que o carro vira à direita e não sei quantas voltas deu, mas fiquei no sentido contrário, no centro da estrada", recorda.
"Eu não vinha a mais de 120 porque a minha ideia era colocar o carro a 120 para fazer o percurso normal", conta a fadista recordando que ainda não tinha colocado o limitador.
Diz que ligou os piscas, saiu do carro e foi buscar a filha ao lugar do passageiro. Recorda que seguiu para o separador central sem perceber que o carro estava ao contrário.
"A minha carteira estava no carro, a minha filha tinha o telefone com ela e liguei para o 112, mas a chamada caiu", acrescenta a arguida.
"Liguei para o meu companheiro e peço para ele ligar para o 112", continua.
"Eu estava ao telefone com o 112, abraçada à minha filha, foi a minha filha que viu esse momento e não eu", diz a fadista sobre o momento em que o carro onde seguia Sara sofreu o acidente.
"A minha filha começa a gritar e eu olho e vejo um carro a sobrevoar as nossas cabeças", recorda. Tony Carreira mete a mão na cabeça ao ouvir as palavras de Cristina.
A mulher descreve que o carro de Ivo ficou "como se estivesse estacionado em espinha na berma". "A minha filha diz que o carro vinha depressa eu não me apercebo", afirma ainda.
"Lembro-me do senhor Ivo, quando eu chego ao pé do senhor Paulo", conta recordando que só saiu do separador central quando a polícia chegou.
"Quando saio do carro vou ter com o senhor Paulo, pergunto-lhe se ele estava parado", revela Cristina.
"Respondeu com hesitação que não, mas para eu tirar dali a minha filha que aquilo não era cenário para ela", acrescenta.
A fadista termina dizendo que viu Ivo a aproximar-se da berma e que foi buscar um casaco porque "estava a chover e estava frio".
Fadista Cristina Branco garante ter ligado os quatro piscas após o acidente
Tony Carreira aproveita uma pausa, para um advogado ir à casa de banho, para falar com Fernanda que não levantou a cabeça desde o início da sessão.
"Tenho a certeza que liguei os quatro piscas", diz Cristina Branco quando questionada pelo Ministério Público.
"O carro capotou e o movimento é longo e acelerado porque estava a deslizar em cima de um carril, foram uns bons metros", descreve a fadista.
"Passaram alguns automóveis, não tenho noção, mas sei que passou um camião", acrescenta.
"O carro de Tiago passa do lado direito, passa mais afastado de mim e vai bater nesse automóvel", recorda Cristina Branco.
O advogado de Tony Carreira questiona Cristina Branco: "Viu algum manto de nevoeiro?"
A fadista responde que não, contrariando o que foi dito por Paulo Neves.
"Vi o senhor Ivo a sair do carro. Há um bloqueio da polícia eu vou ter com o senhor Paulo e lembro-me de ver o senhor Ivo a sair do carro após o segundo embate", recorda.
A fadista afirma que cumpre sempre os limites de velocidade e justifica que está sempre de olhos na estrada. "Eu queria levar a minha filha em segurança", diz.
Ivo Lucas chora em tribunal ao revelar detalhes sobre o que aconteceu na noite da tragédia
Ivo Lucas começa a falar em tribunal. "Eu e a Sara fomos ao Porto tratar da marca de roupa, e nesse dia a única pessoa que tinha possibilidade de ir com ela era eu", recorda.
"Saímos de casa por volta da hora do almoço, estivemos com a D. Fernanda e com o Micael em casa", diz o cantor que refere ter estado a trabalhar nessa semana.
"Fomos buscar peças de roupa da marca que a Sara estava a preparar. No armazém houve algumas trocas de produtos, mas arrumámos as coisas e viemos para Lisboa", continua.
"Eu apercebi-me que houve um desentendimento entre a Sara e quem estava a fazer a entrega na altura", refere Ivo Lucas acrescentando que "as roupas não estavam prontas".
Ivo Lucas começa a chorar ao recordar que pararam numa área de serviço porque "a Sara tinha um ritual que gostava muito de comer canja nos dias de frio".
"Nós parámos de propósito", recorda o artista não conseguindo precisar se a paragem foi em Santarém ou antes.
