Consumo de antidepressivos duplicou em Portugal
Portugueses gastaram mais de 30 milhões de euros em psicofármacos em 2016.
O consumo de medicamentos antidepressivos duplicou entre 2013 e 2016. Segundo dados publicados no Relatório do Programa Nacional para a Saúde Mental, divulgados esta terça-feira pela Direção Geral de Saúde, os portugueses gastaram mais de 30 milhões de euros em embalagens para a depressão, ansiedade e outros problemas de saúde mental.
Em 2016 saíram das farmácias quase 11,8 milhões de embalagens, mais do dobro de 2013 (cerca de 5,6 milhões). O relatório revela que a maior parte das pessoas acedeu aos psicofármacos através de receita médica.
Por serem medicamentos com comparticipação estatal, os encargos do Serviço Nacional de Saúde cresceram mais de 6%, com os custos a ultrapassarem os 125 milhões de euros.
Em declarações à Lusa, o Bastonário da Ordem dos Psicólogos lamentou a falta de estratégia de prevenção que evite o aumento do consumo deste tipo de medicamentos. Francisco Miranda Rodrigues defende que os psicofármacos são uma "solução rápida" que apenas reduzem os sintomas, salientando a necessidade de promover os tratamentos com especialistas na área.
O estudo indica que houve uma descida no consumo de ansiolíticos e uma estagnação dos fármacos para as psicoses.
Os autores concluíram ainda que os utentes com perturbações mentais - ansiedade, depressão e demência - aumentaram ligeiramente nas unidades especializadas desde 2011.
Com estes resultados, a Direção Geral de Saúde procura estabelecer metas para melhorar o acesso dos doentes ao tratamento das perturbações psiquiátricas. O programa para a saúde mental entre 2017/18 prevê ainda a promoção de ações de combate ao estigma sobre a saúde mental nas diferentes faixas etárias.
Consumo excessivo de medicamentos
Perante os resultados do relatório do ano passado, o diretor do Programa Nacional para a Saúde Mental, Álvaro Carvalho alertou para os "níveis de risco para a saúde pública" em relação ao elevado consumo de tranquilizantes. Na altura, o especialista defendeu a diminuição da comparticipação estatal neste tipo de medicamentos.
O elevado consumo de medicamentos antidepressivos no país levou o presidente do Conselho Nacional de Saúde Mental a salientar que a "saúde mental não pode ser refém da psiquiatria". Para António Leuschner deve-se potenciar o recurso aos psicólogos como uma forma de evitar o consumo excessivo de medicamentos.
Ausência de cuidados adequados
Um terço dos doentes com perturbações mentais não recebe cuidados adequados, relevou a Ordem dos Psicólogos à Lusa.
Quase 65% de pessoas com perturbações mentais moderadas e 33,6% com perturbações graves "não recebem cuidados de saúde adequados." Perante os números, o bastonário dos Psicólogos, Francisco Miranda Rodrigues afirma que ainda existem "muitos défices na capacidade de resposta" na área da saúde mental.
O representante dos Psicólogos diz ainda que "não basta divulgar o número de consultas realizadas na área da saúde mental sem perceber o significado desse número". Para Francisco Miranda Rodrigues é necessário ter indicadores que permitam "perceber em que medida as intervenções contribuem para melhor a eficácia da saúde dos cidadãos."
Dia Mundial da Saúde Mental
A nova forma de pagamento do Serviço Nacional de Saúde (SNS) aos hospitais procura facilitar o tratamento dos doentes na comunidade e no domicílio. À Lusa, Fernando Araújo garantiu que as unidades não vão perder dinheiro e que esta alteração vai incentivar os hospitais a tratarem dos doentes sem os institucionalizar.
O secretário de Estado com a pasta da saúde garantiu ainda que Portugal tem um dos programas na área do foro mental "mais ambiciosos da Europa", sublinhando que é um "dos mais bem vistos pela Organização Mundial de Saúde."
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