Carlos Dâmaso morreu a salvar aldeia do fogo

Perdeu a vida a enfrentar as chamas. Deixa uma filha de 11 anos. Outro popular sofreu queimaduras graves e está internado, em coma induzido. Autarcas não escondem a revolta.

16 de agosto de 2025 às 01:30
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Carlos Dâmaso, de 42 anos, é a primeira morte dos fogos deste ano. Aconteceu esta sexta-feira, na freguesia de Vila Franca do Deão, no concelho da Guarda. Combatia o incêndio que esta sexta-feira ameaçava a terra que o viu nascer e crescer, juntamente com outros habitantes da localidade, mais oito ou nove não se sabe ao certo. Estavam todos juntos. De repente, entre as 10h30 e as 11h00, o vento virou e com ele as chamas e o fumo. Uns correram para aqui, outros para ali, com as boinas na cara para não se queimarem. Deixaram de o ver. Gritaram por ele, mas Carlos Dâmaso não respondia. Temeram pela sua vida e o pior dos cenários confirmou-se. O antigo presidente da junta, que ia candidatar-se nas próximas eleições autárquicas por um movimento independente, foi encontrado, já sem vida, por um amigo. O corpo estava carbonizado. Deixa uma filha de apenas 11 anos.

Diogo Cecílio, de 33 anos, não morreu, mas está a lutar pela vida no Hospital de Coimbra. Também defendia Vila Franca do Deão das chamas, quando foi apanhado por elas. Sofreu queimaduras graves, encontra-se internado, em coma induzido.

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Já se previa que o dia de ontem seria muito complicado e assim foi. E, desta vez, as chamas não ameaçaram aldeias, entraram mesmo. O fogo cruzou vários municípios do centro do País.

As populações, aflitas, fizeram frente ao demónio como podiam: com baldes, mangueiras, ramos, pás. Há milhares de bombeiros no terreno, mas não chegam a todo o lado. Quatro ficaram feridos em Paipenela, tendo necessidade de receber tratamento hospitalar. Dois já tiveram alta, os outros continuam internados, com queimaduras de segundo grau.

Os autarcas não escondem a revolta. Sérgio Costa, presidente da câmara da Guarda, é um deles. “Sentem-se à mesa. Deixem-se das tricas e truques políticos e façam um pacto de regime para salvar os portugueses. Estamos fartos do que está a acontecer”, disse. Também o autarca de Oliveira do Hospital se sentiu desamparado na hora de maior aflição: “Isto era o que temíamos. Acho que algo está a falhar para termos chegado a este ponto. Estivemos toda a tarde a avisar sobre esta mer...*”, disse, irritado, com a voz embargada.

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GNR reforça patrulhamento

A GNR face ao agravamento do perigo de incêndio encontra-se a reforçar o patrulhamento de visibilidade e a vigilância em área florestais e agrícolas, com o objetivo de dissuadir comportamentos negligentes e detetar situações suspeitas. Os militares procuram apurar a origem de cada ocorrência com o máximo de rigor.

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Detidos em flagrante

A GNR divulgou que deteve 42 pessoas em flagrante delito pelo crime de incêndio florestal desde o início do ano e até a última quarta-feira.

Rebarbadora provoca incêndio

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Um homem foi constituído arguido por crime de incêndio florestal, em Rebordãos (Bragança), na sequência de um incêndio a 28 de junho. Uma máquina rebarbadora, terá sido a causa da ignição, revelou GNR.

Concentração motard cancelada em Góis

A concentração motard de Góis, no interior do distrito de Coimbra, que começou na quinta-feira e deveria decorrer até domingo, foi cancelada devido aos incêndios florestais que lavram naquela região. Foi dada ordem de evacuação do recinto da concentração, onde estavam milhares de motociclistas.

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Chamas rasgam natureza ao meio em Portalegre

O incêndio de Portalegre rasgou a natureza ao meio: metade a cores, metade a negro. Chegou a ameaçar o perímetro urbano da vila, mas acabou por ser controlado. A área ardida ronda os 1300 hectares. As chamas destruíram algumas casas de segunda habitação e devolutas. O fogo afetou infraestruturas da EDP e de comunicações. Os operacionais continuam no terreno em trabalhos de rescaldo e consolidação, com equipas posicionadas nas áreas mais críticas. Várias estradas estiveram cortadas ao trânsito.

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