Primeira separação de gémeos siameses em Portugal foi há 40 anos

Tânia e Magda expressam “gratidão eterna” a Gentil Martins por lhes ter permitido viver.

27 de outubro de 2018 às 01:30
Gémeas Tânia e Magda Fernandes nasceram coladas pelo abdómen há 40 anas. Operação deu-lhes vida normal Foto: Direitos Reservados
Gémeas Tânia e Magda Fernandes nasceram coladas pelo abdómen há 40 anas. Operação deu-lhes vida normal Foto: Direitos Reservados
O cirurgião Gentil Martins Foto: Pedro Simões
Gentil Martins com Tânia e Magda, de Lisboa (cirurgia de 1978), Maria e Liliana, de Valongo (1986), Eliana e Sandra, de Amarante (1989), Helena e José, de Moçambique (2009) e Leo Chin Ian, Macau (1989) Foto: Direitos Reservados

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António Gentil Martins realizou em 1978 uma operação até então inédita em Portugal, e sobre a qual se assinalam 40 anos na terça-feira. A separação das gémeas siamesas decorreu no bloco operatório do Hospital D. Estefânia, em Lisboa. As meninas, então com quatro meses e meio, nasceram unidas pelo abdómen.

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Tânia Sofia e Magda Isabel Fernandes expressam, quatro décadas depois, "uma gratidão eterna" ao cirurgião, por lhes ter sido possível viver. Para Gentil Martins a possibilidade de não realizar a cirurgia que fez história nunca se colocou: "Não havia uma outra alternativa", disse ao CM. A operação decorreu durante oito horas, tempo que Gentil Martins recorda como necessário. "Na segunda cirurgia, porque era praticamente igual, demorei metade do tempo", referiu o professor, que conta 88 anos.

Hoje, Tânia Sofia é profissional na área comercial, depois de ter tirado a licenciatura em Design Industrial. Magda Isabel é técnica de reabilitação e reinserção social.

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Ao CM, Magda recordou que até à adolescência houve uma "exposição" por estarem constantemente a ser recordadas pela cirurgia inédita. "Depois crescemos e hoje pouco se fala do assunto", disse. Ambas revelam que, concretizada a operação, nunca foram sujeitas a cuidados médicos especiais. "Crescemos como qualquer criança", referiu Magda. 

António Gentil Martins separou sete pares de gémeos. Destas 14 crianças, 12 tinham forte possibilidade de sobreviver e nove estão vivas. Das nascidas em Portugal, guarda religiosamente os números de telemóvel. Da menina chinesa e dos moçambicanos perdeu o contato.

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"Era absurdo abortar siameses"

Gentil Martins, médico cirurgião pediátrico

CM -Estava preocupado com os riscos da operação?

– Sim, muito preocupado com o que iria encontrar e o que haveria de fazer. Havia muito pouco escrito e descrito sobre a cirurgia.

– Havia outra possibilidade?

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– Estava determinado que as duas resistissem e se salvassem. É perfeitamente absurdo abortar siameses. É o que acontece em Portugal. Perante uma malformação grave, aborta-se. É o que é simples, mas acho isso um crime.

– Recorda algo de particular deste caso?

– Quando a mãe tirava uma das filhas do berço, a outra chorava. Então, colocou um espelho. A bebé via-se a si própria mas julgava ser a irmã.

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PORMENORES

Qatar realiza com êxito

Os médicos do primeiro hospital especializado na área de materno-infantil do Qatar Sidra Medicine separaram gémeos siameses do Mali, numa das cirurgias mais complicadas de que há registo. Isto porque os meninos estavam ligados através do fígado.

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Cirurgia durou 27 horas

No hospital pediátrico de Nova Iorque, nos Estados Unidos, em 2016, a quarta e última cirurgia para separar gémeos durou 27 horas. Dividiam 1,5 centímetros de tecido cerebral.

Separação impossível

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Os bebés angolanos internados no Hospital D. Estefânia, em Lisboa, em 2010, não puderam ser separados. Os médicos descobriram que as crianças partilhavam as funções do coração e do fígado.

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