"Quando saímos do Porto estava alguma chuva, mas depois fizemos o caminho sem problemas", acrescenta.
Tony Carreira mantém-se de cabeça baixa.
"Não sei precisar a velocidade, nós não tínhamos pressa em chegar", diz Ivo acrescentando que não se recorda se seguia na faixa da direita. "Nós íamos a fazer a viagem tranquilos", refere.
Juíza pergunta a Ivo do que se recorda. O cantor começa a chorar e explica: "A Sara faz a chamada [para os amigos], diz que está tudo resolvido, diz que ainda tem tempo de ir treinar, porque tínhamos um ginásio onde nós vivíamos…"
Ivo começa a chorar e não consegue falar. A juíza diz que são todos humanos e que o processo é uma dor.
"Eu dirijo-me à Sara porque eu estava a fazer uma personagem e disse-lhe, era a nossa forma de falar, eu digo que a amo muito e que tenho muita sorte de a ter na minha vida", recorda Ivo.
"E ela diz-me 'e eu a ti'", recorda.
O artista refere que, logo de seguida, Sara grita cuidado e Ivo vê um vulto. Diz que não se lembra de mais nada.
"E a única memória que eu tenho é de estar no meio da autoestrada com braço partido sem t-shirt e sem saber onde estava e sem saber da Sara", recorda.
"É tudo muito rápido, todas as memórias que tenho são flashes. Senti muita pressão na cabeça, não sei explicar, é uma sensação de montanha russa", descreve.
Ivo não se recorda de sentir o último embate e não consegue explicar. Está muito emocionado.
"Eu lembro-me de olhar para o meu braço e ver o braço desfigurado e não perceber o que se estava a passar, se era um sonho", conta.
"Começo a ouvir uma voz a chamar-me a pedir-me para ir para ao pé dela, foi uma senhora que pediu-me para sentar no carro dela que estava aberto", recorda.
"Eu lembro-me que lhe contei que vi ali o meu melhor amigo que morreu quando tínhamos 17 anos. Não percebi o que se estava a passar e eu perguntava pela Sara e ela pediu-me para ter calma", continua Ivo.
"Um senhor também aparece e pede-me para ter calma. E aparece outra senhora a dizer é a filha do Tony", acrescenta ainda.
Questionado pelo Ministério Público, Ivo recorda: "A ideia era a Sara ir para casa jantar com a mãe na Charneca da Caparica, depois íamos treinar no nosso ginásio que fizemos em casa e depois íamos passar o fim de semana com uns amigos a Salvaterra".
"Eu quando vi o vulto à minha frente já estava demasiado próximo, foi tudo muito rápido", afirma Ivo.
Ivo não se recorda de sair do carro, nem de ter tirado a t-shirt. "Eu não percebia o que se estava a passar", acrescenta.
O advogado de Tony Carreira pergunta a Ivo se se recorda das horas que tinha combinado estar com os amigos em Salvaterra. Ivo diz que não sabe porque era Sara quem estava a combinar.
Questionado sobre o que consumiram nas bombas, Ivo refere que foram duas canjas e uma água ou um sumo.
Advogado questiona: "Antes do embate a única coisa que se apercebe é de um vulto?"
Ivo responde: "Eu apercebo-me da presença de um objeto à frente".
A advogada de Cristina questiona: "Estavam a ter uma conversa amorosa e bonita. O Ivo não vinha distraído?"
Ivo responde: "Com o devido respeito eu e a Sara sempre fomos muito apaixonados, e eu perco a conta das viagens que fizemos juntos comigo ao volante! Isso não é a meu ver, relevante para algo que tenha acontecido".
"Nós vínhamos a ter uma conversa normal", acrescenta e senta-se.
“O airbag dispara quando estou a passar nos destroços”: Tiago Pacheco recorda noite trágica na A1
"Eu vinha de Mangualde com a Carolina, a minha namorada", começa por dizer Tiago Pacheco. "Nós estávamos a ir para Oeiras eu ia trabalhar na segunda-feira. Eu vivia em Portimão,mas como estávamos em estado de emergência estava com a Carolina", recorda.
"Eu só tinha trabalho na segunda-feira não tinha hora de chegada. Eu sou operador de câmara, ando pelo País e estou habituado a conduzir", afirma.
