Burocratas matam David
Hospitais não conseguiram médicos para operar jovem.
Apaixonado por fotografia e cinema, David Duarte, 29 anos, de Vila Chã de Ourique (Cartaxo), preparava-se para iniciar uma nova etapa na sua vida.Vivia há uma semana com a companheira, Elodie, em Santarém, e planeavam abrir uma empresa na área do vídeo e da fotografia. "O estúdio estava pronto e já tinham vários trabalhos agendados. Acabaram-se os sonhos", conta o sogro, Fernando Lucas.
A morte de David, no dia 14, no Hospital de São José, em Lisboa, enquanto aguardava uma cirurgia, levou ao pedido de demissão de três administradores na Saúde, entre os quais Cunha Ribeiro (ARSLVT).Esta quarta-feira, o ministro da Saúde Adalberto Campos Fernandes considerou que a falha não se tratou "apenas de uma questão financeira". "O Norte e o Centro funcionam sem problemas. Trata-se de um problema de organização dos meios". O governante garantiu que a falta de neurocirurgiões ao fim de semana em Lisboa não se repetirá.
Segundo apurou o CM, vários hospitais não têm escalas de especialidades aos fins de semana: não pagam mais pelas horas extra e os médicos não são obrigados a fazê-las quando já ultrapassaram o limite de 200 horas/ano.Logo no dia 11, quando David entrou no São José, com hemorragia cerebral resultante da rutura de um aneurisma, o hospital tentou chamar um neurocirurgião, que não atendeu o telefone. Foi pedido apoio a Santa Maria, que também não conseguiu um médico: havia um disponível em Coimbra, mas nem David podia ser transferido nem o médico podia deixar o Centro e Norte desfalcados. A solução foi deixá-lo à espera de uma cirurgia, marcada para segunda-feira, 14. Morreu.
Tem sugestões ou notícias para partilhar com o CM?
Envie para geral@cmjornal.pt