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Polícias descontentes com Daniel Sanches

O responsável pelo Sindicato Nacional de Oficiais da Polícia (SNOP) acusou ontem o ministro da Administração Interna, Daniel Sanches, de estar “desfasado em termos de conhecimentos”. Uma resposta às críticas lançadas pelo governante no dia anterior, em que questionava a forma de patrulhamento do bairro Cova da Moura, na Amadora.

23 de fevereiro de 2005 às 00:00

“Estranhamos que o senhor ministro tenha declarações a fazer só nesta altura”, disse ao CM Carlos Resende, presidente do SNOP. “Está desfasado em termos de conhecimentos. Não lhe compete nesta altura [em que o Governo está demissionário] estar a esgrimir críticas”, disse o responsável.

Apesar de o sindicalista admitir que é necessária uma revisão “das estratégias e modelos de policiamento”, afirma que “estas correcções deviam ter sido feitas a seu tempo”. “Aos sindicatos cabe criticar. Ao ministro cabe analisar alternativas”, disse.

Segundo o responsável, estas estratégias devem ter em conta os locais. “Não podemos tratar de coisas diferentes de forma igual. Por exemplo, o policiamento na Baixa de Lisboa exige determinados meios e equipamentos. O policiamento num bairro dormitório da periferia exige outros”, disse.

Quem também não compreende as declarações de Daniel Sanches é o responsável pelo Sindicato dos Profissionais da Polícia (SPP). António Ramos disse ao CM que não percebe por que é que “no final do mandato” o ministro faz declarações tão negativas.

“O ministro disse que os sindicatos eram responsáveis pela deposição das armas, levada a cabo na passada semana. Mas este acto foi apenas sinónimo do descontentamento da Polícia”, disse.

“O único culpado da deposição das armas foi o próprio governo que deixou esta situação arrastar-se”, acrescentou.

A Direcção Nacional da PSP afirmou em comunicado que o “ministro nunca teve, nem manifestou, qualquer intenção de interferir em opções técnico-policiais, reiterando a sua confiança nos Comandos da PSP”. A Polícia “vai continuar a adequar os procedimentos operacionais tendo sempre em conta a evolução e a tipologia da criminalidade”, acrescenta o comunicado.

O ministro questionou anteontem o patrulhamento feito no bairro Cova da Moura, Amadora, onde na passada semana o agente Ireneu Dinis, da esquadra de Alfragide, foi morto a tiro. Daniel Sanches admitiu ainda desconhecer se os agentes compram coletes à prova de bala.

“A forma como é feita a patrulha no bairro da Cova da Moura não sei se será a mais recomendável”, afirmou o governante aos jornalistas.

'ALENTO AOS MARGINAIS'

A Associação Sindical dos Profissionais de Polícia (ASPP/PSP) acusou ontem o Ministério da Administração Interna de dar “alento aos marginais”, uma vez que não faz cumprir as penas previstas para as agressões a polícias. “Como pode alguém compreender que o Governo apenas tenha melhorado, nas esquadras, os espaços reservados aos detidos”, questiona. A ASPP foi ontem recebida pelo comante metropolitano da PSP de Lisboa, a quem pediu que fossem tomadas medidas para reduzir o risco dos agentes da Polícia.

SEGURANÇA EM TODO O TERRITÓRIO

O presidente do Observatório de Segurança, Rui Pereira, não comenta as palavras de Daniel Sanches porque não as ouviu. “Não falo sobre o que não sei”, justificou em declarações ao nosso jornal. Ainda assim, defende três pontos fundamentais no que se refere à Segurança. Primeiro, “num estado de Direito Democrático, as forças de segurança devem manter a ordem em todo o território”, sem excepção de nenhuma zona. Depois, os agentes de segurança “devem estar munidos de todos os meios / equipamentos para o desempenho das suas funções”, disse ao Correio da Manhã. “Se existir escassez de meios há que os repor, só assim se mantém a segurança”, disse o responsável, sublinhando que não está a par das técnicas utilizadas pela policía. Por último, e falando sempre à margem das palavras do ministro da Administração Interna, Rui Pereira lembrou que “um crime contra um agente das forças de segurança tem um duplo significado”, porque um ataque desta natureza põe em causa duas coisas: as forças de segurança e a própria comunidade, que vê nestas forças uma defesa.

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