"Estava bastante nevoeiro, eu apanhei alguns mantos de nevoeiro, chovia bastante, lembro-me de ir sempre na faixa do meio para conseguir fugir para um dos lados", recorda Tiago.
O operador de câmara refere que ia com receio de se aperceber de qualquer coisa "porque é normal na A1" ver-se carros parados na berma.
"Recordo-me de ver umas luzes no lado direito e de manter-me na faixa central afastado da berma e depois lembro-me de sentir um carro de passar por cima de alguma coisa… destroços pequenos, grandes, do tamanho de uma cadeira e depois senti o airbag a disparar e depois virei para a direita e parei na berma muito lá à frente", conta Tiago.
"Eu olhei para o conta km e estava a 85/86 km/h. Era quase impossível desviar-me dos destroços. O airbag dispara quando estou a passar nos destroços", recorda.
"Eu não senti nenhum impacto. Na minha viatura nem danos à frente tenho", acrescenta Tiago.
O operador de câmara recorda que disse à namorada para não olhar para lado nenhuma porque ia lembrar-se daquele momento para o resto da vida.
"Eu fui a correr, vi o Ivo a passar a estrada a perguntar onde estava a Sara e eu perguntei quem era a Sara. Não conhecia ninguém", recorda Tiago.
Mãe de Sara está de óculos de sol dentro do tribunal.
"Eu tenho noção que estamos num acidente gravíssimo, mas só percebi quando saí do carro", afirma Tiago.
~mp arrolou
O Ministério Público arrolou 11 testemunhas. Está previsto que as primeiras quatro sejam ouvidas esta terça-feira. O advogado de Tony, que é assistente, não chamou nenhuma testemunha, para além daquelas que foram arroladas pela acusação.
Pausa para almoço
Pausa para almoço
Tony Carreira e Fernanda Antunes saem do Tribunal de Santarém
Recomeça o julgamento
Recomeça o julgamento
Cristina Branco pede para ser dispensada de assistir à continuação da audiência uma vez que os factos abordados a perturbam. A juíza recusa.
A fadista explica que o pedido surge por questões de saúde. A juíza, depois de ouvir os motivos, autoriza a saída de Cristina Branco.
Cabo da GNR é a primeira testemunha a ser ouvida no tribunal
O Cabo da Guarda Nacional Republicana (GNR), António Silva, é a primeira testemunha a ser ouvida. António assinou o relatório final das investigações. Chegou ao local uma hora depois do acidente, quando já lá estavam os bombeiros e o INEM.
O Ministério Público mostra o croqui do acidente. O militar refere que o carro do Ivo percorre 96 metros após embater no carro de Cristina. Os destroços concentraram-se junto ao separador central.
A GNR analisou as imagens de videovigilância.
O Cabo recorda que falou com Paulo Neves e com Tiago Pacheco no local do acidente. Ivo Lucas e Cristina Branco já não estavam no local, tinham sido transportados para o hospital.
As fotografias do acidente não estão a ser mostradas em tribunal por causa da violência das imagens.
imagens
As imagens de videovigilância da A1, captadas na noite da tragédia, são apresentadas em tribunal. Ivo Lucas e mãe de Sara Carreira baixam a cabeça.
Pelo menos oito veículos passaram no local após Cristina colidir com a viatura de Paulo Neves.
Foram exibidos dois vídeos: o primeiro da colisão da fadista com o carro de Paulo Neves e o segundo do carro de Ivo Lucas a colidir com o carro de Cristina seguindo-se o choque entre o carro de Tiago com o carro de Ivo.
Tony Carreira baixou a cabeça para não ver o carro onde seguia a filha a capotar.
A GNR e os peritos cortaram aquele troço da A1 na altura do acidente para fazer perícias. O militar recorda que foi este o único acidente que aconteceu naquele troço entre 2019 e 2020.
"No primeiro embate os dois condutores contribuem para a causa do acidente. Um estava a 30km/h e o outro estava distraído, a condutora não identifica que há um carro à sua frente", afirma o GNR que continua a ser ouvido.
