Combate à violência nas relações é questão de direitos humanos e por isso "missão" das escolas, defende o Governo

Quase sete em cada 10 jovens que participaram num estudo sobre violência no namoro acha legítimo o controlo ou a perseguição.

12 de fevereiro de 2021 às 18:21
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O combate à violência nas relações é uma questão de direitos humanos e, por isso mesmo, também "uma missão" das escolas, com os dados da violência no namoro hoje divulgados a revelarem uma "pandemia persistente", defendeu o Governo.

Em conferência de imprensa por via digital, organizada pela UMAR -- União de Mulheres Alternativa e Resposta a propósito do lançamento de uma nova campanha de prevenção da violência no namoro, o secretário de Estado Adjunto e da Educação, João Costa, considerou "muito preocupantes" os números hoje conhecidos e defendeu a escola como um espaço privilegiado para contrariar a "normalização da violência", que percentagens significativas de jovens consideram legítima num contexto de uma relação amorosa.

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João Costa lembrou a Constituição e o papel que atribui às escolas e à educação, para afirmar que a questão é de "respeito pelos direitos humanos" e portanto, também uma "missão das escolas", local onde os jovens, em situações de normalidade, passam grande parte do seu tempo e onde se esperam que desenvolvam pensamento crítico, capaz de questionar modelos e comportamentos a que muitas vezes estão expostos na sua própria família.

"Se não há outro 'input' a quebrar o ciclo de violência, podemos perpetuar o comportamento", defendeu o secretário de Estado, lembrando de forma crítica petições recentes que queriam retirar às escolas o papel de educar para a cidadania, defendendo que essa é uma matéria de foro familiar.

"Compete à escola criar informação e consciência. A erradicação da violência é um problema de todos", acrescentou, tendo ainda dito que nesta matéria como em muitas outras "os Governos podem fazer imenso, mas as consciências não se mudam por decreto".

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Por seu lado, a secretária de Estado para a Cidadania e a Igualdade, Rosa Monteiro, considerou "chocantes" os números hoje divulgados num estudo da UMAR relativamente à violência no namoro, que mostram a manutenção de uma tendência e confirmam que este problema é "uma pandemia persistente".

"Se nos faltassem dados, estes seriam a prova da extrema necessidade e urgência do trabalho das escolas e da disciplina de Cidadania", disse Rosa Monteiro, que manifestou uma preocupação com o que é revelado pelo discurso dos mais jovens, com estereótipos e ideias que são muitas vezes encontrados em casos de violência entre adultos que culminam em homicídios.

Manuela Tavares, da direção da UMAR, considerou preocupante a "naturalização da violência" entre os mais jovens, que reproduzem mentalidades e comportamentos, e defendeu a necessidade de "desconstruir estereótipos", desde logo através de uma maior intervenção nas escolas.

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A UMAR apresentou hoje a sua nova campanha de combate à violência no namoro, dirigida sobretudo a adolescentes e difundida nas redes sociais, denominada "Bem-me-gosta ou Mal-me-gosta?", numa alusão a uma cantilena e tradição popular associada aos malmequeres.

A campanha pretende ser, segundo a técnica da UMAR Alícia Wiedemann, "uma proposta de reflexão individual a partir de situações concretas de violência", como sejam o controlo sobre o que se veste, o controlo da presença nas redes sociais ou a violência física e psicológica.

Pretende-se ainda trazer para a campanha a temática dos ciúmes, muitas vezes usados nas relações como "legitimação e desculpabilização de comportamentos".

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Quase sete em cada 10 jovens que participaram num estudo sobre violência no namoro acha legítimo o controlo ou a perseguição na relação e quase 60% admitiu já ter sido vítima de comportamentos violentos.

Os dados são de um estudo da UMAR apresentados hoje durante um 'webinar' sobre prevenção e combate à violência no namoro, promovido pela Comissão para a Igualdade de Género (CIG), no âmbito de um programa (Arthemis+) de prevenção primária de violência de género, que envolveu 4.598 jovens de escolas de todos os distritos do continente e ilhas, dos 7.º ao 12.º anos de escolaridade.

De acordo com o estudo, cujos dados são relativos a 2020, 67% dos jovens consideram legítima a violência no namoro, dos quais 26% acham legítimo o controlo, 23% a perseguição, 19% a violência sexual, 15% a violência psicológica, 14% a violência através das redes sociais e 5% a violência física.

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