Este domingo é canonizado Josemaría Escrivá, fundador do Opus Dei. Monsenhor António Barbosa, Vigário Regional, explica o espírito e missão desta Prelatura e fala dos fiéis portugueses.
- Correio da Manhã - O que é o Opus Dei, do ponto de vista do seu espírito e missão?
- Monsenhor António Barbosa - Um serviço que a Igreja universal presta em cada igreja local, em estreita união com o bispo. O essencial desse serviço é o apelo à tomada de consciência de que a grandeza da condição cristã deve ser vivida nas circunstâncias, aparentemente corriqueiras, da vida normal.
Esta vida de todos os dias não pode ser vista como "reino do pecado", uma realidade com que o cristão lida com cuidados e cautelas, a fim de se defender de um possível contágio. Não! O quotidiano está dotado de sentido divino; a densidade da vida das sociedades modernas foi também criada e desejada por Deus, com a marca da presença activa de Deus, redimida por Cristo e que é preciso reconduzir, no "hoje" de cada época, a Deus.
Esta mensagem do Beato Josemaría já pertence ao património perene da Igreja. E é providencialmente actual para a nossa época.
- Em que ano se estendeu a Prelatura a Portugal?
- Em Fevereiro de 1946, Josemaría Escrivá propôs a um jovem químico de Alicante, Francisco Martínez, que viesse viver para Coimbra e aí estabelecer-se para iniciar o Opus Dei. Esse foi o começo. Entre as amizades deste jovem estava aquele que viria a ser o primeiro português do Opus Dei, o então estudante de Filosofia, Mário Carmo Vieira Pacheco, falecido há poucos anos.
- Poderia recordar datas e aspectos significativos das visitas do fundador do Opus Dei a Portugal?
- Em 1945, o beato Josemaría Escrivá veio a Portugal em Fevereiro (impelido pela Irmã Lúcia), em Junho e em Setembro, num total de 23 dias. Contactou com alguns bispos portugueses, porque, como é natural numa instituição da Igreja Católica, sempre quis actuar com o conhecimento e consentimento dos bispos das dioceses.
Em 1948 voltou a Portugal. Encontrou-se com os primeiros membros do Opus Dei e com outras pessoas que do Opus Dei recebiam formação católica. Voltou ao nosso país em 1949, em 1951 (o motivo desta visita foi renovar, em Fátima, a consagração do Opus Dei ao Imaculado Coração de Maria, na Capela das Aparições), e em 1953. Neste ano de 1953, certamente tendo no pensamento Fátima, afirmou que "Portugal tem uma missão divina a desempenhar. As pessoas parece que o esqueceram". Regressa a Portugal em 1967 (na véspera da chegada de Paulo VI), em 1970 (para uma peregrinação penitente a Fátima), e, pela última vez, em Novembro de 1972. Todas as viagens foram importantes, sobretudo porque na sua pessoa se manifestava a força da união com Deus.
- Dos mais de 80 mil fiéis que formam a Prelatura no Mundo, 47 mil são europeus. Quantos existem em Portugal? Qual a distribuição por regiões?
- Em Portugal, há aproximadamente 2000 fiéis da Prelatura, havendo um número relativamente maior de mulheres que de homens. A seguir a Lisboa e ao Porto, há fiéis do Opus Dei em Braga, Viseu, Coimbra, Caldas da Rainha, Açores, Évora, Algarve, e em amplas zonas rurais do centro do País.
Esclarecer polémicas
- Qualquer católico pode incorporar-se no Opus Dei?
Pode ser do Opus Dei qualquer cristão que se sinta chamado por Deus a santificar-se nas realidades quotidianas (família, trabalho, diversões, cultura, progresso social) segundo o espírito que a Igreja deu ao Opus Dei como missão própria. E o que é "santificar-se"? - poderíamos perguntar. Já o Antigo Testamento lembra: amarás o Senhor teu Deus com todo o teu coração, com toda a tua alma, com todas as tuas forças, com toda a tua mente; e ao próximo como a ti mesmo.
- Qual é o perfil dos fiéis portugueses?
- O Opus Dei em Portugal, embora ainda em estado embrionário, anda bastante próximo de ser uma amostra fiel do espectro social da população portuguesa.