"O Evoque [carro de Ivo Lucas] aproxima-se daquele local e não identifica que há um obstáculo na via, há uma distração interna por parte desse condutor. Já há muitos destroços na via e o último condutor ainda assim segue em excesso de velocidade, o que aparenta uma irresponsabilidade por parte do condutor", continua.
O Cabo da GNR afirma que a colisão de Tiago Pacheco com o carro de Ivo Lucas "tem inércia suficiente para agravar o estado de saúde [dos passageiros]".
"Vê-se na imagem que o Evoque vira", refere.
O advogado de Tony Carreira pergunta pelo painel luminoso antes do acidente que Tiago Pacheco disse que estava apagado. O Cabo diz que o painel estava ligado quando chegou ao local.
O advogado de Tiago Pacheco pergunta que vestígios é que havia na estrada que perturbassem a condução do Tiago. "Havia roupas, caixas de cartão, partes dos carros, rodas...", afirma o GNR.
O advogado tenta perceber o que é que se tem de fazer quando um pneu rebenta. O Cabo da GNR explica que o condutor deve imobilizar de imediato o carro em segurança no menor espaço de tempo possível.
O carro de Tiago Pacheco andou ainda mais de 100 metros.
Militar que escreveu o auto de notícia fala em tribunal
Começa a falar o militar da GNR, Nuno Lopes, que faz parte do Destacamento de Trânsito e que escreveu o auto de notícia do acidente.
"Chegamos com alguma rapidez, ainda não estavam meios de socorro no local", recorda. "Era um cenário muito complexo, com muitas viaturas paradas na berma do lado direito. Perguntei se havia feridos, indicaram-me que havia até uma vítima mortal", explica.
"Após a chegada da VMER fui junto do condutor do Evoque que estava no interior de uma viatura não sinistrada, Ivo tinha uma fratura exposta", continua o militar.
Sobre Paulo Neves, o militar diz que "não aparentava estar bastante embriagado". "Fiquei surpreso porque não estava a contar que o resultado do teste fosse tão elevado", revela.
"A vítima mortal foi transportada, tem de ser sempre acompanhada pela GNR, fui eu que fui acompanhar, assim que deixámos o corpo na morgue fizemos o teste de álcool ao sangue", recorda ainda o GNR.
"Foi um cenário onde havia bastantes destroços na via, havia muitos intervenientes, pessoas que paravam só porque sim, outras porque colidiam com destroços. Eu tenho ideia que onde estávamos apanhamos ali pequenos focos de nevoeiro, mas no local do acidente não havia nevoeiro", acrescenta.
O militar termina o depoimento recordando que "a maior parte dos destroços eram roupa, caixas, vidros e peças de carros".
Ex-bombeiro conta o que viu no local do acidente
Joaquim Barbeiro trabalha por conta própria mas já foi bombeiro. Começa por explicar em tribunal que estava a sair de Santarém e que ia para Sintra quando se deparou com os destroços do acidente que vitimou Sara Carreira.
"Assim que cheguei ao local encontrei um jipe, um carro e mais à frente outro carro", descreve, recordando que estava "de noite e muito escuro".
"Eu parei lado a lado com o Evoque de frente para o Passat. Parei na berma mas na mesma direção. Fiz a avaliação do local e liguei 112", conta.
"O Ivo estava muito nervoso e desorientado, fui à frente e encontrei os senhores de outro carro que estava a incendiar", recorda Joaquim.
"E quando voltei vi que estava uma menina inconsciente", conta ainda Joaquim que começa a descrever o estado do corpo de Sara.
Tony Carreira e Fernanda baixam a cabeça. A testemunha é muito pormenorizada.
"Apareceu lá uma senhora que é médica, juntos cortámos o cinto para conseguir pôr a vítima em posição [lateral de segurança], mas já estava em paragem cardiorrespiratoria", recorda ainda Joaquim.
"Quando lá chegámos encontrámos o Ivo, sentámos o Ivo no banco do pendura do nosso carro e pedi à minha companheira para ir avaliando", diz Joaquim que relembra ter dado o seu casaco a Ivo que estava sem t-shirt.
"Ele estava muito confuso na altura, só dizia que tinha um familiar que tinha tido um acidente ali", conta Joaquim sobre Ivo Lucas.
