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Morreram seis a tentar fugir de aldeia cercada

Quatro num carro e dois noutro tiveram a mesma má sorte: morreram intoxicados pelo fumo ou carbonizados.

20 de junho de 2017 às 01:30

Sarzedas de São Pedro tem 30 habitantes. Aliás, tinha. No fogo assassino de sábado seis morreram a tentar escapar das labaredas que varreram casas e campos. António e Eliana pegaram no carro e no plano de fuga incluíram Nélson e Paulo. Morreram todos um quilómetro depois, às portas do cemitério da aldeia. Completamente cercados pelo fogo, saíram do carro e morreram por inalação de fumos. Os quatro corpos foram encontrados no chão.

Rosinda Silva tem 65 anos e tratava por ‘tu’ as seis vítimas de Sarzedas de São Pedro. "Conhecia toda a gente", lamenta. Maria Odete e Anacleto, um casal de cerca de 70 anos tentou fugir, mas não escapou.

"A Maria Odete esteve em minha casa no sábado à tarde. Disse-me que ia chamar o marido para jantar e pouco depois vi-os a fugir. Já não voltaram, coitadinhos", disse ao Correio da Manhã. Maria Odete foi encontrada numa berma e o marido estava morto agarrado ao volante do carro.

Rosinda salvou-se porque fugiu a tempo. "Um casal levou-me para Castanheira de Pera. Só voltei no domingo."

Maria do Nascimento tem 61 anos e também se salvou. Estava sozinha dentro de casa e ainda ligou à filha, grávida de três meses.

"Fiquei sozinha em casa. Fechei tudo. Eu via as chamas das janelas. Peguei numa mangueira e salvei a minha casa. Foi horrível. Nunca tive tanto medo. Pensei que morria sozinha. Parecia um furacão. Não chegou a minha hora", diz.

À porta das casas de Sarzedas de São Pedro há carros transformados em cinzas. Não resistiram à bola de fogo que subiu a serra em direção à aldeia, onde a defesa foi feita com mangueiras. Esta segunda-feira, só em algumas casas havia luz e água potável. Quem tem rede de telemóvel ajuda os vizinhos a entrar em contacto com os familiares para lhes consolar o coração.

A aldeia esteve completamente cercada pelo fogo. Nos acessos a Sarzedas de São Pedro permanecem os postes de eletricidade e as árvores caídas no chão. Ontem à tarde uma carrinha distribuiu água e alimentos e uma associação de voluntários recolheu os animais abandonados e famintos.

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