Miguel Balança
JornalistaTerminou a sessão de julgamento
Antigo chefe do Governo diz que teve a "intuição" que a queda do BES se tratava de "um caso de polícia"
Em resposta à defesa de 2140 vítimas, o antigo chefe do Governo diz que teve a "intuição" que a queda do BES se tratava de "um caso de polícia". Quanto a ação do Banco de Portugal, Passos Coelho afirma que o então governador, Carlos Costa, "teve coragem" de fazer, em relação ao banco da família Espírito Santo, o que nenhum outro tinha feito.
O antigo primeiro-ministro Pedro Passos Coelho disse esta terça-feira esperar que o processo criminal do colapso, em 2014, do Banco Espírito Santo (BES) e Grupo Espírito Santo (GES) termine "sem que a culpa morra solteira".
"Saberemos no fim do julgamento o que é que se prova em matéria de gestão do próprio banco. Certamente que houve responsabilidade que há de ser apurada e, como qualquer cidadão interessado, espero que o processo possa concluir sem que a culpa morra solteira", afirmou.
Passos Coelho recusou apoiar propostas de Ricardo Salgado para salvar BES da bancarrota
"A melhor sugestão que lhe posso dar é que reúna os seus credores mais relevantes e negociei com eles uma falência ordenada", afirmou Passos Coelho a Salgado. O antigo primeiro-ministro recusou apoiar as propostas do antigo homem forte do BES.
Passos Coelho diz que a "efetividade" da garantia soberana do estado angolano levantava questões. Esta não era, por exemplo, dada ao BES, mas sim ao BES Angola. O social-democrata assume que "trocou impressões" sobre o assunto com o vice-presidente angolano à época, Manuel Vicente. Passos revela que Cavaco terá, no mesmo sentido, escrito uma carta ao seu homólogo. Todas as diligências tinham como objetivo evitar a resolução do banco.
"A nacionalização do banco estava fora de questão", afirma Passo Coelho, sobre as soluções que então se colocavam para salvar o BES. "A recapitalização pública poderia ser feita", mas o antigo governante diz que sempre a considerou "pouco provável". Os acionistas não o fariam porque tal significaria "perder o banco".
Passos Coelho lembra que o Novo Banco "deveria ter sido vendido em dois anos", o que não aconteceu. "Já posteriormente o Governo que se seguiu reformulou os termos desse empréstimo e daí terão resultado encargos para o Estado", afirma. Frisa que parte do impacto para os contribuintes é consequência de decisões após este ter saído do Executivo.
Passos Coelho recorda duas reuniões com Salgado onde apresentou "soluções" para a grave situação financeira do BES
O antigo primeiro-ministro afirma que, por vezes, recebia os presidentes dos maiores bancos do País. "Tratava, na maioria, de encontros de cortesia, mas isso não aconteceu sempre", afirma. Exemplo disso são as duas vezes em que reuniu com Salgado, em que este lhe apresentou o que considerava soluções para a grave situação financeira do grupo.
No primeiro encontro, Ricardo Salgado mostrou um documento que atestaria uma "garantia soberana do estado angolano" e pediu que Passos agisse junto do Banco de Portugal, numa altura em que este estava "empenhado" em substituir a administração do BES, afastando todos os membros da família Espírito Santo.
No segundo encontro, Passos Coelho tomou conta do plano de apoio financeiro proposto por Salgado. A solução incluía a Caixa Geral de Depósitos e passava por esta facilitar "dinheiro fresco" e trocar ativos com o grupo BES. Havia necessidade de garantir cerca de 2 mil milhões de euros para o salvar da bancarrota.
Antigo primeiro-ministro confirma que reuniu "algumas vezes" com Ricardo Salgado
Passos Coelho começa por ser questionado pelo Ministério Público, que o arrolou como testemunha. O antigo governante, que se apresentou como economista, confirmou que reuniu "algumas vezes" com Ricardo Salgado. Sublinha que essa matéria "já foi escrutinada no âmbito de inquérito parlamentar".
Pedro Passos Coelho já começou a ser ouvido
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