"Fiquei sempre ao pé do Ivo": testemunha recorda acidente na A1
Uma nova testemunha, Helena Oliveira, começa a falar em tribunal.
"Estava uma noite muito escura, estava a cair chuva miudinha, estava à conversa com o meu marido quando damos pelas viaturas acidentada", começa por dizer Helena.
"Eu vi o carro passar e mais à frente vi o Ivo Lucas, eu acompanhei o Ivo meti-o no meu carro, até chegarem os bombeiros. Falei com o senhor do passat [Paulo Neves] que estava muito nervoso", conta.
"Ivo estava muito nervoso também e tinha o pulso partido, tive sempre com o Ivo, saía às vezes para ver como estava a situação no outro lado", recorda a mulher.
"Fiquei sempre ao pé do senhor Ivo. Eu tentava falar com ele porque estava com medo que ele adormecesse. Ivo só dizia que parecia que estava num sonho, eu tentei mantê-lo calmo. Ele queixava-se com muitas dores. Ele disse que estava a ter um sonho que um amigo tinha tido ali um acidente", acrescenta Helena.
"Visualizei uma menina que estava em mau estado e que já tinha falecido", refere a mulher. Neste momento, a mãe de Sara Carreira abandona a sala de audiências.
Tony Carreira mantém-se de cabeça baixa. A testemunha começa a chorar a descrever o estado de Sara depois do acidente.
Tony Carreira também abandona a sala de audiências. O cantor saiu para confortar a ex-mulher.
Fim da sessão. Ivo Lucas fica de cabeça baixa no final da sessão. Tiago Pacheco tenta confortar Ivo. Julgamento recomeça amanhã.
Tem sugestões ou notícias para partilhar com o CM?
Envie para geral@cmjornal.pt
o que achou desta notícia?
concordam consigo
A redação do CM irá fazer uma avaliação e remover o comentário caso não respeite as Regras desta Comunidade.
O seu comentário contem palavras ou expressões que não cumprem as regras definidas para este espaço. Por favor reescreva o seu comentário.
O CM relembra a proibição de comentários de cariz obsceno, ofensivo, difamatório gerador de responsabilidade civil ou de comentários com conteúdo comercial.
O Correio da Manhã incentiva todos os Leitores a interagirem através de comentários às notícias publicadas no seu site, de uma maneira respeitadora com o cumprimento dos princípios legais e constitucionais. Assim são totalmente ilegítimos comentários de cariz ofensivo e indevidos/inadequados. Promovemos o pluralismo, a ética, a independência, a liberdade, a democracia, a coragem, a inquietude e a proximidade.
Ao comentar, o Leitor está a declarar que é o único e exclusivo titular dos direitos associados a esse conteúdo, e como tal é o único e exclusivo responsável por esses mesmos conteúdos, e que autoriza expressamente o Correio da Manhã a difundir o referido conteúdo, para todos e em quaisquer suportes ou formatos actualmente existentes ou que venham a existir.
O propósito da Política de Comentários do Correio da Manhã é apoiar o leitor, oferecendo uma plataforma de debate, seguindo as seguintes regras:
Recomendações:
- Os comentários não são uma carta. Não devem ser utilizadas cortesias nem agradecimentos;
Sanções:
- Se algum leitor não respeitar as regras referidas anteriormente (pontos 1 a 11), está automaticamente sujeito às seguintes sanções:
- O Correio da Manhã tem o direito de bloquear ou remover a conta de qualquer utilizador, ou qualquer comentário, a seu exclusivo critério, sempre que este viole, de algum modo, as regras previstas na presente Política de Comentários do Correio da Manhã, a Lei, a Constituição da República Portuguesa, ou que destabilize a comunidade;
- A existência de uma assinatura não justifica nem serve de fundamento para a quebra de alguma regra prevista na presente Política de Comentários do Correio da Manhã, da Lei ou da Constituição da República Portuguesa, seguindo a sanção referida no ponto anterior;
- O Correio da Manhã reserva-se na disponibilidade de monitorizar ou pré-visualizar os comentários antes de serem publicados.
