Diretores do Hospital de Gaia admitem demitir-se face a más condições

"Este hospital está a definhar", afirmou o bastonário da Ordem dos Médicos, Miguel Guimarães.

27 de março de 2018 às 15:45
Centro Hospitalar de Vila Nova de Gaia/Espinho Foto: Centro Hospitalar de Vila Nova de Gaia/Espinho
Hospital de Vila Nova de Gaia Foto: Catarina Lima
Hospital Eduardo Santos Silva, Vila Nova de Gaia Foto: Eduardo Martins

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O bastonário da Ordem dos Médicos, Miguel Guimarães, disse esta terça-feira que todos os diretores de serviço do Centro Hospitalar de Vila Nova de Gaia/Espinho (CHVNG/E) estão dispostos a demitir-se se "a situação caótica se mantiver".

Miguel Guimarães visitou o hospital de Gaia e reuniu-se com os 37 diretores de serviços e unidades de gestão integrada para se "inteirar dos problemas existentes" nesta unidade hospitalar.

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"[Existem] condições caóticas. O Serviço de Urgência parece um cenário de guerra com macas por todo o corredor. Quase é impossível circular (...). Este hospital está a definhar. As prioridades são a melhoria das infraestruturas e dotar o hospital com os recursos humanos necessários", afirmou o bastonário da Ordem dos Médicos, referindo que foi decidido enviar uma carta e solicitar uma reunião "urgente" ao ministro da Saúde.

Miguel Guimarães desafiou os ministros da Saúde e das Finanças a visitarem este hospital para perceberem, disse o responsável, que "doentes e profissionais vivem em condições que não lembram a ninguém".

"Os médicos e a Ordem dos Médicos estão indignados com o que está a acontecer e, na salvaguarda da segurança clínica e da qualidade da medicina que devem existir, todos os diretores de serviço e de departamento estão na disposição de apresentar a sua demissão, se nada for feito", salientou o bastonário.

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O responsável descreveu vários cenários encontrados na visita de hoje e relatados pelos profissionais do CHVNG/E, como a existência de uma enfermaria com 36 doentes que tem apoio de "apenas duas casas de banho que não estão inteiramente funcionais", sintetizando: "Há muitos serviços que não estão a funcionar em condições adequadas".

Miguel Guimarães prometeu levar o caso à Assembleia da República e falar dele "todos os dias" porque, conforme descreveu, "as pessoas estão numa fase de exaustão que ultrapassa o razoável".

"O Serviço de Urgência é prioritário. Vimos 22 doentes internados em macas quando neste hospital existem 19 camas de internamento que estão fechadas. As condições de trabalho não são dignas. Tem havido cirurgias adiadas. Não há radiologista a partir da meia-noite. Há equipamentos fora do prazo", observou Miguel Guimarães.

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Já em resposta a estas críticas, o presidente do conselho de administração do CHVNG/E, António Dias Alves, que tomou posse em abril do ano passado, garantiu que neste hospital se "pratica boa medicina por pessoas que se esforçam" e avançou que vai "ouvir e dialogar com os profissionais".

"Vamos ouvi-los, dialogar e perceber as razões em consonância com a tutela porque pretendemos o melhor para o hospital", referiu António Dias Alves.

Perante a insistência dos jornalistas sobre se está preocupado com a ameaça de demissão dos diretores de serviço, o presidente do conselho de administração respondeu: "Nós estamos todos preocupados e queremos todos o melhor do hospital".

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António Dias Alves explicou que o Serviço de Urgência tem um número de atendimentos "muito avultado correspondente a doentes não urgentes". Nessa circunstância, "não é possível fazer um trabalho excelente".

O responsável também descreveu os projetos em curso como a implementação de uma "ideia inovadora de atendimento na Urgência" e revelou que quinta-feira serão abertas as propostas para a fase B de obras de reabilitação e ampliação do hospital, a qual, ficará pronta em nove meses, assegurou.

"A nova urgência geral aumenta a área para o dobro. A urgência pediátrica aumenta para o triplo. Daqui a nove meses fica pronto. Também estão previstos sistemas de gestão e equipamentos ao nível do melhor que há (...). Os diretores de serviço foram envolvidos no desenho desta estratégia", disse o presidente, acrescentando ter expectativa de que o ministro da saúde visite brevemente o hospital para "dar muito boas notícias a Gaia".

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Serviço de Sangue do Hospital de Gaia aguarda obras desde 2011

"Mais importante do que o número de dádivas diárias é criar uma estabilidade e a fidelização de dadores. Fazer obras no espaço é algo ambicionado há muitos anos. Existe um projeto de 2011 que não avançou", indicou, no dia em que se assinala o Dia Nacional do Dador de Sangue, o diretor de serviço, Manuel Figueiredo.

Aumentar o número de locais para a dádiva e melhorar o espaço atual são os pedidos do Serviço de Sangue do CHVNG/E que foi autossuficiente até 2007, mas agora não tem capacidade total para fazer face às suas necessidades.

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A agência Lusa procurou obter dados sobre investimentos futuros nesta área junto do conselho de administração do CHVNG/E, tendo fonte ligada à direção apontado que está projetada a construção de um novo edifício de ambulatório que vai acolher o Serviço de Hematologia e consequentemente o Serviço de Sangue.

No entanto a mesma fonte não precisou prazos nem datas sobre este projeto.

"Estamos numa fase inicial, mas é certo que o projeto inclui a partilha de espaço entre vários serviços, dotando o espaço de muito mais qualidade e equipamentos", indicou o CHVNG/E.

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Atualmente, o Serviço de Sangue do hospital Gaia/Espinho não atinge o nível de autossuficiência desejado, pelo que o sangue que venha a ser necessário e que não exista em 'stock' neste centro hospitalar é pedido ao Instituto Português do Sangue e da Transplantação.

"Apelamos a que doem sangue ao seu hospital. Apelamos aos gaienses. Mas, infelizmente, há muitas pessoas que não sabem que podem dar sangue aqui", referiu Manuel Figueiredo, enquanto acompanhava o presidente da câmara de Vila Nova de Gaia, Eduardo Vítor Rodrigues, que esta manhã foi doar sangue.

Em declarações aos jornalistas, o autarca explicou o gesto como "uma forma de dar o exemplo" e avançou que a autarquia vai a partir desta terça-feira dar uma manhã ou uma tarde aos funcionários que queiram dar sangue e necessitem de maior disponibilidade para o fazer.

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"Basta que comprovem que a dispensa teve este objetivo. Num universo de 2.600 funcionários, temos esperança que a mensagem alcance o maior número possível e muitos se tornem dadores", referiu Eduardo Vítor Rodrigues.

O serviço de dádivas de sangue do CHVNG/E tem estacionamento gratuito, está localizado à entrada do portão de acesso à urgência e o horário de funcionamento estende-se de segunda a sexta-feira, das 08h30 às 18h30, enquanto aos sábados funciona até às 13h30.

Os dadores têm acesso aos resultados das suas análises e ficam sempre a saber quando é que o seu sangue é utilizado.

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