- O Opus Dei tem sido alvo de acusações e polémicas, sobretudo a de ingerência na vida política. O que tem a dizer sobre isto?
- É um "lugar-comum" em vias de extinção. Uma das instituições multi-seculares do Direito das sociedades civilizadas é que quem acusa tem o "ónus da prova", cabe-lhe provar as suas suspeitas ou insinuações.
Os fiéis da Prelatura querem receber exclusiva ajuda pastoral em ordem ao robustecimento da sua fisionomia cristã. Excluem formalmente o desejo de receber orientações concretas em matérias que pertencem à sua autonomia temporal (matérias económicas, culturais, políticas, artísticas, desportivas, etc.).
Convido todas as pessoas que, por ventura, ainda se sintam afectadas por esses ultrapassados lugares-comuns, a aproximar-se dos factos. O que importa é a verdade. E chega-se lá perguntando (na diocese, junto de pessoas que são do Opus Dei, no anuário católico, no Gabinete de Informação do Opus Dei, e até na Internet www.opusdei.org).
Entretanto convém não esquecer que a "lógica mediática" tem as suas estranhas exigências. Se eu quiser falar de pessoas do Opus Dei que trabalham como empregada de perfumaria, dona de um salão de jogos, taxista, enfermeiro fisioterapeuta, motorista, barbeiro (e estou a pensar em pessoas concretas), o mais provável é que essa lógica mediática acabe por esquecer essas pessoas, e prefira saber quais os fiéis que exercem tarefas com brilho social. Mas então temos honestamente de reconhecer que a preferência pelos poderosos não é o Opus Dei que a tem. Portanto, no Opus Dei há cristãos de todas as condições.
Os fiéis do Opus Dei recebem formação específica?
- É uma evangelização contínua através de meios concretos, compatíveis com os deveres familiares, profissionais e sociais de cada um.
Os fiéis da Prelatura assistem a aulas semanais sobre a fé da Igreja, e sobre a sua assimilação quotidiana. A recolecção mensal consiste em dedicar algumas horas, um dia por mês, à oração pessoal e à reflexão sobre temas de vida cristã. Uma vez por ano, os fiéis da Prelatura assistem a um retiro.
Portugueses na Canonização de Balaguer
Este domingo, mais de 250 mil discípulos do Opus Dei, de 87 países são esperados na Praça de S. Pedro, em Roma, para a cerimónia de canonização de Josemaría Escrivá, fundador do Opus Dei. A cerimónia de canonização começará às 10 horas locais (9h00 de Lisboa) e será presidida por João Paulo II.
Embora sem representação oficial do Estado, Portugal marca presença em Roma com uma comitiva de cerca de 2 200 pessoas, onde se destacam várias individualidades como:
Mota Amaral (presidente da Assembleia da República);
Ramalho Eanes (antigo Presidente da República);
Francisco Oliveira Dias (antigo presidente da Assembleia da República);
Paulo Portas (ministro da Defesa);
Rui Machete (antigo ministro e actual presidente da FLAD);
Arlindo Cunha (ex-ministro da Agricultura);
Paulo Teixeira Pinto (antigo secretário de Estado);
Maria Barroso (presidente da Cruz Vermelha Portuguesa);
Messias Bento (juiz do Tribunal Constitucional);
Narana Coissoró (deputado);
Jardim Gonçalves (presidente do BCP);
D. Jacinto Botelho (bispo de Lamego);
D. Teodoro de Faria (bispo do Funchal);
D. Jorge Ortiga (arcebispo de Braga);
D. Adriano Langa (bispo de Maputo);
D. Paulino Madeca (bispo de Cabinda);
Braga da Cruz (reitor da U. Católica);
Jaime Nogueira Pinto (professor);
Ana Esquível (fotógrafa),
Áurea Sampaio (jornalista);
Mónica Baldaque (filha de Agustina Bessa-Luís);
José Luís Simões (industrial de transportes rodoviários);
José Sousa Mendes (sobrinho do cônsul Aristides Sousa Mendes).
O CM vai dedicar particular atenção à canonização de Josemaría Escrivá com trabalhos sobre a obra e e figura do fundador do Opus Dei.
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