Dieta mediterrânica deixa de ser a eleita
Portugueses optam por refeições mais rápidas e menos saudáveis: recorrem sobretudo a alimentos processados.
Caldeiradas, cozidos, jardineiras e ensopados são pratos típicos portugueses mas que parecem já não entusiasmar a nossa população. As refeições já não são realizadas com base em receitas da família, que se inserem na dieta mediterrânica - o regime alimentar característico do nosso País.
Os portugueses optam agora por refeições mais rápidas, mas menos saudáveis. Desde 2007 que a adesão das famílias à dieta mediterrânica tem vindo a diminuir, indica um estudo da Associação Nacional de Nutricionistas.
"Nos últimos anos tem-se verificado um desvio do padrão mediterrânico para o ocidental, onde são privilegiados os alimentos processados, com elevado teor de sal, açúcar e gorduras. Este tipo de características estão diretamente relacionadas não só com as doenças cardiovasculares, mas também com a diabetes e a obesidade", começa por explicar ao Correio da Manhã Ana Lúcia Silva, nutricionista no Hospital da Cruz Vermelha, em Lisboa.
A especialista alerta para o facto de o regime ocidental "não proteger a saúde", ao contrário da dieta típica portuguesa que está associada à prevenção de várias doenças.
Neste regime, o azeite funciona como principal fonte de gordura. É privilegiado o consumo de produtos vegetais em vez de alimentos de origem animal; o consumo de produtos hortícolas, de fruta, pão e cereais pouco refinados, leguminosas secas e frescas, e frutos secos, é também privilegiado.
A dieta mediterrânica promove ainda o consumo moderado de laticínios e a utilização de ervas aromáticas para temperar em detrimento do sal. As carnes vermelhas são consumidas ocasionalmente, ao contrário da de aves e do pescado. A água é a principal bebida, ao longo do dia, enquanto o vinho, sobretudo o tinto, é a bebida de eleição para as refeições.
"É importante percebermos que a dieta mediterrânica não se trata apenas de um regime alimentar. É um estilo de vida. Está associado à tradição e ao convívio entre famílias e amigos", salienta Ana Lúcia Silva.
"Comer a casca da fruta"
Ana Lúcia Silva, nutricionista
CM – Que tipo de ervas aromáticas aconselha para substituir o sal?
Ana Lúcia Silva – Podemos privilegiar a salsa, os coentros e também o alecrim, já que tem características anti-inflamatórias. Por outro lado, em vez do açúcar, podemos privilegiar a canela - associada à prevenção da diabetes.
- Qual a importância de comer fruta com casca?
Ana Lúcia Silva – Ao optarmos por comer a casca da fruta aumentamos o consumo de fibras, um tipo de nutrientes que o nosso corpo não absorve, mas que permite desenvolver funções fundamentais ao organismo, como limitar a absorção de gorduras.
- Há vantagens na ingestão de sumos naturais?
– Não. Mais vale uma infusão ou chá. Do ponto de vista do açúcar, o sumo natural pode ter um comportamento metabólico muito semelhante ao açucarado.
Regime tem de ser associado à prática de exercício físico
Segundo o livro ‘Dieta Mediterrânica’, da Associação Portuguesa de Nutrição, esta dieta "traz um conjunto de elementos culturais e de estilo de vida, de forma a ter hábitos saudáveis".
Entre eles, destacam-se a prática de exercício físico, o convívio, assim como a ecologia e o descanso.
PORMENORES
Regime foi reconhecido
A UNESCO reconheceu, em 2013, a dieta mediterrânica em Portugal, Espanha, Marrocos, Itália, Grécia, Chipre e Croácia, como Património Cultural Imaterial da Humanidade. É considerada a mais saudável e sustentável no Mundo.
Sopas e ensopados
As técnicas culinárias usadas na dieta mediterrânica são simples. Na base do regime estão as sopas, os ensopados, as caldeiradas e os cozidos. São pratos com muita cor e saborosos.
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