António Sampaio da Nóvoa, novo reitor da Universidade de Lisboa, falará amanhã no discurso de posse na coesão interna da instituição e na urgência de ganhar maior confiança na opinião pública que aposta convencer do papel do Ensino Superior como motor da inovação, da qualificação e do desenvolvimento.
Correio da Manhã – Como vê o futuro da Universidade de Lisboa?
António Nóvoa – Acho que precisa de mudanças consideráveis. Há uns anos isto era complicado porque a Universidade de Lisboa tinha infra-estruturas frágeis, tanto do ponto de vista dos edifícios, como do pessoal docente e dos funcionários. Creio, porém, que o balanço positivo dos dois mandatos do prof. Barata Moura como reitor foi a consolidação de condições para a mudança.
Há duas prioridades que afirmei sistematicamente nos últimos meses. A primeira é o reforço da investigação e das suas estruturas. Temos três laboratórios associados e cerca de 50 centros de investigação acreditados pela Fundação de Ciência e Tecnologia, dois terços dos quais com classificações de muito bom e excelente, o que qualifica o património instalado. Queremos, agora, reforçá-lo com uma ligação mais forte às questões de tecnologia.
A segunda prioridade é o alargamento da Universidade de Lisboa que deve proceder a uma recomposição institucional, através da sua extensão a áreas como engenharias, artes e formações nas ciências da saúde com vertente universitária, apesar de estarem eventualmente no âmbito dos institutos politécnicos.
– Não receia amálgama entre o universitário e o politécnico?
– Penso que temos um problema de dimensão que devemos enfrentar com coragem. Existem 14 universidades públicas, 15 institutos politécnicos também do Estado e uma série de universidades e politécnicos do sector privado. Tudo num País de dez milhões de habitantes. Esta fragmentação é absolutamente impensável e todos o dizem, desde há muito tempo. Este consenso não produziu, contudo, quaisquer efeitos.
As universidades têm de crescer, ser mais fortes, maiores e melhores para competir no espaço europeu. Uma universidade com dez mil alunos não vai a lado nenhum. Ou temos instituições razoavelmente alargadas ou a nossa internacionalização não passará de retórica. Quero ver a Universidade de Lisboa maior e a contribuir para uma reorganização do Ensino Superior, integrando e criando escolas que hoje em dia não temos. Entendo que é útil e necessário ter no Ensino Superior formações diferentes de tipo universitário e politécnico que devem ser clarificados, com currículos, planos de estudo e até ambições diferentes de empregabilidade, mas não vejo razão que impeça estarem no mesmo espaço institucional. Na Universidade de Lisboa vamos construir soluções com os colegas do Politécnico, das escolas superiores de Enfermagem de Lisboa e de fora de Lisboa para ter instituições mais fortes, credíveis e competitivas.
– A ideia é ter mais alunos para maior financiamento?
– A fórmula de financiamento por número de alunos deve evoluir. Os grandes problemas das universidades portuguesas têm a ver, como aponta o comissário europeu da Educação, Jan Figel, com o excesso de regulação e o subfinanciamento. Todos os dias caem nas universidades circulares, informações e cartas com ordens para cativar percentagens do orçamento, reter saldos e medidas afins que entravam e bloqueiam o funcionamento. Reclamar autonomia não quer porém dizer que não considere obrigatório a Universidade prestar contas.
– E como reage à crítica que a Universidade forma mal?
– A minha primeira observação é que, em Portugal, ter um diploma universitário constitui em comparação com outros países europeus uma maior vantagem em termos salariais e de qualidade de emprego. Passa-se a mensagem de que há muitos licenciados no desemprego, o que é verdade, mas destaca-se pouco a mais-valia da aposta no Ensino Superior.
O mais é a questão do copo meio cheio ou meio vazio: Somos nós, universidade, que estamos a produzir licenciados a mais ou é a sociedade e as empresas que estão a recrutar licenciados a menos? Nunca conseguiremos dar o salto de modernização de Portugal e de aproximação aos grandes desafios da contemporaneidade se não tivermos uma atitude mais corajosa.
'BOLONHA É BOA OCASIÃO PARA REFORMA'
– Porque existe inquietação com o Processo de Bolonha?
– Julgo que as resistências manifestadas pelos estudantes se devem a ter sido mal explicado e mal conduzido em muitos domínios, por culpa de todos e de que não me excluo. Partilho inquietações, apesar de ter conduzido o processo na UL. Há questões candentes de financiamento, como não se saber se existirá ou não para os segundos ciclos. Mas penso que o Processo de Bolonha é oportunidade única para a reforma dos estudos. Recuperar a ideia do estudo, vincar a importância do trabalho individual e da proximidade à investigação, numa universidade que não pode ser só um acumular de cursos e aulas. Se for bem conduzido, pode levar-nos a um nível de competitividade com as outras universidades europeias que infelizmente não temos. No que diz respeito aos conhecimentos, os nossos licenciados têm bom nível, como mostram as altas classificações obtidas em mestrados e doutoramentos no estrangeiro.
O novo reitor da Universidade de Lisboa (UL) que toma posse amanhã, às 15h00, na Aula Magna, é um minhoto de Valença que fez os seus estudos em Ciências da Educação, mestrado e doutoramento na Universidade de Genebra e se impôs na ‘Clássica’ como um elemento exógeno.
Já doutorado, António Sampaio da Nóvoa, de 51 anos, foi contratado em 1987 como professor auxiliar da Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação da UL onde, na sequência de concursos públicos, passou a professor associado em 1990 e a catedrático em 1996. Desde 2000 foi vice-reitor na equipa de Barata Moura. Repartiu o tempo também por Universidades estrangeiras e, historiador da Educação, escreveu mais de 150 títulos, entre os quais a famosa antologia ‘Evidente, mente’.
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