Associação pede rede de apoio e plano nacional contra abuso sexual infantil

Já em 2015 o Conselho da Europa estimava que uma em cada cinco crianças na Europa é, foi ou será vítima de uma qualquer forma de violência sexual.

11 de abril de 2025 às 15:07
Crianças Foto: Getty
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A associação Quebrar o Silêncio, de apoio a homens vítimas de violência sexual, defende a criação de uma rede de apoio especializado e um plano nacional contra o abuso sexual de crianças perante o agravamento do fenómeno.

Em comunicado, e tendo como enquadramento o Mês da Prevenção dos Maus-Tratos na Infância, que se assinala durante o mês de abril, a Quebrar o Silêncio alerta para a "necessidade urgente de reconhecer a dimensão do abuso sexual de crianças, a gravidade dos números" e as consequências nas vítimas.

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A associação lembra que já em 2015 o Conselho da Europa estimava que uma em cada cinco crianças na Europa é, foi ou será vítima de uma qualquer forma de violência sexual, um número que a Quebrar o Silêncio acredita que está ultrapassado, "nomeadamente devido à escassez de denúncias dos crimes".

"Desde então, os casos de violência sexual contra crianças aumentaram significativamente nos ambientes digitais. A pandemia obrigou os perpetradores a adaptarem os seus métodos, tornando-se mais engenhosos na forma como se aproximam das crianças. Simultaneamente, observa-se um crescimento preocupante da violência sexual entre pares", alerta a associação.

A Quebrar o Silêncio defende que seja criada e implementada uma Rede Nacional de Apoio Especializado a Vítimas de Violência Sexual, autónoma da atual Rede de Apoio a Vítimas de Violência Doméstica, e que haja um Plano Nacional de Prevenção e Combate ao Abuso Sexual de Crianças.

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Quer também que sejam criadas políticas nacionais que promovam respostas especializadas em matéria de violência sexual e que sejam eliminados os prazos de prescrição e de denúncia para os crimes sexuais contra crianças.

A legislação atual prevê que estes crimes prescrevam cinco anos depois de a vítima completar 18 anos, ou seja, aos 23 anos.

A associação propõe ainda a formação de profissionais de saúde, justiça, educação e intervenção social (e outros) sobre violência sexual contra crianças e trauma.

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Segundo a Quebrar o Silêncio, "o volume de materiais de abuso e exploração sexual de crianças disponível na Internet é colossal e continua a crescer a um ritmo exponencial", ajudado pela utilização de inteligência artificial (IA), com a qual é possível "gerar imagens hiper-realistas de abuso sexual de crianças, praticamente indistinguíveis de imagens reais".

"Esta tecnologia permite aos agressores criar conteúdos em larga escala, dificultando a identificação de vítimas e a ação das autoridades. Nos fóruns da 'dark web', circulam manuais e tutoriais sobre como criar, alterar e divulgar este tipo de conteúdos e materiais, bem como formas de contornar os filtros e salvaguardas dos modelos de IA", alerta a associação.

Acrescenta que, em 2022, a Comissão Europeia propôs um regulamento que obrigaria as empresas prestadoras de serviços digitais -- como a Meta e a Google -- a prevenir, detetar, reportar e remover material de abuso e exploração sexual de crianças, mas que "ainda não existe um desfecho satisfatório", apesar de "estas empresas terem responsabilidade na disseminação deste tipo de conteúdos"

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"Enquanto não forem criadas normas claras e vinculativas, continuarão a atuar sem escrutínio. As crianças não podem depender da boa vontade das operadoras. A regulamentação deve ser firme, eficaz e aplicada sem demora", defende o presidente da Quebrar o Silêncio, Ângelo Fernandes, citado no comunicado.

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