Associações de Lisboa alojaram mais de 500 pessoas em situação de sem-abrigo em 2024
Em 2024, foram contabilizadas 3.122 pessoas em situação de sem-abrigo em Lisboa, segundo o balanço de 2025 do Núcleo de Planeamento e Intervenção Sem-Abrigo.
Mais de 500 pessoas em situação de sem-abrigo receberam alojamento e pelo menos 50 foram ajudadas a encontrar trabalho por três associações do distrito de Lisboa em 2024, revelaram esta quinta-feira dados das entidades.
Em 2024, 55 pessoas entraram no mercado de trabalho: seis ajudadas pela Comunidade Vida e Paz, 39 pela CRESCER, 10 da Orientar. No ano passado, 587 foram alojadas: 569 pela Comunidade Vida e Paz, 15 da CRESCER (no âmbito do projeto "É UMA CASA") e três da Orientar.
"Nós ouvimos, [as pessoas em situação de sem-abrigo] não saem da rua porque não querem. Não! Elas não conseguem tomar decisões adequadas e saudáveis que lhes permitam sair da situação em que se encontram", explicou à Lusa a diretora-geral da Comunidade Vida e Paz, Renata Alves, a propósito do dia internacional da solidariedade humana, que se assinala no sábado.
Renata Alves indicou que estas pessoas apresentam problemáticas associadas a comportamentos aditivos, alcoolismo, toxicodependência, problemas de saúde mental, falta de suporte familiar e social, desemprego e problemas legais (falta de documentação).
Um dos utentes da Comunidade Vida e Paz, Miguel Meirendes, com 48 anos, recordou à Lusa que antes de estar em situação de sem-abrigo assistiu a violência doméstica e aos 27 anos começou a consumir droga, tendo vivido na rua um ano e meio.
"Tive o cartão como colchão e como cobertor", contou Miguel Meirendes, sublinhando que foi um voluntário da organização que o motivou a sair da rua.
Atualmente, vive num dos apartamentos da organização, é taxista e está em recuperação das dependências.
A Comunidade Vida e Paz dá alojamento às pessoas em situação de sem-abrigo através de Apartamentos Partilhados de Primeira Linha, da Unidade Integrativa para a Pessoa em Situação de Sem-Abrigo e das Comunidades Terapêuticas e de Inserção, dependendo das necessidades dos utentes.
Por seu lado, a Associação de Intervenção para a Mudança - Orientar - recebe utentes de outras instituições e ajuda as que estão dispostas a trabalhar para sair da situação de sem-abrigo.
Os selecionados têm de realizar as tarefas propostas pela Orientar, como procurar trabalho, preparar entrevistas de emprego, cozinhar, limpar, sendo que "tudo é um treino de competências para o mercado de trabalho", segundo a diretora técnica executiva da associação, Cristina Serra.
Os beneficiários são alojados na Residência de Transição (para pessoas em maior situação de carência económica ou início do seu percurso profissional) e na Residência de Autonomia (para pessoas com emprego estável e que necessitam de organizar-se financeiramente para arranjar uma habitação própria).
Um dos utentes da Orientar e técnico de informática, João Fernandes, com 48 anos, disse à Lusa que passou uma semana na rua, após a companheira lhe roubar tudo o que tinha.
Sem ninguém a quem recorrer, contou: "O meu cartão multibanco desapareceu. Tentei ir ao banco. Já era tarde. O dinheiro já tinha sido transferido para outra conta".
Atualmente, tem várias propostas de emprego.
A Lusa contactou ainda a CRESCER - Associação de Intervenção Comunitária, que dá prioridade à habitação, segundo o diretor executivo da CRESCER, Américo Nave.
A organização criou o projeto 'Housing First' também conhecido por "É UMA CASA" que dá habitações individualizadas às pessoas em situação de sem-abrigo, tendo 140 apartamentos arrendados.
Uma das beneficiárias do projeto, Brenda Belbuto, com 50 anos, disse à Lusa que esteve na situação de sem abrigo durante 20 anos.
A utente, que está no projeto há seis anos, indicou que recebeu uma casa, apoio psicológico e médico, destacando que a organização a ajudou a tratar dos problemas de saúde mental.
O projeto ajuda pessoas a longo prazo. Algumas já vivem nos apartamentos há 10 anos e quando arranjam emprego têm de contribuir financeiramente para a CRESCER. Em 2025, o projeto tirou 22 pessoas da rua.
A CRESCER criou também o projeto "É um Restaurante", que emprega pessoas que vêm da situação de sem-abrigo.
Todas as organizações têm pessoas que foram ajudadas e agora são funcionárias das associações.
Em 2024, foram contabilizadas 3.122 pessoas em situação de sem-abrigo em Lisboa, segundo o balanço de 2025 do Núcleo de Planeamento e Intervenção Sem-Abrigo.
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