Se surgir alguma dúvida não hesite a contactar-nos internetgeral@medialivre.pt ou para 210 494 000
O Correio da Manhã oferece nos seus artigos um espaço de comentário, que considera essencial para reflexão, debate e livre veiculação de opiniões e ideias e apela aos Leitores que sigam as regras básicas de uma convivência sã e de respeito pelos outros, promovendo um ambiente de respeito e fair-play.
Só após a atenta leitura das regras abaixo e posterior aceitação expressa será possível efectuar comentários às notícias publicados no Correio da Manhã.
A possibilidade de efetuar comentários neste espaço está limitada a Leitores registados e Leitores assinantes do Correio da Manhã Premium (“Leitor”).
Ao comentar, o Leitor está a declarar que é o único e exclusivo titular dos direitos associados a esse conteúdo, e como tal é o único e exclusivo responsável por esses mesmos conteúdos, e que autoriza o Correio da Manhã a difundir o referido conteúdo, para todos e em quaisquer suportes disponíveis.
O Leitor permanecerá o proprietário dos conteúdos que submeta ao Correio da Manhã e ao enviar tais conteúdos concede ao Correio da Manhã uma licença, gratuita, irrevogável, transmissível, exclusiva e perpétua para a utilização dos referidos conteúdos, em qualquer suporte ou formato atualmente existente no mercado ou que venha a surgir.
O Leitor obriga-se a garantir que os conteúdos que submete nos espaços de comentários do Correio da Manhã não são obscenos, ofensivos ou geradores de responsabilidade civil ou criminal e não violam o direito de propriedade intelectual de terceiros. O Leitor compromete-se, nomeadamente, a não utilizar os espaços de comentários do Correio da Manhã para: (i) fins comerciais, nomeadamente, difundindo mensagens publicitárias nos comentários ou em outros espaços, fora daqueles especificamente destinados à publicidade contratada nos termos adequados; (ii) difundir conteúdos de ódio, racismo, xenofobia ou discriminação ou que, de um modo geral, incentivem a violência ou a prática de atos ilícitos; (iii) difundir conteúdos que, de forma direta ou indireta, explícita ou implícita, tenham como objetivo, finalidade, resultado, consequência ou intenção, humilhar, denegrir ou atingir o bom-nome e reputação de terceiros.
O Leitor reconhece expressamente que é exclusivamente responsável pelo pagamento de quaisquer coimas, custas, encargos, multas, penalizações, indemnizações ou outros montantes que advenham da publicação dos seus comentários nos espaços de comentários do Correio da Manhã.
O Leitor reconhece que o Correio da Manhã não está obrigado a monitorizar, editar ou pré-visualizar os conteúdos ou comentários que são partilhados pelos Leitores nos seus espaços de comentário. No entanto, a redação do Correio da Manhã, reserva-se o direito de fazer uma pré-avaliação e não publicar comentários que não respeitem as presentes Regras.
Todos os comentários ou conteúdos que venham a ser partilhados pelo Leitor nos espaços de comentários do Correio da Manhã constituem a opinião exclusiva e única do seu autor, que só a este vincula e não refletem a opinião ou posição do Correio da Manhã ou de terceiros. O facto de um conteúdo ter sido difundido por um Leitor nos espaços de comentários do Correio da Manhã não pressupõe, de forma direta ou indireta, explícita ou implícita, que o Correio da Manhã teve qualquer conhecimento prévio do mesmo e muito menos que concorde, valide ou suporte o seu conteúdo.
ComportamentoO Correio da Manhã pode, em caso de violação das presentes Regras, suspender por tempo determinado, indeterminado ou mesmo proibir permanentemente a possibilidade de comentar, independentemente de ser assinante do Correio da Manhã Premium ou da sua classificação.
O Correio da Manhã reserva-se ao direito de apagar de imediato e sem qualquer aviso ou notificação prévia os comentários dos Leitores que não cumpram estas regras.
O Correio da Manhã ocultará de forma automática todos os comentários uma semana após a publicação dos mesmos.
Para usar esta funcionalidade deverá efetuar login.
Caso não esteja registado no site do Correio da Manhã, efetue o seu registo gratuito.
Escrever um comentário no CM é um convite ao respeito mútuo e à civilidade. Nunca censuramos posições políticas, mas somos inflexiveis com quaisquer agressões. Conheça as
Inicie sessão ou registe-se para comentar.